O Dunga era aquilo a que se chama um cão traiçoeiro. Ele mordia.
Encontrámo-lo a morrer no meio do lixo, com sarna e febre, cheio de fome e sede. Depois de muito amor, fisioterapia e medicação, o Dunga ficou bem mas não ficou bom. Ele apaixonou-se perdidamente por mim e eu por ele. Isso não o impediu de me fazer uma tatuagem no braço e duas nas pernas.
Dentro do Dunga havia um cancro que crescia e o devorava. O Dunga não sabia, nem nós. Mas às vezes ele sentia ódio do mundo e da vida e eu acho que era por causa do cancro. Atacava as pessoas na rua, mesmo com o açaime. Eu não passeava um cão, passeava um corta-relva descontrolado.
Felizmente nunca arranjei solução (o que fazer com o Dunga, já que ninguém o queria, para além de mim) para o nosso problema, o cancro tratou do resto. Assim, foi a morte que nos uniu e que nos separou.
O Dunga adorava morangos. Chegava-se aos vasos, metia um morango na boca e começava a puxar, a puxar, até que tuc, o arrancava e mastigava. Também adorava meter-se dentro da minha mala de ir para o Porto. Não suportava ficar sem mim. Dormíamos de mão dada, para que ele não subisse para a cama. Acordava sempre com ele a olhar para mim, calado e concentradíssimo nos meus olhos. Assim que os abria ele dava início ao seu espectáculo de cambalhotas em cima da cama.
Depois faço mais desenhos. Tenho demasiados na minha cabeça. O Dunga a dormir, o Dunga vestido de minhota, o Dunga a fugir-me na hora de entrar no carro... todos disparatados. Também tenho outros muito tristes.
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3 comentários:
Cãozinho sortudo, o Dunga!
Adoro os desenhos de hoje, são lindos...
Rita
Na 2ª e 3ª estive em Viana (por motivos tristes) e pensei se falaria contigo caso nos cruzássemos.
O Dunga era um cão mt especial e cheio de sorte por ter alguém como tu. Eu como tia n tenho razão de queixa dele, sempre foi amoroso e carinhoso. Mas n me vou esquecer do curativo que te fiz...Beijocas. Nhocas
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