29 de maio de 2008

malas feitas

Estou em preparativos para descer outra vez até meio do país. Lista do material, mala pesadona, roupa para uns dias. Pouco tempo para cafés... perdoem-me, amigos de Lisboa (Sofia não me ralhes môri...). Quando deixar de ter compromissos em Viana e puder ficar aí mais tempo, a conversa será outra.

Os meninos do desenho (que será entregue em mãos) são os dois irmãos a quem vou pintar o quarto! Os filhos da querida Ana.
Enquanto dou corda aos sapatos, o meu coração fervilha de ansiedade para ir saltar até não aguentar mais com a mi primi e a Sari, no meio da quase-toda-comunidade-brasileira-de-Lisboa, ao som de quem? Ahahahahahahaha nem acredito! PUEEEEEEEEEEEEEEEERAAAAAAAAAA!
Noventa mil pessoas, miã gentchi... Obrigada pela prenda minha Teia tititeia. Mais próximo disto, só eu, a Nhocas e o meu pai (coitadinho coitadinho coitadinho) no concerto da Daniela Mercury, há mais de dez anos.
Até já!

28 de maio de 2008

de óculos na cara:

... todos os prédios do outro lado do rio têm janelas.


Se soubessem, queridos leitores, como é bom ler os vossos comentários... passo muitas horas sozinha, muitas, tanto tempo a desenhar ou a preparar desenhos. Às vezes falta-me gente, apesar de eu adorar estar sozinha. Estar sozinho é bom quando se quer estar sozinho. Ando tão lamechas, mas não posso dizê-lo aqui, que vem logo a brigada da gravidez para me fazer rir um bocadinho. Ihihihih... repararam neste tom de cinza? Consigo vê-lo!!!

27 de maio de 2008

óculos de ver

Sempre que digo os óculos de ver, alguém se ri. Podia ser macacada minha mas a verdade é que aprendi assim. Os óculos de sol e os óculos de ver. Hoje fui buscar os meus óculos de ver. O oculista pôs-mos na cara, delicado, e eu vi logo por cima do ombro dele, através da montra da loja, o último prédio ao fundo. "Ai que já vejo o prédio ali ao fundo!" Aí riram-se mas era graçola mesmo. Quando saí à rua não podia acreditar no que tenho andado a perder. Tenho visto o mundo numa fotografia. Bidimensional, focado apenas no primeiro plano, desfocado no segundo e esbatido daí em diante. Não consegui conter a alegria de ver as pessoas e casas e carros a três dimensões, tanto a um metro como a cem. Ri-me sozinha rua fora. Passei na Avenida e quando espreitei a Rua Manuel Espregueira, vi-a toda até lá ao fundo. Podia jurar que vi o Largo de São Domingos. Vi tudo e ri e ri. Tudo nítido e sem esforço, tudo!

Olha, vejo esta senhora e aquela e as duas ao mesmo tempo! Foco as duas ao mesmo tempo, foco a rua, a casa e os carros, até parece que ouço melhor! Oh até ouço a música do Matrix! Pára tudo e eu sou rápida a ver em redor de tudo e tudo. Para que é que me estou a rir? Vou ser falada em Viana City...

25 de maio de 2008

estreia a etiqueta desabafos:

Quando eu era pequena, o pão caído ao chão no meio das correrias desinfectava-se com um beijinho e ficava pronto a comer novamente. Eu cresci na rua. Roubei fruta aos vizinhos e comi-a sem lavar. Andei descalça na estrada e no passeio. Mastiguei ervas e flores. Deitei-me no chão. A cara no chão, o cabelo no chão. Dei beijos aos cães. E não morri disso.

24 de maio de 2008

a minha memória

A minha memória vive de cheiros e de sabores.
Quando eu era pequenina ia para a natação com a escola. Detestava o monitor e lembro-me de chorar muito muito muito antes de ir. Ele era bruto e uma vez atirou-me muita água para a cara, de propósito. Levei aquilo muito a mal.
Enquanto lá andei à força, não consegui aprender nada, a não ser que sou mesmo euzinha desde pequena: à força não faço nada. Quase fiquei traumatizada com a natação. Felizmente um dia o tormento acabou. Numas férias decidi que aprenderia a nadar sozinha. E aprendi. Bruços. Depois mergulhos, com óculos. Depois o meu irmão deu-me umas noções de crawl. Um dia fui para a natação com o meu pai. Depois com a Di e com a Raqui. Tínhamos treze anos. (Nunca me vou esquecer de como eu e a Di nos deliciávamos a encher toucas com água gelada e a atirá-las para dentro do duche onde a Raqui tomava banho... os gritos dela deviam ouvir-se em todo o edifício...)

O cheiro do cloro ficou-me para sempre na memória. As imagens do cloro. Nos tais dias terríveis da piscina com a escola primária, a minha mãe enviava-me um pão de leite (daqueles que têm uma tira de doce de ovos por cima) com manteiga, para comer depois da aula. Acabada a tortura, aquele pão afagava-me o coração, mais que o estômago.
Ainda hoje, se acontecer de comer um pão de leite com manteiga, parece que sabe a cloro.

post antigo

Ao fundo do corredor havia luz. Números de capelas e azulejos. Entrei com a minha mãe e havia tanta gente, apesar de já ser de noite e tarde. Nunca tinha ido a um velório. O caixão pareceu-me pequeno e não consegui imaginar ninguém lá dentro. Eu acredito que o espírito voa, livre. Foi então que olhei para ela, para os olhos dela. O meu coração começou a saltar como se vivesse sozinho dentro das minhas costelas, sem órgãos vizinhos. Não me saiu uma palavra da boca. O que dizer? Só me apetecia chorar muito. Não há dor como a da alma. Não há. Senti-me ridícula na minha crise existencial de quem está só exausto de tanto pensar em coisas parvas.

Bem leve leve, releve,
Quem pouse a pele em cima de madeira
Beira beira, quem dera, mera mera, cadeira

23 de maio de 2008

para o joão

Voltei. Continuo cansada. Fui a Lisboa e voltei. Fui trabalhar feita escrava de mim mesma. Houve um dia em que pintei durante treze horas. No dia seguinte as dores iam-me dos dedos mindinhos até ao céu da boca. A exaustão mostra-me como o corpo humano é fascinante. O meu corpo dá-me todos os sinais de que devo parar. Só a teimosia é que ainda aqui permanece.



Pintei esta bola tipo trompe l'oeil para o meu priminho (já não tão inho) pequeno (já quase mais alto que eu). Ficou mesmo gira. Gosto tanto de pintar. Mas quem me dera ter férias...

16 de maio de 2008

gatinhos nos bolsos



Para a mi primi, que está quase a acabar o curso de veterinária. Parabéns Rité mi primi pequeni.


Lembro-me do Patim no meu bolso... tão bebé. Gosto tanto de animais bebés. Ontem conversei com os galos da casa dos meus pais. Tão grandes e gordos. Hão-de morrer de velhos e nesse dia a vizinhança vai respirar de alívio. Imagino-os pintainhos e enternecem-me. Falo com eles Os pipis pipiiiiiiis olha os pipis pipiiiiiiis e eles olham-me nos olhos, incrédulos e comentam baixinho como eu sou ridícula.
:)

14 de maio de 2008

valha-me o chocolate


Estou aqui. Desgastada. Hoje acordei com dores. Eu que normalmente acordo num salto e que de poucos minutos preciso para começar a cantar. Acordei como quem não quer acordar. É horrível, porque tento dormir mas não consigo, estou de olhos fechados e as listas mentais começam a redigir-se sozinhas. Esta minha cabeça. Estou tão cansada... Sou de facto uma optimista. Sou mesmo. Podia ser o que estou hoje, todos os dias. Mas não sou. Sou feliz. Estou só muito cansada.
Fui fazer uma pintura que só poderei revelar daqui a uns tempos. Fica aqui uma espreitadela. Tomei dois comprimidos para o enjoo que me deixaram o cérebro dormente. Tantas vezes desejo que esta cabeça pare e quando pára, desespero. Não há remédio para mim. Vale-me a vontade de rir e o chocolate que me faz festinhas na alma.

9 de maio de 2008

alguém me salve de mim mesma

Preciso de férias, está visto. Desejo desesperadamente uma praia, um hotel, comida e nada que fazer.
Hoje sonhei que estava num planeta deserto com a Nhocas e os Jackson Five. Havia um laguinho mínimo ao qual eu queria tirar uma fotografia. Estava aflita com qualquer coisa e havia insectos extra-terrestres (incluindo uma joaninha) grandes e reluzentes que pareciam robôs. Alguns voavam e outros rolavam no chão. Tudo areia seca. Só o laguinho. E nós as duas a tomar conta do Michael e do Randy, vestidos como neste vídeo:



Juro que procurei o vídeo sem legendas mas parece que até o youtube se quer rir de mim.

7 de maio de 2008

a minha aranhinha inha inha

Apanha sol logo de manhã. Apanha sol o dia todo. É tão pequenina e tão independente. Fez esta teia incrível entre dois cactos, vizinhos em vasos diferentes. Quem me dera tê-la visto a fazê-la. Por onde terá começado? Aposto que percorreu todos os cactos do parapeito, chegou a estes e pensou "É aqui!".
Eu quando era pequenina brincava com plantas pequeninas, com pauzinhos e sementes e imaginava-me muito pequenina a usar folhas como camas, etc. Tudo inho. E isso fazia-me muito feliz. Não é de admirar que uma aranha de dois milímetros me fascine. Olho para ela e penso na sua vida. Tão pequenina, não tem companhia e só apanha sol. Não sei o que come, nem se sai da teia, mas morena, deve estar com certeza.

6 de maio de 2008

os anos voam

Em 1996 ainda éramos tão pequeninas... tentei arranjar uma fotografia decente das cinco mas são todas comprometedoras. Aqui estamos eu, a Babá e a Di.

Há um ano comíamos-lhe os pés com beijos.
Parabéns...


Pontos a ressaltar: nem eu nem o Francisco sabíamos, nos momentos em que as fotografias foram tiradas, que as nossas pernas haviam de triplicar de grossura.
Apenas um de nós ficou favorecido.

4 de maio de 2008

dentro de mim

Às vezes acho que só estaria realmente bem se me escondesse dentro de mim. Nas minhas coisas. O meu mar de coisas baralhadas onde só eu sei nadar, entre pirolitos e remoinhos.
Deve haver um nome técnico para o que eu sou. Para o funcionamento do meu interior. As coisas fluem numa total correria, atropelam-se mas fluem. Penso numa coisa que leva a outra que leva a outra e tento fazê-las todas ao mesmo tempo mas é impossível acompanhar-me a mim própria e às coisas que me ocorrem.

Tenho uma aranha de estimação agora. Vive entre dois cactos, fez a sua teia e eu imagino como será o dia-a-dia dela. Mede cerca de dois milímetros. Está sempre no meio da teia. O que será que come? Será que dorme? Será que me vê? Vou fazer uma história com ela, tão linda a viver na cidade dos cactos. Oh Nat santa paciência, até parece que não tens mais que fazer.

2 de maio de 2008

sempre na mesma direcção

Ontem, enquanto ajudava duas alunas a desenhar a lápis de cor e marcadores um par de canecas, elas contavam-me o que os professores lhes ensinaram na escola. Uma tem menos dez anos que eu, a outra tem mais trinta. "Riscar sempre na mesma direcção!"
Dão-me luta. Não elas, que são uns amores, mas os preconceitos que lhes enfia(ra)m nas mentes. Exorcizo-as e rimo-nos muito. De cada vez que a L se queixava de não conseguir, eu fingia chicotear o seu professor (que além de tudo, batia muito nos alunos) que imaginávamos nu, de castigo, virado para a parede da minha sala a riscar em todas as direcções. À F disse-lhe que na próxima vez que a sua professora de Educação Visual lhe dissesse que é sempre na mesma direcção, ela respondesse que sim, é sempre na mesma direcção: a que eu quiser. Embora isso possa dar mau resultado, ora pois...
Vem-me à cabeça a história do céu azul. Queria entender por que motivos somos reprimidos desde bebés com conceitos e regras tão castradores da criatividade e expressão. A monotonia sempre presente do certo e do errado e do vazio que se finge haver entre eles.
Estavam todos errados, os que ficaram famosos. O Degas, o Picasso e o Christo. Todos uns maus alunos. E a Paula Rego também. Todos.

Observem-se nuvens e céus de tempestade, de nevoeiro, de madrugada, de anoitecer e de noite profunda. E risque-se em todas as direcções! Libertem-se as mentes, por favor, que os meus alunos andam a desenhar como se estivessem algemados.