30 de março de 2007

deficiente 2


Hoje eu e a Tocas fizemos um bolo. Rimo-nos muito, juntas.
Ela é única, no seu tamanho e ingenuidade de 3 anos, num corpo de 6. Digo-lhe que a quero só para mim e ela pergunta puqué. Fala um dialecto que é só dela e que nós, seus fãs incondicionais, entendemos. Sempre tão cómica, com um sentido de humor que nunca vi numa criança "normal". É rápida nos seus discursos teatrais, tão rápida que não me dá tempo de tomar nota mentalmente, das coisas incríveis que diz.
No outro dia contei-lhe do cocó da Mimi na casa-de-banho e ela, logo de seguida, inventou também uma história de um cão que teve que era inóme e fazia um cocó inóme, também. E o cheiro era riba. Riba riba riba!
Hoje ela disse coisas tão engraçadas. Vou começar a escrevê-las e depois farei uma história ilustrada.
O mundo seria um lugar melhor, se houvesse mais gente como a Tocas. Descubro-lhe qualidades que não conheço em mais ninguém. (Quem diria? Eu, miss-aborto, a pensar que um bebé com trissomia 21 dentro de mim, nasceria sim senhor...)

os protagonistas


As minhas histórias são inspiradíssimas em factos verídicos. A foto é da minha mãe.

ex-beyonat

Afinal não quero ser cantora. Quero ser tertuliana no programa da Fátima Lopes. Quero falar da vida alheia.
O que eu queria mesmo era poder sentar-me no meio de outros famosos como eu, fazer das revistas meus livros e comentar num tom coloquial, a gravidez da Elsa Raposo e as namoradas do Cristiano Ronaldo. O que eu queria era falar para os milhões de portugueses que me ouvissem, dizendo que investiguei e que sei, por fontes seguras, que a Merche Romero não pôs silicone nas mamas. Queria mesmo era falar com mais segurança e convicção da vida dos outros do que da minha. Discutir seriamente com os restantes tertulianos e com a apresentadora que adoro, temas como o divórcio da Marina Mota ou o casamento do João Pinto.
Ando aqui eu, mais uma vez, a pensar que sou feliz rodeada de crianças, tinta, bonecos imaginários e muita risota com os meus amigos anónimos, em jantarecos pobres, de fato-de-treino vestido... O que eu quero é ser tertuliana e falar como quem apresenta um jornal da noite!

29 de março de 2007

um dia não são dias


Restavam poucos dias de vida ao meu cão. Como já nem queria comer, a veterinária quis pô-lo a soro. Mas porquê soro? Porquê ficar internado? Depois de me ver lavada em lágrimas, a Dra. decidiu deixar-me levar o Dunga. "Vamos para casa. Vamos."
Ele cambaleava à chuva, cheirou os carros um por um e parou ao pé do nosso. Cheguei a ter de carregá-lo ao colo, pesava 30 kg.
Já que nos restava pouco tempo, achei que não "faria mal" à educação do Dunga deixá-lo dormir comigo e subir para o sofá...
Morreu tal como eu queria, na minha cama, o lugar mais cobiçado e onde adorava dar cambalhotas. O meu cão mau. Coberto de beijos, de olhos postos em mim.

vira do minho



A barriga do Dunga era cor-de-rosa. No últimos dias eu faltei uma semana à faculdade e vimos muita televisão. Dava-lhe muitos beijinhos na barriga e chamava-lhe cancruzi. A minha mãe achava horrível mas o Dunga ria-se.
O Dunga e eu adorávamos dançar o vira de lenço na cabeça.
Na verdade, eu punha-lhe o lenço, dançava e cantava e ele só ficava sentado a olhar para mim e a rir-se muito. Acho que tinha um bocadinho de vergonha...

cannelloni de espinafres




Ingredientes (3 pessoas):
  • 300 g de espinafres picados (congelados)
  • 1 requeijão de ovelha
  • 3 dentes de alho
  • azeite
  • cannelloni (pré-cozinhados, dos que não é necessário cozer)
  • 1 colher (de chá) de sal marinho
  • 1 colher (de chá) de oregãos
  • 1 saco de plástico para congelados
  • 200 ml de polpa de tomate
  • 1/2 copo de água
  • 1 cebola pequena
  • 1 colher (de chá) de manjericão
  • 1/2 colher (de chá) de sal marinho
  • 1 colher (de chá) de açúcar
  • azeite
  • 300 ml de leite (eu uso de soja)
  • 30 g de margarina
  • 1/2 colher (de chá) de noz-moscada moída
  • 1/2 colher (de chá) de sal marinho
  • 1 colher (de sopa) de sumo de limão
  • 2 conheres (de sopa) rasas de farinha
  • Queijo ralado

Receita:
  • Picar o alho e levá-lo ao lume num fio (generoso) de azeite.
  • Acrescentar os espinafres ainda congelados e temperar com o sal e os oregãos.
  • Depois de cozinhado, retirar do lume e acrescentar o requeijão. Mexer bem.
Entretanto, faz-se o molho de tomate:
  • Picar a cebola picadinha-picadinha e alourá-la num fio de azeite.
  • Acrescentar o manjericão e deixar ferver um pouco.
  • Acrescentar a polpa de tomate, a água, o sal e o açúcar.
  • Deixar apurar em lume brando durante uns 10 minutos.
Agora o molho branco. Eu, como levo tudo na frente, acho melhor fazê-lo assim:
  • Derreter a margarina num copo da varinha mágica.
  • Acrescentar-lhe o leite, a farinha, o sal e a noz-moscada.
  • Bater tudo com a varinha mágica.
  • Levar ao lume e mexer sempre.
  • Assim que levantar fervura, diminuir o lume e mexer até engrossar.
  • Acrescentar o sumo de limão.
  • Verificar se falta sal.

Rechear os cannelloni:
  • Colocar o recheio dentro do saco de plástico e encostá-lo todo a um canto. Dar um nó e cortar a ponta do saco (cerca de 1 cm).
  • Rechear os cannelloni e dispô-los no tabuleiro onde já está metade do molho de tomate.



    (Quem não vê um mocho ou uma coruja nesta foto deve parar a receita imediatamente)


  • Cobrir com o restante molho de tomate.
  • Polvilhar com queijo ralado.
  • Cobrir com o molho branco e voltar a polvilhar com um pouco de queijo e oregãos.
  • Levar ao forno durante 30/40 minutos ou ao microondas durante 15 minutos.

28 de março de 2007

dunga e os morangos

O Dunga era aquilo a que se chama um cão traiçoeiro. Ele mordia.
Encontrámo-lo a morrer no meio do lixo, com sarna e febre, cheio de fome e sede. Depois de muito amor, fisioterapia e medicação, o Dunga ficou bem mas não ficou bom. Ele apaixonou-se perdidamente por mim e eu por ele. Isso não o impediu de me fazer uma tatuagem no braço e duas nas pernas.
Dentro do Dunga havia um cancro que crescia e o devorava. O Dunga não sabia, nem nós. Mas às vezes ele sentia ódio do mundo e da vida e eu acho que era por causa do cancro. Atacava as pessoas na rua, mesmo com o açaime. Eu não passeava um cão, passeava um corta-relva descontrolado.
Felizmente nunca arranjei solução (o que fazer com o Dunga, já que ninguém o queria, para além de mim) para o nosso problema, o cancro tratou do resto. Assim, foi a morte que nos uniu e que nos separou.


O Dunga adorava morangos. Chegava-se aos vasos, metia um morango na boca e começava a puxar, a puxar, até que tuc, o arrancava e mastigava. Também adorava meter-se dentro da minha mala de ir para o Porto. Não suportava ficar sem mim. Dormíamos de mão dada, para que ele não subisse para a cama. Acordava sempre com ele a olhar para mim, calado e concentradíssimo nos meus olhos. Assim que os abria ele dava início ao seu espectáculo de cambalhotas em cima da cama.

Depois faço mais desenhos. Tenho demasiados na minha cabeça. O Dunga a dormir, o Dunga vestido de minhota, o Dunga a fugir-me na hora de entrar no carro... todos disparatados. Também tenho outros muito tristes.

coelha e pato que foram cães

Quando o Patim chegou ele era tão pequeno que cabia num bolso do casaco. Era uma bolinha de pêlo amarelo e piava muito a dizer "Colinho! Colinho! Colinho!" - Ele só sabia dizer o essencial. Como era bebé, fazia cocó e chichi a toda a hora e em qualquer lado. Pensámos em pôr-lhe uma fralda mas não havia para o tamanho dele.
A Gioconda tinha fama de comer animais bebés. Ela soube que dois dos novos franguinhos se chamavam Romeu e Julieta e como a Gi lê Shakespeare, decidiu dar um rumo àqueles dois. No entanto, em relação ao pato bebé, ela foi avisada de que não podia comê-lo. "Mas eu posso ensiná-lo a voar?", perguntou. - "Talvez, Gi, se te portares bem."


O Patim aprendeu a corrigir testes com a minha mãe. Ela punha-o em cima da mesa, enrolado num cobertor e ele tornou-se um óptimo aluno a matemática.
Mais tarde chegou a Joana e o Patim descobriu que ela era muito melhor que qualquer cobertor ou bolso de casaco. Aliás, a Joana era melhor que um colinho. Ela era branca, fofa e muito quente. Tinha olhos vermelhos e nunca se calava. "Sabes, eu como uma couve num instante. Cenoura, não gosto, prefiro maçã. Sabes, esta ração tem farelo de trigo..." - Em pouco tempo o Patim aprendeu a falar e a Joana convenceu-o de que assim que saíssem os dois da gaiola teriam de fazer-se cães.
"Patim - Como assim, cães?
Joana - Olha, corres muito muito e mordes!
Patim - E ladro?
Joana - Não não, é melhor correres calado..."


A Joana e o Patim tinham de viver com os frangos, que entretanto se transformaram em galinhas e galos. Era humilhante.
"Joana - Temos de voltar para dentro de casa. Anda!
Patim -Mas... mas...
Joana - Anda e cala-te que eles ouvem!
Patim - Mas eu - dizia, a correr atrás dela e já a entrar em casa - o que é que eu faço!?"
E os cães expulsavam-nos numa correria desenfreada. Foi numa dessas vezes que o Patim aprendeu a voar. A Gioconda cumpriu com a sua promessa. Ficou com algumas penas na boca mas ensinou-o a voar, sim.


E ele voava tão bem! Só as aterragens corriam mal. Houve uma vez em que me pediu para o observar. Lá estava ele em cima do muro.
"Empurra-me, se faz favor. Não tenho coragem de saltar..."
Empurrei-o e ele voou. E caiu de peito no chão. Rapidamente se levantou e tossiu para disfarçar. Esticou-se todo, nas pontas dos pés e disse: "Até não correu mal! Correu?"

27 de março de 2007

pesadelo com Shin Chan

O Shin Chan já me fez rir tanto que eu não consigo entender por que deixou de dar. Talvez por ser do género Ren & Stimpy, com demasiadas piadas para adultos. Eu fiquei absolutamente fã dos desenhos "mal desenhados", da mãe histérica, do guerreiro mascarado, do robot psicótico e, claro, da dança do tutuzinho. Os textos eram do melhor, as saídas do Shin, geniais. Eu chorava de rir mal ele punha o dedito no ar e gritava Mamacita!
Lembrei-me ontem do Shin Chan, ao ver num filme um carrossel demoníaco, daqueles que devem ter restos de vómito nos assentos. Tudo culpa da Cilu e do meu amor por ela.


Era Setembro, não sei de que ano. A Cilu fazia anos e estava chorosa. Ao fim do dia, toda a população de Viana City estava concentrada em Ponte de Lima, nas Feiras Novas. A Cilu meteu-se no carro comigo e perguntou onde íamos, ao que eu respondi às Feiras Novas e ela começou a chorar. Chorou por saber que eu estava a fazer um sacrifício por ela, de me meter no meio daquela gente toda, bêbedos e muita muita confusão que odeio. Mal sabia ela que viria aí o maior sacrifício que alguma vez fiz por ela, na vida.
Como eu tenho claustrofobia, nem se pôs a possibilidade de irmos para aquelas ruas estreitas em que a multidão se arrasta como um rebanho e leva tudo na frente. Então fomos para o lado dos velhos, isto é, para a zona dos carrosséis, farturas e barracas de jogos. Decidi ir atirar dardos aos balões e como tenho boa pontaria, ganhei o prémio. Podíamos escolher qualquer boneco e como estávamos indecisas entre o Shrek e o Shin Chan, eu escolhi o segundo (um boneco horroroso).
De seguida fomos aos carrosséis e a Cilu começou a pedinchar-me para que fossemos andar numa barbaridade de coisa que é um comboio montado em cima de uns carris em forma de V. Esse comboio sobe sobe sobe para trás a uma altura de uns 20 metros e depois desce e sobe e desce e sobe até parar. É óbvio que eu NUNCA andaria naquela coisa. Mas a Cilu pediu tanto... Eu a contorcer-me e ela com o Shin na mão, as pessoas a olhar e o carrossel a mexer-se ao longe. "Anda só ver, Nat, só ver." E eu vi. Vi uma, duas, três vezes e gritava só de ver. Eu tenho este dom de sentir vertigens por mim e pelos outros.
A Cilu pediu pediu e eu achei que seria justo ir com ela, já que ela tinha vindo para o lado velho da festa por minha causa. Simplesmente o pavor paralisava-me. Até que comecei a tremer e aí percebi que ela já me tinha conseguido convencer.
Fomos. Ela ria e eu lamentava-me apavorada. Sentámo-nos no meio da coisa e aquilo começou a subir. Subiu subiu e eu (que tenho medo de cair de um escadote), comecei a ver Viana ao longe e a minha vida a andar para trás, literalmente. Pensei pronto, já subiu tudo mas a coisa não parava de subir e às tantas eu já via Espanha e França. Comecei a praguejar e a Cilu só se ria, com o Shin no colo. De repente a coisa abranda e despenca violentamente carril abaixo. Eu não consegui soltar um ui até aquilo subir até ao outro lado do V e voltar para trás. E aí sim:
"CILA-A-A-A-A-A-A!!!! EU MATO-T-T-T-TE!!! EU MATUUUUUUUUU!!! CILAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! SEGURA A CRIANÇA CILAAAAAAAAA-A-A-A-A-A!"
Toda a gente na porcaria do carrossel estava divertida. A Cilu ria-se descontroladamente com a cabeça a abanar e o boneco de boca aberta. Eu só gritava, histérica a imaginar o Shin a ser projectado para o rio Lima. " SEGURA A CRIANÇA-A-A-A-A!!!"
Quando saímos do carrossel dos infernos eu não conseguia andar. Toda a gente olhava para a louca-que-gritava-daquela-maneira, já só a gemer e para a sua amiga que a amparava, de criança ao colo. "Cilu. Podes pedir-me um rim. Um pulmão. Podes pedir-me o que quiseres. Hoje eu fiz o maior sacrifício do mundo, por ti. Nada será pior do que isto. - Obrigada, Nat! - De nada... de nada."

mtv girl

Às vezes penso em que rumo teria tomado a minha vida se, em vez de ter passado a minha adolescência a ver desenhos-animados, tivesse tido Tvcabo e visto canais de música. É que ainda hoje fico abalada por uma espécie de sonho americano, quando vejo Mtv.
O que eu queria mesmo era ser cantora.
Queria aparecer na televisão e usar roupas que me favorecessem.
Queria ter um agente que me orientasse e um batalhão de maquilhadores que convencesse toda a gente, incluindo eu mesma, de que não tenho celulite e estrias.
O que eu queria mesmo era ser de plástico, ter extensões loiras no cabelo e alguém que fizesse tudo por mim, até arrotar.
Queria ter aquele vento contra a minha cara e a favor do meu cabelo incrível, 24h por dia.
Queria usar casacos de pele, pestanas de pêlo de marta e colares de diamantes.
Ter glitter por todo o meu corpo e depilação definitiva desde as unhas dos pés até às palmas das mãos.
O que eu queria mesmo era roçar-me pelas paredes como quem tem sarna, com ar de paralisia facial.
Ter as mamas sempre arrumadas.
Usar saltos altos como se fossem parte de mim.
Queria esquecer que um dia já tinha tocado guitarra e usado calças de ganga em videoclips. Pensar apenas nas coreografias sensuais, nos meus abdominais e em como vou mostrar a todos que emagreci 5 kg.

O que eu queria mesmo era esquecer que já fui pobre, fui pintora e professora de crianças malcriadas. Queria esquecer que já pesei 74 kg, que tive pêlos nas pernas e que à noite usava uma t-shirt qualquer para dormir, aparelho na boca e caía para o lado, morta de sono, afundada em marcadores e blocos de desenho, numa paz profunda.


Quem não viu ainda? The Dove Self-esteem Fund.

26 de março de 2007

canarito 3


Quando escrevi o "poema" do Canarito, era só uma piada. Mas assim que me pus a pensar nele, comecei a ver o protagonista na gaiola com a mãe e imaginei as mentiras piedosas de uma mãe que não quer que o seu bebé sofra.

"Canarito na gaiola, para a mãe:
Quando eu for grande vou saber voar!
E a mãe cantou para não chorar.

Canarito na gaiola
pôs a Mamã a chorar:
Sabes Mãe, quando eu for águia
vou voar voar voar!"

Quando o Canarito aprendeu a falar, a mãe ensinou-o a cantar. Disse-lhe que assim seria feliz e faria outros felizes. Disse que as plantas o ouviriam e cresceriam verdes e cheias de vida. Ela queria distraí-lo mas nem sempre conseguia. Afinal, eles estavam numa janela e ela não podia impedi-lo de ver o mundo lá fora e pior, ver o céu. Assim que o Canarito aprendeu a dizer porquê, começaram os problemas.
"Por que estamos aqui?
Olha a gaivota lá fora!
Que comida é esta?
A gaivota foi para onde?
E eu, vou saber voar?
Quero ser uma águia!
Quero voar! Quero voar!
Mamã, dois anos passam depressa?
Abre a porta por favor!
Olha como bato as asas!
Olha só como eu sou rápido!
Vou ser águia, não vou?
Não me apetece comer.
Não me apetece cantar."

alaar



Diz-se que os cães sabem nadar. Mesmo assim, há pessoas na freguesia onde eu dou aulas que não só os abandonam, como os atiram ao rio. Pelos vistos resulta. Disse-mo a minha colega, professora primária de uma das turmas. Ela pertence à ALAAR e pediu-me que escrevesse numa faixa a seguinte frase: "Os animais são nossos amigos. Não os abandonem!"
Eu colocaria algo muito mais chocante, mais sarcástico... mas a Elisabete sabe melhor que eu como lidar com estas pessoas e disse que se as provocarmos elas fazem pior. Então assim foi. Juntamente com as duas cozinheiras da escola, metemo-nos na carrinha e lá fomos. "Desligaste a sopa? ... Eu não posso ver os animais morrer! ... Eles andam aí a pedir água! ... Dão-lhes com paus e pedras! ... Andam a morrer devagar..."
A dona da casa autorizou-nos a pendurar a faixa onde quiséssemos então ficou na vedação, atada aos arbustos, num ponto estratégico: bem virada para a estrada que é paralela ao rio.

25 de março de 2007

aperta-me também

Na escola dos 20 há infantário. Vejo os meninos de lá como bebés. Muito baixinhos e bochechudos. Gostam de me dizer adeus e ficar a olhar para mim.
Um dia destes estava um monte de meninas de uns 3 ou 4 anos a observar-me então eu disse-lhes olá e não resisti a esfregar a barriguita de uma delas."Vocês são tão giras!"
Foi aí que ela se encostou toda a mim, à minha perna. Abracei-a com uma mão. "Ai que eu aperto-te, que delícia!" e assim que a larguei e me dirigi para a porta, uma outra menina encheu-se de coragem e tocou-me na perna. Recuou e esperou que eu olhasse para baixo. E lá estava ela, à espera de um mimo também.
"Anda cá, anda que eu aperto-te também!"
E subitamente as outras meninas dirigiram-se para as minhas pernas como bicharocos e enroscaram-se todas num abraço apertado. Apertei-as uma por uma, com festinhas nas costas e cafunés. Nenhuma delas falou.
Às vezes vale a pena ser adulto, para poder observar estas coisas.

o diabo veste prada

O governo do Canadá permite a caça às focas bebés. A Prada faz casacos de pele de foca bebé.

Silogismo:
Se a Prada faz casacos de pele de foca bebé;
e há pessoas chiques que vestem Prada;
então há pessoas chiques que vestem pele de bebés-de-menos- -de-um-mês-roubados-às-mães-mortos-à-paulada-e-às-vezes- -esfolados-vivos.

Assinemos a petição para acabar com isto.

Foto: Care2

24 de março de 2007

alho-francês à brás


Ingredientes (3 pessoas):
  • 1 alho-francês
  • chouriço de soja (+/- dois dedos) cortado em cubinhos
  • 5 ovos
  • 1 pimento agridoce picadinho
  • 1 colher de sopa de pesto
  • batata palha a gosto
  • azeite
  • sal q.b.
  • tomilho q.b.


Receita:
  1. Cortar o alho-francês às rodelas e lavar
  2. Levar ao lume um fio de azeite com o chouriço e o pimento
  3. Juntar o alho-francês, o pesto, o sal e o tomilho
  4. Bater os ovos e juntar
  5. Depois de cozinhados os ovos, acrescentar a batata palha
  6. Acompanhar com salada e azeitonas pretas

23 de março de 2007

páscoa

Eu sou tão distraída que só ontem percebi que hoje acabavam as aulas. Estou de férias das escolinhas!
Hoje os meninos do monte tentaram matar-me de duas maneiras:

1: Esticar a ignorância até ao impossível
"Eu - Como se chama o nosso planeta?
Eles - PORTUGAL!

(eu com cara de parva)

Eles - Viana do Castelo!

(cara de parva)

Eles - (nome da aldeia onde vivem que prefiro não identificar)
Eu - Começa por T.
Alguém- Tailândia!"

2: Entupir-me de amêndoas da Páscoa
São tão meiguinhos. O portão ainda estava fechado e nós a abraçarmo-nos por entre as grades, já estava eu com uma amêndoa na boca, outra na mão e outra no bolso. Deram-me uma, duas, vinte. Mostravam-me as barriguinhas de fora da camisola interior e chamavam por mim. O Zé Pedro deu-me um beijinho na mão sem ninguém ver. "Acham que eu vou ficar gorda? - Não, professora!"
Foi aula-lanche. Todos a comer e a desenhar com giz colorido no quadro. Eu, por milagre, tinha sempre uma amêndoa na boca e três na mão. Até que o Zé veio caladinho e não me ofereceu uma. Ofereceu-me um monte! Ele raramente me dá confiança. Mas quando lhe perguntei "O que é isto???", não conseguiu deixar de se rir e dizer baixinho com a sua voz fina "São amêndoas!" A julgar pela maneira como me retratou uma vez, desconfio que ele me queria matar. Ou talvez não :)


cocorococó


Pelas galinhas.
A minha mãe e eu, já que não temos trabalho que chegue, começámos a fazer bolos por encomenda, todos saudáveis e deliciosos, com farinha integral, açúcar mascavado, frutos secos e ovos caseiros. Fiz esta etiqueta para os envelopes catitas que são as nossas embalagens. É muito bom fazer saber que na composição dos nossos bolos não há sangue, claustrofobia, canibalismo, mutilação, tortura e luz artificial 24 horas por dia. Os nossos ovos são da Carolina, da Menina e de outras amiguinhas delas que não têm nome.

Nota: No Pingo Doce há ovos biológicos de galinhas criadas ao ar livre.

22 de março de 2007

obrigada 2


Este blog nasceu da minha depressão natalícia. Não havia com quem falar no msn, não me lembrava de nada para pesquisar, então lembrei-me de um programa de televisão em que um senhor dizia que "toda a gente tem um blog". E foi assim que eu fui ver se era assim tão fácil ter um. A verdade é que é. Mas ter quem o leia é bem mais complicado.
Nunca pensei que viesse a ter 70 pessoas a lê-lo diariamente. Tenho a Di, a Nhocas, depois a minha cunhadinha, o meu irmão e a Lu, pensava eu no início. Agora tenho amigos reais e virtuais que vêm sempre aqui. Obrigada.
A intenção inicial era partilhar e publicitar o meu trabalho, por causa do site que nunca mais fica pronto. Mas surpreendentemente as coisas mudaram de rumo e eu estou muito feliz. Vêm aí muitas surpresas :)

Muito obrigada a todos os que me visitam, todos. Obrigada a quem deixa comentários, a quem deixou só um e a quem comenta habitualmente. Eu adoro lê-los, faço uma festa sempre que vejo um novo. Adoro que partilhem aqui as ideias, angústias, questões pessoais e até que discordem.
E um especial obrigada a quem me pôs nos links do próprio blog. Fico tão lisonjeada! Até agora, sei que recomendaram o Vermelho Devagarinho, as meninas Daniella, Carla, Mushi, Elsa, Nat, Fernanda, Sari e o menino BrU!

Boa noite***

ainda


Esqueci-me de dizer que ela adorava beijinhos e gozava com os cães e os gatos como ninguém. E fazia túneis inacreditavelmente compridos debaixo da terra.
Fotos da minha mãe e do meu irmão.

joaninha voa voa


"JB - A Duana?
Bruno - A Joana ficou doente e morreu...
JB - Para onde foi?
Bruno - Foi... para o céu.
JB - E voou?"

É claro que eu fiz o filme todo. A Joana sofreu muito antes de morrer. Chorou muito como eu nunca imaginei que um coelho pudesse chorar. Morreu ao pé da Binhas e felizmente ela fez-lhe festinhas antes de a coelha-mais-bem-humorada-e-tarada -sexual-que-eu-conheci fazer o seu voo para as estrelas.
Já no céu, a Joana reparou que havia poucos coelhos iguais a ela. Da mesma cor havia muitos. Com olhos vermelhos também. Mas poucos coelhos tinham vivido em casa, com um pato muito meigo, alguns cães para perseguir e muita alface dada pela mão de um menino de 3 anos. A Joana viu que muitos coelhos, quando olhavam lá para baixo, viam os seus corpos já sem pêlo, embalados em celofane, outros cobertos de rímel para os olhos e protector solar, e muitos muitos muitos, em fábricas, esfolados e abandonados para dar lugar a casacos, luvas e botas muito chiques. A Joana nem era dada a lamechices, mas quando perguntou a um coelhinho como se chamava e ele começou a chorar, abraçou-o muito e disse: "Queres vir voar comigo? Eu dou-te a mão."

bom humor 2


Descobri este blog via Há Vida em Markl e já me ri tanto tanto às custas destes dois que tinha de o dividir com quem me visita: A Dupla Personalidade.

21 de março de 2007

rapidinha sobre cinema

Não sou entendida de cinema nem de literatura por isso, sempre que eu falar de cinema ou de literatura aqui, recorde-se que eu sou alucinada, infantil, impaciente e bastante ignorante.
Levei o meu Pai e o Pai do meu enteado, no Dia do Pai, ao cinema. Vimos "Em Busca da Felicidade" e todos chorámos um bocadinho. Eu chorei mais um bocadinho que eles, no fim. Alguns pequenos-exageros-americanóides são completamente compensados pela cena mais bonita. Vale a pena.

Vale ainda mais a pena, o "Babel". Lindo. Maravilhoso. Tão profundo e tão real. O filme é tão bom que tenho agora como fantasia o Brad Pitt pondo-me a fazer chichi numa panela. Chorei muito nessa cena. Ultimamente choro assim. Acho que vou dormir. Ainda não me recompus da alergia que me deu na semana passada.

reencarnação


Quando conheci o Bruno, conheci também o seu bebé que tinha na altura um ano e meio. E como sou assim, casei com o Bruno e adoptei o JB. Sou a madrasta querida. Pelo menos tento fazê-lo dizer isso.
O JB rapidamente se apaixonou pela Boni e ela por ele. Ainda ele andava de fraldas quando a Gioconda quase o mordeu e desde aí a Boni o defendia. Quando ela morreu, ele não perguntou por ela. Perguntou pela Joana (a coelha) e se ela tinha voado para o céu. Só depois de conhecer a Mimi ele se lembrou da Boni.
Eu não percebo nada de reencarnação, só gostei do nome para o post mas acredito que temos um espírito e os animais também. E as plantas também. A Boni foi para o céu e diz-se por estas bandas que reencarnou na Mimi (o criador registou-a como Boni antes de o conhecermos). Ora eu, que adoro imaginar que o meu Dunga andava comigo pela casa já depois do cancro, das dores e da eutanásia, adoro também pensar que a Móni nos visita. Imagino muitas coisas que me fazem sentir profundamente feliz e me dão ideias para muitos desenhos, pinturas e histórias ilustradas.

Bem, o que quero dizer é que (e já tenho a lagriminha aqui pronta), quando a Mimi viu o JB na semana passada, ela não era a Mimi. Era a Boni. A alegria dela, os milhões de beijos, os empurrões e saltos de um corpo jovem e revigorado, no reencontro com o seu amigo. O JB já antes dizia que a Mimi parece a Boni mas na semana passada, depois de ver como "o rabinho dela é igual" ao da defunta, finalmente concluiu: "Ela é a Boni." Ao que eu respondi "Parece a Boni, não é?"

"Não. Ela é a Boni."

E foi depois de ver esta foto que eu acreditei. A Mimi a aprender jardinagem. Ela não gosta especialmente de estar ali parada. Eu sei que prefere destruir os copinhos de plástico, saltar para cima do JB, sujar-se de terra, beber água suja e depois ir fazer outra coisa porque há pouco tempo antes da próxima sesta. Mas ela fica quieta a olhar para ele, fingindo-se de interessada. Nos olhos dela, o amor e compreensão da Boni. Num corpo novo.
Agora sim, perdi a credibilidade que me restava.

os meus alunos






Às vezes eles desafiam-me, são muito malcriados, respondem-me torto. Às vezes batem nos colegas e choram. Muitas vezes fazem queixinhas e algumas vezes mentem. Muitas vezes correm e gritam e eu, algumas vezes, ralho. Às vezes fazem chichi na casa de banho das meninas e depois vêm-me dizer. Muitas vezes são cruéis. Mas quando olho para eles sem eles saberem que estou a olhar, o meu coração enche-se de luz, com as suas gargalhadas e correrias.

20 de março de 2007

emagrecia

Foi o que li no vidro da saída de emergência do autocarro para Lisboa. E já não estava enjoada! Agora até li "eu emagrecia". Depois ninguém acredita que eu alucino. Mas alucino.

ódio

Depois dos posts da felicidade, vem ódio. Os meus ódios viscerais. Tudo porque estou aqui na casa dos meus pais, que tem tvcabo e acabo de ver o resumo da biografia de um toureiro espanhol, no canal das biografias. A imagem que melhor o ilustra: enfiar uma espada por um touro adentro, que ainda se enche de forças para desatar aos saltos de dor. Estou tentada a ir lá a baixo, pegar num facalhão, enfiá-lo pelo cachaço da Mimi abaixo e sentir-me biografável.
Uma vez, no café, estava eu com a Cilu a projectar o Barco dos Sonhos (onde os animais vão para o céu, pescam estrelas e brincam com nuvens), quando uma rapariga pede para se mudar de canal para a tourada (era a reabertura do Campo Pequeno). Ficámos logo enjoadinhas e eu, desde esse dia não posso ver a miúda. É que Viana City é muito pequena e todos nos conhecemos. O touro não sofre! Garanto-te que não dói! Garanto-te que não dói! Dizia ela a um amigo. Eu não sei o que me segurou ali calada. Não foi vergonha. Acho que foi respeito por ela, pena de a envergonhar diante dos amigos pouco entendidos de tourada, com o que tinha debaixo da língua para lhe dizer. Pois digo agora.

Odeio:
  • Tourada. Mais do que lutas de cães, de galos, mais do que rodeios, circos e jardins zoológicos. Gostava que todos os toureiros sentissem por uma vez apenas, o que os touros sentem.
  • O supermercado ao Domingo, repleto de famílias inteiras que vêm com a roupa da missa passear com o bebé e a avó bigoduda. Odeio ter de lá ir.
  • Má-educação. Fico colérica quando alguém não diz olá, por favor ou obrigado.
  • Funcionários-mal-encarados-tipo-a-da-segurança-social- -que-disse-foda-se-duas-vezes-diante-de-mim.
  • Agentes da autoridade que abusam da autoridade que têm.
  • Pessoas que furam filas. Além de furarem filas, desconhecem o poder das minhas super-pragas-imaginárias.
  • Pessoas que deitam lixo para o chão. Pessoas que deitam o cigarro para fora da janela do carro.
  • O Marcelo Rebelo de Sousa. Nunca mais o pude ver. Nunca mais. Nunca mais. Assim não.

19 de março de 2007

hoje


Se Deus existe, hoje usou Photoshop.


Os meus alunos do monte preferem não fazer intervalo (com aquele sol, aquele céu e aquela árvore lá fora) e vir logo para a minha aula. Comem o pão a olhar para mim e olham para mim com amor.

horas e horas e horas

Demora muito mas eu adoro o que faço. Mais fotos aqui.

boa acção

Quando fui ao Brasil levei uns óculos de sol que a minha Mãe, a minha Teia e a minha Binhas me ofereceram. Uns óculos caros como nunca mais terei, porque perco tudo e deixo tudo o que é frágil cair, com a parte mais frágil virada para baixo. Então agora só compro óculos foleiros dos saldos, perfeitos para mim.
Ora no Brasil, tudo foi maravilhoso, excepto ter deixado os meus óculos-de-sol-super-caros na caixa do papel higiénico da casa de banho de um restaurante. Quando voltei lá, uns 40 minutos depois, nem óculos nem nada. Fiquei possuída pela cólera. O funcionário do restaurante com quem falei disse que nunca mais voltaria a vê-los. Disse-o com tanta naturalidade, olhando para mim como quem diz "tu não és mesmo daqui".
Ainda hoje sinto raiva da ladra-mijona que comeu no mesmo restaurante que eu, comeu a mesma comida que eu, usou a mesma sanita que eu e provavelmente se cruzou comigo.

Já em Portugal, perdida com o Bruno à procura de Miramar (!!!), encontrámos um telemóvel no chão. Estava desligado mas pertencia a um cromo igual ao meu pai (feliz dia, Papá!) que lhe colou uma etiqueta com o próprio número. Foi assim que eu decidi que devolveria o telemóvel ao seu dono, com a ladra-mijona em mente. Foi uma loucura, pois consegui arranjar o número de telefone fixo do Sr. Avelino mas ele nunca estava em casa. Ao fim de uma semana desisti. Mas guardei sempre o telemóvel comigo e protegi-o dos gulosos que mo pediam ("Oh vá lá, dá-me mesmo jeito! O homem já comprou outro!") como se se tratasse dos meus oculinhos na mão da ladra-mijona.
Muito tempo depois, decidi ligar para o número da etiqueta, não tivesse o Sr. Avelino arranjado uma segunda via do cartão. E arranjou. E o seu novo telemóvel tocou e ele atendeu.
"- Está?
- Bom dia, Sr. Avelino?
- Não menina, deve ser engano.

pausa

- Não se chama Avelino (e o apelido)?!
- Não menina, deve ser engano.
- O SENHOR NÃO PERDEU UM TELEMÓVEL EM MIRAMAR!!!?

pausa

- C'um canudo! Perdi!!!
- EU ENCONTREI-O!!!
- Ah!... C'um canudo! Ó menina eu já lhe volto a ligar.

- Está?
- Menina Natacha... blá blá blá... muito obrigado!"

O Sr. Avelino era o patrão, dono da empresa para onde eu ligava e ninguém atendia. O senhor em causa, cujo nome e morada eu perdi :( era o funcionário. Enviei-lhe o telemóvel por correio verde e ficámos amiguinhos e muito cúmplices, depois de eu lhe ter contado a história da ladra-mijona. Ele disse que já não havia pessoas como eu e eu fiquei triste.
Ainda no Brasil, depois do episódio a que chamei roubo e fui condenada por isso, estava num aquaparque e encontrei uns óculos de sol pousados num banco. Fiquei a dormitar no banco ao lado e vi o tucano a voar :') Momentos depois chega a dona dos óculos. "Nossa! Nem acredito que ainda estão aqui!"

Penso muitas vezes nisto. Em porque é que pensamos tão pouco nos outros. Acho que é da nossa natureza. Eu mesma, uma vez, ao cruzar-me com um carro sabendo que lhe passaria uma tangente (por minha culpa), bati com o meu retrovisor no dele e não parei. Depois de uns 10 metros vejo-o a fazer inversão de marcha para me perseguir e mesmo assim não parei para pedir desculpa. Imaginei um gorila a sair do carro pronto para me bater e decidi fugir! Como não sei rezar, pedi muitas desculpas ao Universo e ao dono do carro, e prometi que nunca mais passaria tangentes nem fugiria depois de bater em carro alheio e implorei para que ele se esquecesse do único carro verde água de Viana City...

18 de março de 2007

o gigante invisível


Eu sei que tenho alucinações. Sei que quando estou a dormir falo e que depois de muitas horas a pintar vejo e ouço coisas. Mas isto é verdade. Eu não tenho vertigens. Existe um gigante que vive no escadote. Assim que eu passo do terceiro degrau, ele agarra-me as pernas. Deixando-me imobilizada devido ao medo de entornar a tinta ou espetar o pincel na parede, ele sacode-me
violentamente para ver se eu caio. Mas como sou forte e não tenho medo de alturas, aguento firme lá em cima.

a história dramática de uma pintora que era alérgica a tinta

Esta era a história que os meninos mais gostavam de ouvir quando eu era secretária da Dança e Cia. Ainda por cima eu ilustrei-a e colei o desenheco no copo das canetas.

"Doutor, este fim-de-semana fui pintar um tecto e ao terceiro dia de trabalho a minha garganta ficou inflamada, os lábios gretados, os olhos irritados, a cabeça a latejar... sinto falta de ar."
O doutor deitou as mãos à cabeça: "Tudo sintomas de alergia!" Sugeriu que se eu não melhorasse mesmo tendo o espaço devidamente ventilado e tomando o anti-alérgico, usasse máscara e óculos de protecção. E eu fiz o filme na minha cabeça. Já não basta ser dada como louca.

16 de março de 2007

exaustão


Esta semana pareceu-me ter três dias e os dias, 10 horas. A cronofobia voltou e eu não me atrevi a encostar onde quer que fosse para descansar. Cheguei ao ponto de abrir mão das duas aulas de dança semanais para poder trabalhar. Os momentos de pausa em que desejo não fazer nada, são passados aqui. O meu fim-de-semana virá na 2ª feira, pois tenho dois dias de trabalho pela frente, de manhã até à noite. Isto de pintar paredes entre aulas, aulas, enteado e aulas, não é pêra doce. E os metros de fita crepe que gasto não me saem da cabeça.

deles


Nataicha, eu hoje parti um osso!"

"Joana - Natacha, o meu avô foi operado, tirou um rim.
Eu - Oh coitadinho! Mas já está melhor?
Joana - Já mas tem proglemas... e eu também tenho proglemas.
Miguel - O que estás a dizer? O meu tio também cortou a barriga."

"Ai professora que não temos água na escola! Ai que morremos!"

"Natacha a minha irmã hoje de manhã estava um bocadinho doente."

"Natacha Natacha! (chega-se ao pé do meu ouvido) Sabes, eu já ando do futebol!"

"Prufessuora eu consigo cantar como bocê!"

"
As tuas calças são tão grandes!"

"Tens as calças sujas de tinta! (...) Estavas a pintar e caiu uma pinga em cima de bocê."

"Pessessora
! Eu vi-te no supermercado! No Clerc ou lá o que é..."

"Eu - De que é que tu não gostas na minha aula?
Filipa (com uma cara muito feia) - De bichos..."
E recusou-se a desenhá-los (os monstros do quadro).


quase

As patetices continuam. Está quase quase. O mail que recebi da SPA não foi muito animador. Tenho de ir lá pessoalmente para ver se posso pagar os direitos de autor sem ter de pedir autorização ao império Disney para pintar as suas personagens...

15 de março de 2007

animais de laboratório

A propósito da capa da Super Interessante, fui procurar coisas sobre animais de laboratório.
Vi uma vez um documentário sobre os chimpanzés a quem devemos a vacina da rubéola e sinto-me até hoje grata e culpada. Não existe espécie nenhuma como a nossa. Capaz destas coisas. Escusado será dizer que chorei baba e ranho, eu adoro chimpanzés... Sinto-me grata por aquela e tantas outras vacinas, tantos outros tratamentos. Sinto-me culpada por pertencer à espécie que maltrata todas as espécies. Sinto-me culpada pelos maus-tratos zoológicos e circenses, tão dispensáveis. Sinto-me culpada pelos testes de cosméticos absolutamente desnecessários e cruéis. E acima de tudo, sinto-me culpada por ter mais pena dos chimpanzés do que dos ratos ou dos coelhos (que morrem aos milhares). Sinto-me culpada por quase pensar que há tantos ratos... A vida de um rato não tem tanto valor como a vida do meu cão.
Vivo num país que parou uma barragem para salvar o ninho de uma cegonha mas que se orgulha de exibir celebridades nas bancadas dos campos de touros.
Julgo que deveríamos sentir gratidão sempre que olharmos para os animais de que nos servimos para bem da nossa sobrevivência. Pessoalmente, tendo em conta o que conseguimos fazer ao planeta, às outras formas de vida e à nossa própria espécie, considero-nos uma praga.

Uso Nivea com muito gosto e desconfio bastante daquele "testado em olhos sensíveis" do rímel da L'Oreal, uma vez que não me responderam ao mail, ao contrário da Nivea:

"Prezada Sra. Natacha Santos,
Agradecemos o envio de sua mensagem e o interesse demonstrado pela Nivea.
Sobre sua dúvida, esclarecemos que Nivea se preocupa com a qualidade de seus produtos, os quais são rigorosamente testados visando sempre um resultado totalmente satisfatório aos consumidores.
Ressaltamos que todos os testes dermatológicos feitos com os nossos produtos são realizados em voluntários humanos, seguindo a orientação da COLIPA (The European Cosmetic, Toiletry and Perfumerie Association) da não utilização de animais para realização de testes."

cláudia, joão, sabrina, juliana

Não podendo trepar por mim a cima, agarram-se à minha volta como lapinhas.
Este desenho ainda não está como quero. Os meninos hão-de ter os pormenores que os caracterizam e eu não vou ter um busto disforme :)

14 de março de 2007

progressos


Hoje a minha melhor turma portou-se muito mal. Eu estava a "atender" um de cada vez numa mesa à parte e isso serviu-lhes de motivo para fazerem de conta que eu já não mandava ali. Pedi várias vezes para sossegarem, dei gritos líricos, fiz alguns dos jogos do silêncio mas nada resultou. Há dias em que só é possível sossegá-los à base de berros, sermão e castigo. E isso eu detesto. Ficaram então sob a ameaça de que se amanhã voltarem a portar-se tão mal como ontem e hoje, ficarão sem o postal do Dia do Pai e irão para lá para fora - dois castigos horríveis: confiscar-lhes a obra de arte e proibi-los de assistir à aula.
Apesar de ter saído de lá triste e de os ter feito ficar todos sentados em silêncio, a olhar para mim enquanto lhes preguei o sermão, vim para casa orgulhosa a pensar nos progressos de cada turma. A turma do monte já não tem cabritos (sim, eles berravam e saltavam como cabritos), a dos 13 já se porta bem melhor e a dos 20 superou as expectativas. Depois de lhes ter mostrado o meu postal do Dia do Pai, alguns meninos foram para casa fazer um igual e trouxeram-mos orgulhosamente. E o melhor: depois de terem levado um ralhete por gastarem papel à toa ("Meninos... blá blá blá blá blá... Pensem que morreram árvores para vocês poderem estar aqui a desenhar!"), hoje o David disse-me, quando passei por ele, "Professora estou a aproveitar o papel!". E disse-mo com tanto orgulho naquele sorriso só dele. O desenho pequenino estava num canto da folha.

13 de março de 2007

dias de coisas

Faz parte da minha depressão de Natal (que me valeu o meu segundo post) o sentimento de culpa que vem acompanhado da obrigação de dar prendas.
Nos dias de coisas não entro em depressão mas sinto um desconforto. Detesto sentir-me obrigada a fazer o que quer que seja e então dar prendas caras... irra! No Natal decidi que fabricaria as minhas prendas e não me correu nada mal, de maneira que no próximo já me vou antecipar em Outubro, para combater o stress do ai-Jesus-que-prenda-vou-dar-à-Mamã?
Agora que vem aí o dia do Pai e já que eu ensino os meus meninos a fazer tudo com as próprias mãos, fiz também um postal para o meu Pai. E no Sábado vou fazer bombons com as minhas alunas!
Nat: 1 / Consumismo: 0


12 de março de 2007

sem fotos

Estou perto de ter uma super-máquina-fotográfica-só-minha. Nessa altura nada me escapará e poderei ilustrar todos os posts.
A minha cunhadinha pediu-me fotos dos meus alunos mas eu não me sinto no direito de os expor (ainda mais) aqui. Imagino que dê vontade de conhecer o João ou o Nuno, por isso tive uma ideia. Depois de ter chegado à escola do monte num destes dias de muito calor e ter encontrado todas as meninas em camisola interior metida para dentro da gola, para fazer um top de barriguinha à mostra, decidi que, já que não as podia fotografar e pôr aqui no blog (tive tanta pena de não ter a máquina comigo), as iria desenhar. Estavam tão fofas, todas vaidosas de barriga ao léu. Também me apetece desenhar os nossos abraços de turma, com os meninos todos agarrados a mim e eu a vê-los de cima, tão baixinhos e bochechudos. Os desenhos não tardarão.

para a rité




A Boxi também voou para o céu dos cães. À espera dela, a Boni e muito chocolate.


Trabalho ao Domingo é para quem gosta do que faz e eu, adoro :)