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29 de junho de 2013

minha avó

Durante a última semana desejei poder transferir o Dioguinho para a barriga do pai, trocar o meu corpo de 31 anos pelo teu de 87 e passar por tantas camas de hospital, anestesias gerais e cirurgias quanto fosse preciso, só para te poupar à confusão, ao medo e aos riscos que as doenças e os tratamentos implicam. Felizmente já passou.

20 de março de 2013

avó



Tu, que te esqueces que vais ser bisavó em menos de dois minutos. Não faz mal. Tu estás em mim mais do que nunca, no meu coração e no meu útero.


"Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é."

11 de janeiro de 2012

onze de janeiro de dois mil e doze

Choro baba e ranho de saudades da minha avó.

30 de maio de 2011

Acredito cada vez mais que o que nos define enquanto individuos não requer esforço algum. Não é preciso contar anos de vida, dinheiro, conquistas, memórias. Não é preciso sequer autoconsciência.
A minha avó está a perder a memória. O que começou por ser engraçado, agora é assustador para ela e para nós. O que ela foi, o que ela conquistou, a sua vida e memórias vão-se esfumando. A minha avó desaparece em si própria. Faço-lhe perguntas sobre histórias que ela própria me contou e vejo-a pensar, fuçar no meio do pó da sua mente, angustiada e confusa, até encontrar a resposta.
No dia em que cheguei a Londres com a vida resumida a vinte quilos de mala e me vi numa multidão de 10 milhões de habitantes, comecei a pensar diariamente no que me define. O que é que me define, o que é que me distingue dos milhares de pessoas que também todos os dias chegam aqui com vinte quilos de vida numa mala. Quando retirada do contexto habitual, das minhas pessoas, dos meus objectos, só eu e a minha mente, fico a sós comigo mesma e observo-me com uma nitidez impressionante. Apercebo-me que sou um emaranhado de todas as marcas que me foram feitas por outras pessoas. Sou um emaranhado de gente. Surpreendentemente não me vejo a mim, vejo todos os que por mim passaram e em mim vivem. Sei hoje que a minha avó não é a velhinha confusa que fala comigo no Skype e pergunta a cada minuto se eu estou em Londres. Todos os dias. Todos os dias sou a minha avó. Tudo o que ela já nem se lembra que foi surge em mim em gestos e em expressões que teimosamente vêm ao de cima e dos quais só me apercebo quando já é tarde. E encho-me de amor e vida e esperança, porque sei que a minha avó nunca vai morrer. Está mais viva que nunca, à medida que eu envelheço.
Não sou as minhas convicções, as minhas ideias, os meus projectos, muito menos sou o que gostaria de ser. Sou o que faço aos outros, o que digo aos outros, o que marco de bom e de mau nas minhas pessoas, nas pessoas com quem contacto. Resta-me esperar até me ver definida.


9 de junho de 2010

a minha avó desmemoriada

Pergunta mil vezes as mesmas coisas. Como se chama o meu namorado, se é português, se eu durmo com ele. A minha avó só se lembra do essencial. Que eu sou a Natacha e que em 90% das vezes estou a gozar com ela. "Eu cá não durmo com ninguém, sou uma mulher séria!" - respondo-lhe.

A minha avó é apaixonada pelo Rui Veloso e já foi falar com ele para lhe pedir um autógrafo. Quando lhe digo que o meu namorado mandou beijos para ela, responde "Quem é esse?" mas se lhe ponho esta música ela sabe a letra todinha. E canta!

14 de outubro de 2009

o melhor do mundo são os velhinhos

Avó e neta, mais uma vez à mesa. Mais uma vez pedem anonimato. E a gente respeita.

- Vais fazer 28 anos não é?
- Sim...
- Eu com 28 anos já era casada e estava grávida.
- Olha que bem.
- E tu nem namorado tens.
- Que desprezo é esse no teu tom de voz?!
- Não é desprezo! É pena...
- Devias era preocupar-te com a minha felicidade, isso sim. Perguntar-me se sou feliz.
- E és feliz? Sem namorado?!
- Claro que sou!
- ...
- ...

10 de agosto de 2009

parece mentira mas é verdadeiro

Avó e neta à mesa. Avó vê muito mal e não pesca nada de inglês, então a neta lê-lhe as legendas do programa da Oprah.
Para preservar a verdadeira identidade das envolvidas, chamemos-lhes Nat e Binhas.

Nat (solteira há quase um ano mas isso agora não interessa nada): Blá blá blá blá oprah oprah oprah, blá blá blá blá espiritualidade oprah blá blá...
Binhas: ...
Nat (puxa pela voz e pelos pulmões e consegue ler as legendas a alta velocidade com uma dicção quase perfeita por amor à sua avó que é surda dum ouvido): Blá blá blá a essência da vida oprah oprah oprah blá blá blá dádiva de Deus blá blá blá blá lições de coragem blá blá blá blá o bem-estar e o amor próprio blá blá...
Binhas: Nat, quantos anos tens?
Nat: ... blá blá opr... Outra vez? Já ontem me perguntaste.
Binhas: Mas não me lembro. Diz-me...
Nat: Pensa. Faz as contas.
Binhas: Vinte e sete?
Nat: Sim. Não estavas a ouvir-me a ler?
Binhas: Estava... Tu não arranjas um namorado? Para casares.
Nat (de volta à Oprah, agora em silêncio para conter o riso porque a sua avó acaba de lhe lembrar o Bruno Aleixo): ...
Binhas (murmura): Eu com vinte e sete anos já era casada. Com vinte e oito tive a tua mãe.
Nat: ...
Binhas: Será que vais ficar solteira para sempre?
Nat: ...
Binhas: ...
Nat: ...
Binhas: Logo jantas cá?
Nat: Não.
Binhas: Oh porquê?!! Oh...
Nat: Binhas, como é que queres que arranje um namorado se passar a vida aqui fechada contigo? Achas que vou dar de caras com um aqui, vindo do nada?!
Binhas: Anda jantar connosco... por que não vens?
Nat: Vou à caça de um namorado!
Binhas: Oh anda...vai caçar à tarde.

18 de janeiro de 2008

a minha memória é um parque de diversões

Divirto-me a lembrar de coisas tontas.
Quando éramos pequenos íamos para a casa da nossa avó. Ela deixava-nos brincar com tudo mas nunca correr pela casa nem gritar, porque tinha umas vizinhas insuportáveis, más, más, más. Eram As Velhas De Baixo.

E agora estou a rir-me porque sei que o meu irmão, a minha primi e a minha teia se estão a rir também.

21 de setembro de 2007

binhas binhas

A minha avó - sobre quem escrevi afundada em baba e ranho há uns meses - dava uma comédia. (Se alguém pensa que eu estou prestes a explorar a velhice duma senhora de 82 anos, acertou em cheio.)
A Binhas é um dos meus ídolos. Primeiro porque garantiu uma grande parte do meu mau feitio e segundo porque foi dela que herdei a mania de dar a opinião, a falta de vergonha na cara e a capacidade de envergonhar pessoas em público. Mas a minha avó é, de longe, muito mais cómica que eu. E ela não se esforça.

Muitos dos grandes ataques de riso da minha vida foram proporcionados pela Binhas. Minha avó, perdoa-me, que nem sabes o que é um blog.

A Binhas tem um bloquinho onde escreve tudo tudo tudo. Números de telefone, de telemóveis, datas de aniversários, crítica de cinema, anedotas e poemas. O bloco já está a decompor-se e por isso ela guarda-o dentro dum saquinho da farmácia e enrolado numa borracha. Um dia, emocionada, escreveu a letra do "Sozinho" que ouviu pela voz do Caetano Veloso e cuja melodia esqueceu por completo. Então hoje o "Sozinho" é um poema e a Binhas recita-o.
Há dois anos eu ainda morava com os meus pais e tinha comigo a minha querida amiga Raquel a passar férias. Foi num dia à noite, em que eu estava a cortar tomate para o jantar, que a minha avó apanhou a Raquel a jeito e lhe mostrou o seu bloquinho. Eu bem avisei que estava para chegar o "Sozinho" mas isso não mudou nada.
A Binhas pôs-se de costas para a Raquel por precisar de luz directa no bloco. E começou:

"Às vezes, no silêncio da noite, eu fico imaginando você." - eu começo a rir-me às gargalhadas. Ela continua: "Eu fico aqui, sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois" - a Raquel quer rir-se mas engole. Eu rio-me cada vez mais e já não consigo cortar tomate nenhum. E eis que a Binhas faz um belo tom de interrogação, não fosse ela professora primária: "Por que você me deixa tão solto???... - e eu caio para cima da banca enquanto a Raquel treme e chora desesperada lágrimas de riso.

"Cala-te ó! Estás a rir-te de quê? Deixa-me ler!" - diz a Binhas, e continua: "... por que você não cola em mim? Estou me sentindo muito sozinho..."

Infelizmente tive de interromper o recital, por piedade da minha amiga, não fosse a minha avó começar a cantar "Eu não sei que tenho em Évoraaaaaaaaaa..."

3 de março de 2007

melhor, mas com muita tosse


Contei-lhe dos morangos e do pires, das teias de aranha e das bolachas maria. Riu-se muito. "Bons tempos..."

2 de março de 2007

binhas


A minha avó. Detesta o nome que tem e por isso é Bibinha. Uma mulher de armas, que sofreu tanto e já esqueceu muita coisa. A única avó que tenho, apaixonada por homens famosos que deseja beijar (palavras dela), tem 81 anos e pinta os olhos. Usou calças, teve leitor de VHS e telemóvel primeiro que qualquer mulher da idade dela. Tem pena que o Freddie Mercury fosse gay e adora broa, como eu.
A Binhas apanhou uma gripe e de repente ficou muito pequenina, quando a vi a tremer de febre. Veio-me à cabeça o tempo em que eu era mais baixa do que ela e ela tomava conta de nós. Dava-nos bolachas maria com manteiga, punha-nos a ver desenhos animados e deixava-nos brincar com toda a quinquilharia da casa. Comia morangos com açúcar e no fim lambia o pires. Dormíamos juntas e ela contava histórias, víamos as teias de aranha no tecto, cantava para mim e passava a noite toda a cobrir-me para eu nunca apanhar frio. Fazia bife com batatas (fritas ou cozidas) e nunca me esquecerei do arroz dela. Agora, como é uma mulher moderna, aquece as coisas congeladas no microondas e pronto.
A minha avó ficou pequenina e tão frágil, com febre e tosse e eu lembrei-me do Alberto Caeiro com vontade de chorar.


"Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é."

(O Guardador de Rebanhos)