19 de março de 2007

boa acção

Quando fui ao Brasil levei uns óculos de sol que a minha Mãe, a minha Teia e a minha Binhas me ofereceram. Uns óculos caros como nunca mais terei, porque perco tudo e deixo tudo o que é frágil cair, com a parte mais frágil virada para baixo. Então agora só compro óculos foleiros dos saldos, perfeitos para mim.
Ora no Brasil, tudo foi maravilhoso, excepto ter deixado os meus óculos-de-sol-super-caros na caixa do papel higiénico da casa de banho de um restaurante. Quando voltei lá, uns 40 minutos depois, nem óculos nem nada. Fiquei possuída pela cólera. O funcionário do restaurante com quem falei disse que nunca mais voltaria a vê-los. Disse-o com tanta naturalidade, olhando para mim como quem diz "tu não és mesmo daqui".
Ainda hoje sinto raiva da ladra-mijona que comeu no mesmo restaurante que eu, comeu a mesma comida que eu, usou a mesma sanita que eu e provavelmente se cruzou comigo.

Já em Portugal, perdida com o Bruno à procura de Miramar (!!!), encontrámos um telemóvel no chão. Estava desligado mas pertencia a um cromo igual ao meu pai (feliz dia, Papá!) que lhe colou uma etiqueta com o próprio número. Foi assim que eu decidi que devolveria o telemóvel ao seu dono, com a ladra-mijona em mente. Foi uma loucura, pois consegui arranjar o número de telefone fixo do Sr. Avelino mas ele nunca estava em casa. Ao fim de uma semana desisti. Mas guardei sempre o telemóvel comigo e protegi-o dos gulosos que mo pediam ("Oh vá lá, dá-me mesmo jeito! O homem já comprou outro!") como se se tratasse dos meus oculinhos na mão da ladra-mijona.
Muito tempo depois, decidi ligar para o número da etiqueta, não tivesse o Sr. Avelino arranjado uma segunda via do cartão. E arranjou. E o seu novo telemóvel tocou e ele atendeu.
"- Está?
- Bom dia, Sr. Avelino?
- Não menina, deve ser engano.

pausa

- Não se chama Avelino (e o apelido)?!
- Não menina, deve ser engano.
- O SENHOR NÃO PERDEU UM TELEMÓVEL EM MIRAMAR!!!?

pausa

- C'um canudo! Perdi!!!
- EU ENCONTREI-O!!!
- Ah!... C'um canudo! Ó menina eu já lhe volto a ligar.

- Está?
- Menina Natacha... blá blá blá... muito obrigado!"

O Sr. Avelino era o patrão, dono da empresa para onde eu ligava e ninguém atendia. O senhor em causa, cujo nome e morada eu perdi :( era o funcionário. Enviei-lhe o telemóvel por correio verde e ficámos amiguinhos e muito cúmplices, depois de eu lhe ter contado a história da ladra-mijona. Ele disse que já não havia pessoas como eu e eu fiquei triste.
Ainda no Brasil, depois do episódio a que chamei roubo e fui condenada por isso, estava num aquaparque e encontrei uns óculos de sol pousados num banco. Fiquei a dormitar no banco ao lado e vi o tucano a voar :') Momentos depois chega a dona dos óculos. "Nossa! Nem acredito que ainda estão aqui!"

Penso muitas vezes nisto. Em porque é que pensamos tão pouco nos outros. Acho que é da nossa natureza. Eu mesma, uma vez, ao cruzar-me com um carro sabendo que lhe passaria uma tangente (por minha culpa), bati com o meu retrovisor no dele e não parei. Depois de uns 10 metros vejo-o a fazer inversão de marcha para me perseguir e mesmo assim não parei para pedir desculpa. Imaginei um gorila a sair do carro pronto para me bater e decidi fugir! Como não sei rezar, pedi muitas desculpas ao Universo e ao dono do carro, e prometi que nunca mais passaria tangentes nem fugiria depois de bater em carro alheio e implorei para que ele se esquecesse do único carro verde água de Viana City...

5 comentários:

Unknown disse...

Olá Natacha!

Também eu, há muito pouco tempo atrás, deixei os meus óculos de sol super caros e lindos deitados numa cama do IKEA, enquanto a experimentávamos... Assim que saí dei-me conta disso e voltei atrás... nem sombra dos meus companheiros, ainda nem meia hora tinha passado, nem na dita cama, nem na dita secção, nem com os funciónários, nem na zona dos perdidos e achados... Que raiva sinto de cada vez que penso nisso! Eu não ficaria com algo que não fosse meu se pudesse devolver... Mas não somos as únicas!
O meu companheiro estava uma vez atrás de um senhor a levantar dinheiro numa caixa multibanco. Quando reparou, o senhor tinha levado o cartão mas deixado o dinheiro e o talão. O meu rapaz não descansou enquanto não conseguiu encontrar o dito senhor (através de alguns conhecimentos e de conhecimentos desses conhecimentos) pelo talão... e devolveu-lhe os euros, numa quantia que já não recordo, diante dos olhos esbugalhados de um homem que nunca pensou que pudesse haver alguém que não quisesse ficar com dinheiro que não fosse seu!
Beijinhos, Rita

Anónimo disse...

Eu já perdi os meus óculos (também super caros que comprei com o dinheirinho do IRS ) numa casa de banho pública e a verdade é que quem os encontrou entregou ao segurança do prédio em questão.
Não sei se foi por estarmos em época Natalícia, a verdade é que uma alma boa foi caridosa!

Ainda existem boas pessoas, cada vez mais raro, mas ainda se encontram.
Beijinhos. O teu trabalho é fabuloso, como já tinha dito.

Beijinhos

BrU disse...

Ainda bem que gozas com o teu próprio carro.
...
Caraças.
A mamã já ficou amuada comigo uma vez porque preferi ir a pé a ser visto na alface gigante.
Ahah!

rosinha_dos_limoes disse...

É triste ... a mim já me disseram "mas se os outros fazem porque não hás-de fazer também" ... os outros que fiquem lá com a consciencia deles como quiserem ... eu quero a minha sossegadinha ;o)
(também tenho um verde-alface :op)

Anónimo disse...

Ok. Todo mundo já falou e entendeu a mensagem da tua história. Realmente é de dar raiva nessas situações, principalmente ao pensar que quem levou NÃO PRECISA de tal coisa..
Mas me lembrou de um rapaz que chegou afoito no quiosque a perguntar à senhora: "Olhe, não encontrou uns óculos assim, daqueles "doce e garbana"? A senhora: "Não, aqui não ficou, não vi nada.." Ele: "Eh pá... me custaram mais de 40 contos, os "doce e garbana" pá..!