31 de maio de 2007

então é assim

Durante as minhas aulas vão surgindo questões que nada têm a ver com Expressão Plástica e às quais me empenho em responder com rigor e muitos exemplos. Tenho o cuidado de usar uma linguagem que os meninos entendam. Já falámos do planeta Terra, do Sol, da noite e do dia, do sistema digestivo, dos mamíferos, das aves e dos repteis... mas o que mais me chocou foi ver que poucos sabiam de onde saem os bebés humanos. O menino mais velho de uma turma disse, sem dúvidas, que os bebés dos mamíferos saem pelo cu e eu tive de parar a Expressão Plástica imediatamente para dar lugar à palavra vagina.

Que muitos destes meninos saem da catequese confusos eu já sei ("Mas nós não viemos de Adão e Eva?..."). Mas um menino de 8 anos não saber bem de onde sai um bebé, sabendo que ele está dentro da barriga da mãe (e viva a cesariana!), deixou-me em estado de choque. Lá estive eu a desenhar no quadro, baleias, vacas, mulheres... úteros, pulmões, intestinos. E mesmo depois de eu repetir VAGINA até à exaustão, ouvi isto: "Mas ó Natacha, o Miguel diz que o bebé sai da pomba!"

Fiquei a pensar se o tema nunca foi abordado antes naquela sala de aula...
Eu esclareci os meninos sem o menor medo de um confronto com os pais. Até acho que eles me ficaram agradecidos. Disse-lhes que as galinhas sim, põem os ovos pelo mesmo sítio por onde fazem cocó. Fiz mais uma vez a distinção entre aves e mamíferos (a origem da discussão: "Ó Natacha os cães saem dos ovos?"), entre macho e fêmea e fiquei sossegada.

Pus-me a pensar se nunca antes desta aula, alguém explicou (sem ser por alto) este assunto aos meninos. Eu que passo 2h15 por semana com eles é que disse pela primeira vez a palavra V várias vezes seguidas? E atenção! Que eu não falei de sexo. Mas agora que penso nisso, vou puxar o assunto. Desconfio que vou ouvir mais pérolas.

Isto tudo porque hoje, na RTP 2, o Sociedade Civil vai debater o tema da Educação Sexual dirigida às crianças. Para além do debate vamos poder ver o filme "Então é assim." e decidir se amanhã, Dia Mundial da Criança, devemos pôr as nossas crianças a ver o filme.
Eu que fui educada por um casal moderno que sempre me explicou tudo tudinho sobre sexo, bebés e prazer, só posso ser 100% a favor da educação sexual em todas as idades. Acho que para cada idade há um tipo de abordagem e que fugir às questões não é bom sistema. E por vezes deixar a informação à disposição evita as conversas "constrangedoras". A mim bastaram-me o meu livro sobre o corpo humano (eu tinha 4 anos quando o recebi), um outro livro para pré-mamãs com fotografias de um parto e uma mãe sempre disposta a explicar-me o que eu quisesse saber. Graças a isso, diz a minha Tia, eu tratei de explicar tudo o que sabia sobre o assunto aos meus primos e poupei-lhe algum trabalho.

30 de maio de 2007

melrinho voa voa

Ontem o Matias matou um melro bebé. Eu encontrei-o ainda a contorcer-se no chão molhado da chuva e fiquei com tanta pena. Fui buscar um pano, enrolei-o e tentei aquecê-lo para que a sua morte fosse um pouco menos triste. Depois, porque não sou muito boa nestas coisas, chamei o Anjinho.

Anjinho das coisas perdidas, por favor leva este bebé de volta para a sua mãe.

Eu senti vontade de chorar mas o Anjinho não é assim. É optimista e acredita que todos os seres vão para o céu. Colocou a mão sobre o coração do melro, aqueceu-o com o seu amor e sussurrou:

"Melrinho, melrinho, melrinho bebé
Morre devagarinho que eu estou aqui ao pé
Melrinho, melrinho, melrinho querido
Abre as tuas asas e vem voar comigo."


Assim que deixaram o corpo do Melrinho para trás, foram ver a sua mãe. Deram-lhe muitos beijinhos sem ela saber e ficaram abraçados a ela muito tempo, até que ela adormeceu sossegada. Depois voaram em direcção ao céu e já nem os gatos nem a chuva podiam parar o Melrinho.

29 de maio de 2007

gorda não, forte

Há uns dias o JB disse que quer comer chocolates todos os dias. Como eu o compreendo... acabo de comer 3 bombons enquanto ele está ali distraído com uma lupa a observar todos os objectos em redor.
Disse-lhe que se comer tanto chocolate vai ficar muito gordo e que não conseguirá mexer-se nem brincar. Coitadinho, mudou logo de ideias. Enquanto lhe falei dessa terrível possibilidade, vi-me na sala de dança, a transpirar rios e a tentar dar todos os saltos ao mesmo tempo que as minhas queridas colegas (olá meninas!). Dançar uma coreografia frenética com a sensação de que se transporta um saco de pedras às costas é sinal para cortar relações com um certo amigo meu (olá açúcar!), antes que o mal deixe de ser só esse e também antes que o fatídico dia no teatro municipal chegue e eu tenha mesmo de vestir o bibe-preto-de-coxa-à-mostra.

Continuo a pensar no que vou fazer com os ovos fresquinhos fresquinhos...

bons amigos


A avó da Cilu mandou-me ovos fresquinhos fresquinhos (mousse! mousse!) porque gosta muito de mim. A avó da Cilu é um bocadinho minha avó e acha que eu não faço uma refeição de jeito há 5 anos, uma vez que não lhe cabe na cabeça que eu não coma carne nem peixe. Apesar disso e da sua cultura de aldeia, de matar os animais para comer e de "comer bem", ela é tão querida que me respeita e tenta perceber o meu ponto de vista. A tolerância é uma coisa tão bonita. A Mãezinha é sábia e mesmo achando que eu sou maluca, ri-se muito de mim e abana a cabeça quando me vê de coador na mão a salvar os insectos da morte na piscina, enquanto as suas outras netas emprestadas nadam e apanham sol com a Cilu.
Obrigada, Mãezinha!

Há poucos cartazes das minhas pinturas que resistem pelas lojas de Viana. Eu espalhei-os pela cidade na minha onda de publicidade. A maioria durou umas semanitas nas montras ou balcões. Mas há duas lojas onde ainda estão muito bem coladinhos. Numa loja de roupa para criança em frente ao jardim e na loja do pai da Cilu. Apesar de ele não ter espaço para o pôr na loja, arranjou logo um cantinho (um cantão, que a folha é um A3) na porta, virado para a rua. E lá permanece, há meses...
Graças a ele recebi um telefonema simpático da mãe de um lindo bebé que quer uma pintura em duas paredes. Oba oba!
Obrigada Sr. José!

28 de maio de 2007

câmara lenta

Uma luta de comida em câmara lenta, feita em tempo real. Sobre um cenário preto trabalham várias pessoas camufladas para conseguir este feito, com um toquezito de Matrix.
Este foi o vídeo de que mais gostei mas este e este também são o máximo. Há gente tão criativa. Adorei.

27 de maio de 2007

enteado de peixe

O JB acorda a falar em chocolates, é teimoso como eu nunca vi uma criança ser, desenha e pinta bem, adora animais (dá-lhes beijos e é lambido por eles sem o menor medo ou nojo), ri-se de coisas muito tontas e está viciado no computador. É apaixonado pela minha mãe e vê na Cilu um ombro muito amigo. O JB é um mini-me e isto não é necessariamente uma qualidade.

Uma birra feia por querer continuar a jogar computador depois de 1h30 foi razão suficiente para eu decidir em pensamento que, tão cedo, dependendo de mim, não volta a pôr as mãozinhas no rato ou os olhos no ecrã. A destreza com que manipula o computador, assim como a velocidade nos reflexos, denunciam o seu profissionalismo nos jogos online.
Também a paranóia dos doces e a dependência do chocolate são extra-genes. Desconfio que a culpa é minha, pelo tom apaixonado com que falo do assunto e pelo brilho nos meus olhos que não consigo esconder. Para contrariar a tendência já cozinhou mais salgados do que doces connosco.
E no que toca à teimosia (que já está no sangue)... É por eu ser teimosa que consigo tratar deste teimoso de palmo e meio.

Todos os meus esforços no que respeita à educação do mini-me são para contrariar a semelhança nos nossos defeitos. Até agora tenho tido sucesso.
"Quero chocolate! Quero gelado! Quero bolachas!"
(Acabou por comer bananas (!!!) ao lanche e cerejas e morangos depois do almoço. Tantos morangos que só houve espaço para um bombom, no fim.)

"Quero jogar joguinho! Na casa da Zezé e do João Grande tem joguinho?"
(Acabou por fazer plantações imaginárias e bolos de terra.)


"Quero jogar joguinho!"
(Acabou por fazer uma pintura no atelier.)

"Agora quero desenhar no teu quadro."
(E desenhou.)



Educação 1 / Madrasta 0

26 de maio de 2007

?

Como a minha cabeça não tem mais em que pensar e adquiriu a capacidade de pensar e fazer as listas mentais durante o sono, penso demasiado acerca de demasiadas coisas.
Penso muito em quem faz os bonecos do Epi Mil, algures na China. Penso se a pessoa que fez o boneco que o JB trouxe para casa dorme, se é bem paga pelo seu trabalho, se está cansada de trabalhar em série...
A propósito do Mec Donals, penso na floresta amazónica a ser substituída por campos de cereais para ração de vaca (100% carne de vaca) para resistir àquela tarte de maçã ultra-frita e deliciosa. E resisto, assim como aos gelados que devem ter cocaína porque eu salivo de saudades deles...
Penso se as pessoas que fazem coisas para a Pórticu (isto é ortografia anti-gugol) ou para o Gato Mais-escuro-que-cinzento-escuro recebem uma boa percentagem dos preços a que são vendidas essas coisas...
Penso nas vacas que estiveram ligadas a máquinas horas a fio para que eu possa comer gelado quando me apetecer...
Penso em quantas pessoas não têm a sorte de dormir bem como eu e que sofrem de terríveis insónias...
Penso nas guerras e nas vítimas do Homem...
Penso que podia pensar em ainda mais coisas, se fosse mais culta...
Penso que podia lavar este tapete da banheira com lixívia para ele ficar tão transparente como no primeiro dia mas depois penso para onde irá a água da nossa casa e se os peixes e as algas gostam de beber detergentes...

Penso, toda orgulhosa dos meus pequenos actos e muito preocupada com todo o resto em que não penso, se mais alguém pensa como eu.

Mais alguém, quando o frio se vai embora, fecha a água para se ensaboar/ lavar o cabelo/ pôr amaciador/ fazer a barba/ tirar fotografias... no banho? Eu fecho e sei que poupo muita muita muita água.

Bom fim-de-semana! :)

25 de maio de 2007

sesta-feira






Aulas.
Aulas.
Aulas.
Corre.
Corre.
Corre.
Enteado.
Corre.
Aulas.
Sesta.
Quero uma sesta.

24 de maio de 2007

índios

Na última vez que brincaram aos índios, esqueceram-se de desmontar a tenda e eu demorei uma eternidade até encontrar o comando da televisão debaixo dos lençóis.

"- Faz assim Ovelhinha! Bate na boca a dizer UUUUUU!
- Meeeeeeeeeeeé!
- Isso mesmo! Agora bate na boca!
- Mé-é-é-é-é-é-é-é!"

23 de maio de 2007

as coisas cá de casa



Cá em casa há tinta em frascos, latas, tupperwares, copos de iogurte... no lavatório, no bidé, no chão e nas roupas. Há garrafões, garrafas, pacotes de leite e frascos de plástico cortados, para lavar pincéis. Há muitas canetas, muitos marcadores (depois de adulta superei o trauma de nunca ter tido uma caixa de 100 da Molin), lápis, borrachas, aguças, tesouras, molas e mais molas, vários tipos de cola e muitas cores e texturas. Há luz e espaço preenchido por toda a tralha e pelos restos de papel que não consigo deitar fora.
Há madeira para as telas, uma serra eléctrica e dezenas de tocos que sobram para aproveitar e pagar a minha dívida para com as árvores.
Ontem chegaram mais telas para esticar e delas sobram pedaços a que coso as páginas dos livros.
Aqui em casa quase tudo se aproveita e eu fico muito feliz.

22 de maio de 2007

os meus bebés já andam por aí

Estou tão orgulhosa dos meus embrulhos dos livrinhos! Primeiro porque aproveitam as costas do papel autocolante que guardei e segundo porque eu adoro (tenho uma obsessão por) desenhos de instrução. Ficaram bonitos :)
Assim que me despeço deles nos correios imagino-os na mão dos seus donos e desejo que façam alguém feliz.

Agora compreendo o que a querida Rosa Pomar sente quando lhe enviam fotografias dos seus quase 700 bonecos nas novas casas, espalhados pelo mundo.
Obrigada querida Marta. A-DO-REI esta fotografia.

Obrigada meus amigos tão lindos do Flickr: Ricardo, Patrícia e Ana. E obrigada Ana!
Agora vou tentar sair deste rio de baba que fiz :P

Boa noite!***

contadores que me dizem tudo

Eu sei que há blogues que atingem as 7000 visitas por dia. Também sei que muitas entradas se devem a enganos ou a "falhas" nos motores de busca. Mas ver o meu vermelhinho devagarinho atingir as 134 põe-me a pensar.
Em muito se deve aos meus amigos virtuais que me recomendam e eu nunca deixo de ficar surpreendida e lisonjeada, assim como com os comentários que ADORO ler.

Muito obrigada!

Lu! A Lu tem um blog! Oba oba obaaaaaaaaaaa! :)*
Anadosol :)*
Sofia :)*
JDF :)*
Afal :)*

21 de maio de 2007

prémio do melhor aluno

Na 6ª feira cheguei ao monte com um discurso debaixo da língua. Contei aos meninos da minha zanga com os 13. Disse-lhes tudo e eles ficaram chocados ("São mesmo malcriados!"). Tudo para chegar a um elogio à turma. Disse-lhes que foram a minha turma que mais evoluiu (por outras palavras), que aprenderam muito comigo e que estavam todos de parabéns. Foi com muita tristeza que os ouvi dizer que os senhores do agrupamento dizem que os meninos do "monte" são os piores. Escusado será dizer que eu vou encher a boca na próxima vez que falar com o professor do conselho executivo, dizendo-lhe para além do óbvio, como estou chocada com o que chega aos ouvidos (e à auto-estima) destas crianças.
Todos receberam no fim da aula dois daqueles doces prémios.

O Pólo Norte, por Pedro I. (do monte).

Hoje respirei fundo antes de pôr os pés na turma dos 13.
Uma das vantagens de trabalhar com crianças nesta idade é poder tirar partido do seu apuradíssimo sentido de justiça. Pergunto-lhes sempre se sabem por que estou chateada, por que estão a ser castigados e eles sabem sempre. Sempre.
Hoje comecei por lhes perguntar se tinham notado algo de diferente na última aula (eu saí de lá a espumar pela boca, quase bati com a porta ao deixá-los lá dentro e confesso que detestaria ver uma filmagem do estado em que fiquei quando atingi o meu limite).
Quando os confronto assim eles ficam tristes, calados (!) e pensativos. De seguida disse-lhes que eles tinham conseguido a proeza de me fazer ficar farta deles. Ameacei proibir que voltassem à minha aula se alguém se atrevesse a desrespeitar-me mais uma vez.
A aula correu bem. Mas o melhor estava para vir. Quando faltavam dois minutos para o fim da aula eu perguntei se sabiam com quantos meninos naquela turma eu nunca me tinha zangado a sério. Tudo mudo. Quando coloquei a questão de outra forma ouviu-se um coro: "PEDRO".
Elogiei os meninos que antes se portavam muito mal e que agora estão bem melhor, elogiei os que nunca me fizeram perder a cabeça e por último perguntei se eles sabiam quem era o meu melhor aluno ali dentro. "PEDRO".

Pedro, eu tenho uma prenda para ti. Porque quando um menino se esforça, deve ser recompensado. E para que todos vejam que vale a pena. Escrevi aqui um recado para os teus pais saberem.

Ouviu-se um burburinho assim que eu peguei no saco e tirei de lá uma caixa de 24 marcadores e outra de 24 lápis. O Pedro pôs-se a pé imediatamente e veio receber o prémio. Não sorriu porque ele não é muito expansivo. Também não é o mais brilhante nem o que desenha melhor. Mas é, sem sombra de dúvidas, o mais esforçado, o mais dedicado, o mais bem-educado. O melhor aluno.
Senti muita vontade de chorar. E no carro chorei. Parabéns Pedro.

20 de maio de 2007

domingo

Estou só. Quanto mais me distraio, mais me dou conta de que a minha cabeça nunca pára, nunca nunca e que estou sempre a fazer listas mentais de coisas e a reviver cada dia anterior em slideshow.

Na estrada para as escolas cujas obras nunca mais acabam, dou comigo a soprar os semáforos e pergunto-me quantas pessoas terão visto e gostado deste filme tanto quanto eu.


Amanhã a casa estará preenchida por um menino crescido de 4 anos. O livro dele será o vigésimo primeiro. Estou muito satisfeita.


Boa companhia ao volante: a Gioconda porta-se muito bem na viagem enquanto o Peter faz de conta que conduz o carro. Assim que chegamos a casa e eu subo a rampa da garagem a Gi vem para o meu colo e fica ao volante. Faz isto sempre sempre sempre.

saco de papel


A querida Eunice, além de ser uma ilustradora super-muito-talentosa que faz coisas maravilhosas, tem um site lindo. Boa sorte, amiguinha!

19 de maio de 2007

Tilhas. Sapatilhas

Quando fui madrinha do noivo no casamento de dois Amigos fui de sapatilhas.
Hoje fui ao casamento de um amigo de infância (que noiva linda linda linda!) e fui de sapatilhas.
Tenho apenas um par de sapatos que não são sapatilhas e que só dura nos meus pés enquanto eu estiver a andar.
Hoje, depois de testemunhar a tortura dos tacões e ouvir os comentários de algumas senhoras/meninas elegantes e femininas em cima de sapatos tive a certeza de que se um dia casar vestida de noiva, hei-de casar de sapatilhas. Não é por mal nem por rebeldia. É que não consigo...

descobrimentos e parabéns

Quando a Di entro no avião eu tive a certeza de que ela seria feliz no seu destino. Depois das dores horríveis e das lágrimas terem lavado quase tudo, a minha irmã voou para outro país.
A Di descobriu um país quente, de gente pobre mas feliz, de comidas e sumos inacreditavelmente deliciosos, de abraços e elogios, de boas-vindas a desconhecidos/estrangeiros. A Di descobriu o Brasil. E àquilo que aconteceu em 1500, eu chamo outra coisa.
Parabéns minha Di. Já que puseste os pés nos 25, tens de me contar a que é que sabe.

Parabéns meu primi João. Meu bebé de fraldas e arrotos no meu colinho. Digo sempre a mesma coisa mas é nisso que penso quando penso em ti. Parabéns e se leres isto não tenhas vergonha.

18 de maio de 2007

o que eu não escrevo aqui


Depois deste comentário (e isto não é uma provocação) fiquei a pensar se haverá mais gente que pensa como a Petra. Pensei nisso e noutras coisas:
Será que quem vem aqui, por não ler determinadas coisas, julga que elas não existem na minha vida? Será que pensam que eu não tenho vida sexual? Será que pensam que eu não vejo televisão e chamo nomes a um personagem da novela quando ele trai a mulher? Será que pensam que eu não saio de casa se não para dar aulas ou ir às compras, só porque não escrevo sobre o resto? Ora bem. Será que pensam que os meus alunos não fazem mais nada para além do que eu aqui escrevo?
Isto é um blog. Eu só escrevo aqui sobre coisas que me marcam e que considero interessantes para partilhar com quem quiser lê-las.
Eu não escrevo, no que toca aos meus alunos, coisas óbvias como os meus alunos são crianças. Eu parto do princípio que se sabe que qualquer criança desobedece, se distrai, se cansa. Que qualquer criança precisa de estímulos e que eu me esmero em motivá-los e participar positivamente na sua educação... Não sinto a menor vontade de dizer aqui que ralhei com o Zé Pedro porque ele não pára quieto e desestabiliza a turma inteira, que o João me parece ter um problema grave de comportamento, que a Tânia tem pé chato, que a Cláudia é carente. Disto, quem lida com crianças (ou faz a mínima ideia do que é a Infância) sabe que é o pão nosso de cada dia. Todos os dias eu dou uma ralhete a alguém. Todos os dias me lembro que qualquer acto de rebeldia por parte de um aluno é atentamente observado por dezenas de pares de olhos. Todos os dias sou firme. E todos os dias elogio e abro um enorme sorriso às turmas. Será que eu tenho de escrever isso aqui? Será que não se deduz?
Não todos os dias mas também muitas vezes, eu zango-me com os meninos mais malcriados. Fico exausta, fico triste com determinadas atitudes que não sinto a menor vontade de relatar aqui. Mas não é isso a vida de professor? Não está subentendido? Não é óbvio que no dia seguinte eu volto a encher-me de alegria por ir dar aulas? Não é claro como água que eu tenho vontade e gosto em ir ter com aquelas crianças, apesar dos €12/hora e dos 4€ de gasolina/dia?
Eu ainda acho que quem lê o Vermelho Devagarinho sabe que para eu ter perdido a vontade de ir dar aula à turma dos 13, é porque algo de muito grave se passa ali. Não preciso de escrever. Ou preciso?

formiga

Gosto muito desta fotografia. Eu a trabalhar num fim-de-semana porque o tempo não estica.
A Sexta-feira é o dia mais cansativo, especialmente porque o trabalho acaba às 23h com o despertador ligado para acordar cedo na manhã seguinte e dar mais uma aula até às 12h.
Só me lembro de trabalhar assim no fim do meu curso (fazer trabalhos teóricos, práticos, trabalhos extra-escola, fazer, fazer, fazer). Atingir o ponto de exaustão e pedir ao corpo moribundo que me responda. Remoto controle. *
Já nem precisar de fazer lista de afazeres porque a cabeça simplesmente não pára. Cronometrar os minutos, fazer contagem decrescente até ao momento de entrar no carro e partir em direcção aos meninos. Só paro para ter a certeza de que não é preciso entrar em parafuso e de que não preciso do herpes a latejar stressada stressada stressada.
A vida é muito boa e lá fora cheira a Verão. Vou calmamente receber à Câmara, comprar material e voltar sossegada para casa. Vou à reunião com o aspirador e tentar não me cruzar com o ferro. Vou beijar três livros antes de os terminar, vou fazer duas grades para telas, vou arrumar o atelier, vou comer gelado (o combustível) e respirar fundo.
Bom fim-de-semana.

17 de maio de 2007

cada link, cada beijo


Quase cinco meses depois de me ter sentado na frente do computador sem nada que fazer, inspirada pelos poucos blogues que até aí conhecia, vejo todos os dias entrarem aqui muitas pessoas que me conhecem e que eu não conheço. Hoje sei que não estou assim tão sozinha na minha maneira de ver as coisas e sinto-me muito feliz porque o meu sonho se começa a concretizar.
Estou em dívida para com a nossa casa suja porque os livros estão sempre a sair e já não há tempo para tudo. Prova disso é o monte de roupa por passar que já ganhou vida própria e hoje falou comigo. Também o Anjinho andou a aprontar e eu ainda não escrevi aqui o que ele fez porque me falta fazer o desenho.
Não posso, apesar de o relógio se ter tornado um cronómetro na minha vida, deixar de agradecer mais uma vez a quem me linka e a quem me recomenda por qualquer outro meio.

Obrigada queridos:
Ricardo. Sabes bem o que tu e o teu talento significam para mim :)*
Zarah :)*
Marta :)*
Reticências :)*
Alecrim :)*
Mosc :)*
Violeta-terra :)*
S@Viana :)*

Muito obrigada.
Agora vou para o ensaio da dança-de-bibe-comigo-envergonhada.

(Na foto: as cortinas já compradas mas por pendurar.)

dá-me um beijinho

Depois da minha grande zanga com a turma dos 13 fiquei com vontade de não voltar lá. Apesar de eu adorar os meus alunos devo dizer que não gosto dos pais deles. Esses pais da mão pesada que de educação pouco percebem. Nesta turma os meninos são de uma exigência e desconfiança que me irrita. Lembram-me de mim e da minha turma do 8º ano. Desprezávamos os professores, pareciam-nos todos uns totós. Alguns da turma dos 13 (não todos) questionam o que eu digo, dão palpites e muitas vezes fingem que eu não falei.


Para meu regalo estes 13 estão em minoria em relação a outros 41 que me adoram. Acreditam nas coisas que eu digo, absorvem como esponjas tudo o que tenho de interessante para lhes transmitir, respeitam-me e levam-me muito a sério, apesar das minhas brincadeiras. Estes 41 gritam o meu nome em tom de claque, abraçam-me as pernas, dizem que eu estou bonita, querem ser à minha beira, esperam ansiosamente que a porta abra para eu entrar e se alaparem no meu corpo ou treparem por ele a cima (deixando-me meia-despida), fazem fila para beijinhos e às vezes dizem oooooooh quando eu mando arrumar. Crianças carentes ou simplesmente bem educadas. Crianças que dizem dá-me um beijinho como quem pede um medicamento e que se deixam ficar imóveis com as caras entre as minhas mãos a aproveitar cada um dos meus muitos beijos repenicadinhos.

16 de maio de 2007

momento anos 80

Duas músicas que desde a escola primária até à faculdade, bastava dar o mote e subitamente toda a gente cantava o refrão. Adoro.


15 de maio de 2007

quando um gato chora

Na rua dos meus pais passam carros em excesso de velocidade. Gato atropelado tornou-se prato do ano e eu comecei a formar uma carapaça à prova da dor de ver mais um morto na estrada.
A vida de gato é essa liberdade de ir onde quiser, dormir fora, apanhar sol na varanda da casa da vizinha. E se um gato volta para casa, se deita na nossa cama e nos cobre de turras e ronrons, é porque quer mesmo estar connosco. Surpreendentemente para os que odeiam gatos ao ponto de nem os poder ver, os gatos amam. Amam profundamente. Amam os seus donos e no caso desta história, amam os seus irmãos.

A minha mãe comprou o Batman e o Robin na feira. Nem me vou pronunciar em relação à escolha dos nomes.
Os gatinhos cresceram juntos tentando sobreviver à fome da Gioconda e ao amor desmesurado da Boni por bebés. Ela queria lambê-los (e lambia!) e carregá-los pelo cachaço. A Gi ficava de olho, cúmplice do Peter nas ciladas.
Para ajudar os gatinhos a escapar aos cães, ensinei-os a saltar (fazendo-os voar com a mão do chão para cima da mesa) e a trepar ao seu poleiro e às árvores, em treinos intensivos.


Em pouco tempo os dois gatinhos ficaram enormes. Especialistas em trepar às árvores e em caçar qualquer coisa que mexesse. Os cães deixaram de ser uma ameaça e a vida de gato corria bem. Apenas pairava sobre eles a maldição da estrada.

Estava eu no hipermercado com o Bruno quando a Cilu telefonou. Voámos para a frente de casa. Ali estava o corpo. Para trás um rasto de sangue e nem sinal de o carro ter parado. A minha dúvida sobre se seria um dos nossos gatos (o corpo estava tão gordo...) desvaneceu-se quando a poucos metros vi o outro a olhar para nós. E dali não saiu até que nos fossemos embora e ele pudesse ficar a sós com as marcas na estrada e com a sua mágoa.

Dentro do Robinho nasceu uma dor que não se apaga. A memória do atropelamento, do rasto na estrada que ele farejou centímetro a centímetro quando nos fomos embora, do irmão nas minhas mãos e da noite que passou sozinho. Quando está mais triste e ninguém vê, chora muito. O seu focinho cobriu-se de pêlos escuros. Não aceita o meu colo e arranha-me se eu o forçar. Nunca mais lhe ouvi o ronrom. O seu mio mudou, a sua postura... Decidimos trazer-lhe o um gatinho.


O Matias era doente e muito fraco. Mas falou logo com o Robinho.
"Olá. Queres brincar? Eu vim de Perre, a minha mãe perdeu-se de mim... Queres brincar?"
O Robin detestou o Matias. Deu-lhe desprezo. Mas o Matias não desistiu. Muitas foram as vezes em que se aproximou já de orelhas recolhidas, pronto para levar uma unhada na cabeça. O Matias precisava desesperadamente de alguém. Precisava de continuar a acreditar que a mãe não o tinha abandonado. O Robin rosnava, batia e afastava-se com a sua dor. Chegou a persegui-lo até o Matias se esconder em recantos muito estreitos, a salvo das suas garras. Um dia vi-o a falar com ele. Estava sentado em cima do muro. O muro tinha apenas 1 metro de altura mas do outro lado tinha 3 metros. Sabendo que o Matias ainda era um bebé e que nunca tinha saltado, o Robin aproveitou.
"Matias: Que estás a fazer aí?
Robin: Estou a apanhar sol. Consegues subir para aqui?"
Era a oportunidade de o Matias conquistar a sua confiança.
"Matias: Sim!
Robin: Quero ver."
Felizmente eu cheguei a tempo de dar uma ajuda ao Matias e de o colocar em cima do muro. Mas o Robin continuou a mostrar-lhe como era a vida de gato, levando-o para a beira da estrada para verem os carros passar.
"Matias: São rápidos! E grandes. Fazem tanto barulho....
Robin: Sim.
Matias: Podemos ir embora?
Robin: Porquê? Tens medo?
Matias: Não!"


Um dia o Matias apanhou o Robin a dormir e começou a lambê-lo. O Robin acordou mas não abriu os olhos. Recordou-se imediatamente de quando dormia com o irmão, das suas lutas felinas incríveis e de como se lavavam juntos. O Robin começou a chorar mas o Matias fez de conta que não viu. E foi assim que ficaram amigos.

14 de maio de 2007

deles

Na aula, sobre os direitos dos animais: O animal morto deve ser tratado com respeito.

Eu: Imaginem que encontramos uma vaca atropelada. Deixamos o seu corpo ficar no meio da estrada para levar com mais carros?
Miguel (8 anos): Achas? O carro até buába por cima da baca!
Miguel (6 anos): A vaca até deitava leite!
Eu: ...

Noutra aula, o Rui não se cala e o Pedro está no quadro a desenhar.

Eu: Rui, pára com as fitas!
Rui: O que são fitas?
Eu: É o que tu fazes muito, Rui.
Pedro: Eu sei o que são fintas! Lá fora até fintei dois!
Eu: ...

-5 kg até Julho

Assim que chega a Primavera começa o ritual do emagrecimento.
Eu odeio esta obrigação de estar bem aos olhos dos outros, de estar magra e depilada. Gostar de mim assim, saber que gostam de mim assim e, ainda assim, querer emagrecer para dançar no teatro municipal. Eu gosto é de sair à rua de pantufas.
A sensação de ter os focos e os olhos de 150 pessoas atentas postos nas minhas coxas obriga-me a querer entrar em forma para dançar de bibe. Até aqui nada de errado. O que eu odeio é que esta pressão das luzes da ribalta passe para o dia-a-dia. Que o conceito de beleza se confunda com a total ausência de atributos humanos como estrias, pêlos e celulite. Que os restantes seres humanos que nos rodeiam se sintam no direito de nos olhar e julgar como se estivessem sentados numa plateia escura, em perfeito anonimato. Que na praia tenhamos de encolher a barriga.


Como se não bastasse este inferno do Sartre, agora que se aproxima o Verão, tenho de viver com os anúncios estupidificantes que fazem de mim, mulher, uma besta invejosa.
NÃO. Eu não peço os mesmos cereais que a minha amiga magra pediu.
NÃO. Eu não olho com raiva para o corpo da minha amiga na lavandaria, nem consulto a tabela de calorias da barrita de chocolate assim que ela vira costas.
NÃO. Eu não olho para as pernas das outras pensando e sussurrando como é que ela se viu livre das varizes?.
Eu peço gelados de café e de noz com toneladas de chocolate quente por cima.
Eu ainda tenho a capacidade de elogiar um corpo jeitoso. Aliás, eu apalpo as mamas à Cilu e o rabo à Nhocas.
Eu tenho este terrível feitio que me impede de pensar sem dizer em voz alta. Eu sou uma mulher burra e gorda que diz muitas vezes às amigas como elas são bonitas sem que a sua tez adopte uma tonalidade ligeiramente esverdeada.

A vida não é uma actuação no Sá de Miranda.

12 de maio de 2007

a minha tesoura mágica


De Beatriz Costa faz de mim Mísia embora o objectivo seja ficar Maria João.

vizinhos


Ontem estava eu aqui no computador quando ouvi um valente estrondo. Qualquer coisa de louça a partir-se mas com uma força e um som grave fora do comum. De seguida ouvi alguém a chorar desesperadamente. Fui à porta. Dei de caras com a minha vizinha do lado, na mesma situação que eu. Corremos para a porta do Sr. S e logo percebemos o que tinha acontecido. Os cacos no meio do chão impediam-nos de entrar e ajudá-lo. A sua mulher em pânico a tentar levantá-lo e alguns segundos de angústia até que eu levantei o meu vizinho do chão. Subitamente ele deixou de ser o velhote chato e coscuvilheiro que me cansou com as suas perguntas sobre vida privada. Agora ele é um velhinho doente que não fala. Dá uns passos e perde o equilíbrio. Esta foi a terceira queda. E eu tenho muita pena.

11 de maio de 2007

bater


Hoje o Miguel aproximou-se de mim com os olhos no chão e disse: "Quero dizer uma coisa... o meu pai disse para eu dizer que peço desculpa... eu nunca mais volto a fazer... eu nunca mais me porto mal...".
O meu coração doeu e a minha voz tremeu ao dizer-lhe "está bem". Ontem o Miguel foi muito malcriado e faltou-me ao respeito. Não é necessário estar aqui a relatar o seu comportamento. Basta dizer que senti pela primeira vez que se ele não estivesse a 5 metros de mim talvez a minha mão tivesse ganho vida própria e tivesse abanado o seu corpinho violentamente. Associado ao mau comportamento dos outros, isto foi razão suficiente para hoje eu não ter tido vontade de lá voltar.
A notícia correu a escola, deu em castigos e acabou com uma aula sossegada, hoje.

Sinto uma revolta muito grande. Esta minha turma tem 13 alunos, todos "normais". É a turma de crianças mais malcriadas que alguma vez vi. Contra mim tenho vários factores:
  1. Eu não obrigo ninguém a participar nas aulas, acredito que a arte e a expressão plástica nesta idade se devem fazer por gosto;
  2. Eu não imponho respeito, conquisto-o;
  3. Eu não meto medo aos meus alunos, isso faria de mim uma má professora;
  4. Eu promovo a confiança e a amizade, não vejo nisso falta de respeito;
  5. Eu não bato, sou totalmente contra o uso de violência física ou psicológica.
  6. Os pais destas crianças batem por tudo e por nada, acho que nunca leram nada sobre psicologia.
Não é no Miguel que eu devo bater, nem é contra ele que me devo insurgir. Culpo inteiramente os encarregados de educação. Não tenho filhos, sou "só" madrasta. Mas sei por experiência própria que bater não é solução e que é possível educar bem sem fazer do medo uma ferramenta indispensável.

humor infantil

As anedotas dos meus alunos, assim como aquilo que os faz rir são de uma ingenuidade que me enternece.
Ontem a Raquel estava a contar à Juliana que o Zé Pedro viu as cuecas da Patrícia. A Raquel mede dois palmos, não tem os dentes da frente e quando se ri muito os olhos crescem e brilham, a veia da testa incha e a cara cora. Foi assim que eu a vi a contar o sucedido, enquanto a Patrícia se torcia toda, sorridente e orgulhosa. A Raquel continuou:
"O Zé Pedro entrou e ela estava assim (exemplifica, cuecas nos joelhos) e ele viu!!! E depois eu perguntei-lhe de que cor eram as cuecas, ele disse que eram brancas E ERAM MESMO!"

di


Se leres isto... penso em ti.

10 de maio de 2007

€1.379 / litro

Saudades de quando 5 euros de gasolina me apagavam a luz no tabelier.

os meus pequeninos

Ando tão atarefada de volta dos livros que já nem me preocupa tanto o estado do chão da cozinha. Hoje os senhores das boas intenções voltaram e felizmente eu estava de pijama, nem sequer abri a porta. "Está tudo bem com a família?" - disse um deles e eu afastei-me da porta apavorada.

Tenho dois desenhos para fazer. Dois dos meus alunos. São dos mais baixinhos. Um é o Pedro e outra é a Catarina. Ele é despenteado, moreno, de olhos verdes. Uma peste. Rouco e muito travesso. Ela é ruiva, olhos castanhos e voz também rouca. Ele fala aos berros, ela fala tão baixo que eu tenho de me baixar para a ouvir. Em comum têm os dentes de leite tão pequeninos que nunca deixo de os observar. Lindos.
Frases deles:
Pedro - "Uma vez um gato mordeu-me aqui (no braço) e eu nem chorei!"
Catarina - "Natacha, o meu irmão rráchga-me os dessenhos."

já conhecem isto?

Dois rapazes completamente alucinados que ontem quase me mataram de tanto rir com a sua imitação dos Black Eyed Peas. Eles fazem versões em playback (diante de uma câmara) de músicas conhecidas.
Gosto muito de quem não se leva a sério. Ao pé deles eu sou uma mulher séria.

9 de maio de 2007

papel

Eu adoro árvores. Adoro. Tenho um respeito tão grande por elas que na faculdade não me atrevi a matricular na tecnologia de Madeiras (mesmo lá trabalhando o técnico mais jeitoso da U.P.), por pena de as explorar. Uso madeira nas grades para as telas e tenho móveis de pinho. No entanto ainda não fui capaz de comprar um daqueles lindos individuais redondos de bambu porque não consigo deixar de ver neles uma secção de árvore morta. Por essas e por outras sou cada vez mais adepta do inox e dos sintéticos.
Ora, por ser tão apaixonada por árvores, tenho esta compulsão de guardar papel de todos os tipos, usando como desculpa a possibilidade de o vir a usar em qualquer coisa, um dia... Aquelas publicidades que nos vêm parar à caixa do correio, impressas em papel poluente com tintas tóxicas... custa-me tanto deitá-las directamente no ecoponto que penso sempre no que fazer de interessante com elas.
Ontem fez-se luz. Depois de ter comprado os envelopes para enviar os livrinhos e com esta minha arrogância do uólha-eu-também-sei-fazer-isto!, decidi fazer eu os envelopes com os jornais dos supermercados, as revistas velhas e, melhor, o papel a que vem colado o papel autocolante que ultimamente abunda nesta casa. Agora é só comprar plástico-bolha e concretizar a ideia.


Uma das vantagens de comer pizza na cama com o Bruninho e o Malato é ficar com cartão de sobra para capas de livros. Oba oba!

querida menina dos correios:


Porque desapareceste? Como tenho a certeza de que não te despediram, só posso concluir que tenhas arranjado um emprego melhor. Sei que terás sucesso onde quer que arranjes trabalho. Eu imagino-te como apresentadora de televisão. Arrumas qualquer um dos apresentadores da manhã a um canto. Que saudades da tua simpatia, do teu despacho, do carimbo na tua mão pimba-pimba-pimba, do teu profissionalismo e do teu "tudo de bom". Quero que saibas que sinto muito a tua falta e não devo ser a única. Já não sinto alegria em ir buscar encomendas e odeio aquelas duas antipáticas que se sentam na tua cadeira. Tudo de bom para ti também.

8 de maio de 2007

plastificados a quente



Ontem dei comigo a beijar um livro acabado de encapar.

o peso de um génio

Tudo caseirinho na minha editora. A prensa é especial de corrida e faz-me lembrar do tamanhinho da minha arte. Os meus livros são bebés.
Surgem-me tantas ideias para novos livros, diferentes capas e materiais, histórias e muitas ideias de jogos para crianças, inspirados no que aprendi com os meus alunos diferentes e que faço para a minha Tocas.
Preciso urgentemente que os dias cresçam várias horas. Hoje sonhei que estava aflita no banco de trás de um carro em andamento a tentar numerar os livros.

6 de maio de 2007

mamã

Beijos. Abraços. Mimos. Leitinho.
Riso.
Canetas. Papel. Bonecos. Leitinho.
Beijos. Abraços. Plantas. Sementes. Bichos.
Leitinho.
Beijos. Abraços. Riso.
Beijos. Abraços. Seno. Cosseno.
Leitinho.
Beijos. Abraços. Mimo.
Leitinho.
Mamã.
Mimi.

A minha mãe é tão boa que nunca saí de dentro dela.
A minha mãe deu-me de mamar até aos 2 anos. Eu lembro-me do colo e do sabor do leite.
A minha mãe é tão boa que quando fico doente sinto uma secreta felicidade por saber que aí vem salada de fruta com cubinhos de gelatina.

5 de maio de 2007

francisco

De dentro da minha Babazinha saiu um menino. Um adjectivo basta: perfeito.
Há 11 anos a minha amiguinha pegou em mim pelo braço e disse "Olha o rapaz por quem me apaixonei!" e pouco tempo depois fui sua cúmplice nas declarações de amor via papel e cabine telefónica. Quando um amor se cuida e rega, dá flores e frutos. E eu sou testemunha privilegiada desse amor. Bem-vindo, Francisco. Parabéns, meus amigos queridos. Bendito dia aquele, minha irmã. Amo-te.

4 de maio de 2007

à venda


Da minha editora caótica de materiais espalhados e restos de tudo, saem livrinhos muito mimados página a página. Depois de plastificados e cosidos um por um, têm direito a capa dura feita à minha maneira: improvisada mas competente. Estou satisfeita. Mantendo o interior igual, quero dar a cada livro um toque especial por fora. Sendo assim a capa será diferente de livro para livro.
Os textos foram adaptados e eu apelidada de Tatá (o que o meu enteado me chama desde que o conheci). Mede 11x15 cm e custa €12. Inclui algumas fábulas e as histórias do anjinho, excepto a do cotão que ficará para um segundo volume.

Agradeço mais uma vez por todos os comentários tão animadores que me deixaram. Ainda é só o começo... a minha cabeça não pára e não consigo deixar de ver defeitos em quase tudo. Mas estou tão feliz!
Aceito encomendas por email: natachavc@hotmail.com

o dumbo na tromba da mãe


"Baby mine don't you cry. Baby mine dry your eyes..."
Só de pensar na música desta cena começo a chorar.

Como se põe um elefante a fazer isto? Ou assim ou assim. Ou será com reforço positivo?

3 de maio de 2007

o rei da selva foi preso


Condenado a prisão perpétua e tortura.
O circo chegou à cidade e eu sinto vómitos. Estou a pensar seriamente em ir fotografar os animais nos bastidores, sujeitando-me a choro compulsivo e má disposição de sobra.
O bravo senhor de nome chique treina animais assim e eu rezo para que as escolas da minha terra deixem de compactuar com esta vergonha.
Dentro de mim um desejo maquiavélico de eutanasiar os animais um por um e depois rir-me afogada em lágrimas da falência do magnífico espectáculo que de poucos artistas vive.
O que mais me revolta nos maus tratos a animais é a exposição pública e desavergonhada que deles se faz.
Bendito Cirque du Soleil. Bendito! Mil vezes bendito.

Também homens e mulheres o Homem maltrata. Não fechemos os olhos. Obrigada Elsa, por este link.

o wally que me perdoe

...continuo a ruminar.


Onde está a placa das obras?

a luta continua

Obrigada a todos os que já assinaram a petição. Espero que ela se propague e que todos os que se identificam com a causa, a assinem e enviem.
Muito obrigada a quem já passou a palavra e a quem fez algum post sobre o assunto. Obrigada FightBull e obrigada Arroz do Céu.

Como diria a Linda McCartney, "Se os matadouros tivessem paredes de vidro..."

2 de maio de 2007

ruminante

Ainda com a armadilha da C.M.P. na cabeça, penso na Dona S. que me pediu ontem, desesperadamente, 5 euros para comprar leite ao neto. 210 euros é muito dinheiro. São 42 contos e eu ainda tenho respeito pelas pessoas que passam fome. Não gasto dinheiro à toa. Recuso-me, independentemente de ter dinheiro na conta, a pagar a multa. Por mim, pelo neto da Dona S. e pelo mundo que eu teimo em mudar.

rebocada

Fui ao Porto despedir-me mais um bocadinho da Di. Estacionei no único lugar livre que havia. Hoje às 13h todos os carros tinham sido rebocados. Motivo: obras.
Não fiquei atrapalhada nem histérica, a Di fez isso por mim. Liguei para todos os números que me levariam até ao meu carro. Falei com pessoas simpáticas que me deram música e lá fomos nós em busca do parque de estacionamento onde algumas dezenas de carros esperavam pelos seus donos.
O parque era no fim do mundo e nós carregadas com sacos e coisas minhas. Finalmente descemos um túnel e encontrámos dois senhores numa cabine a contar moedas. Entretanto começam a chegar outros donos de carros rebocados. Já me tinham dito ao telefone que teria de pagar €60. E paguei. Entretanto, na fila para a cabine, uma senhora na mesma situação que eu perguntou-me se era esse o valor total a pagar. Eu disse que sim mas fui interrompida por um dos senhores. Os €60 são pelo reboque e pela estadia no seu parque com vista para o Douro. Agora há-de vir parar à minha caixa de correio uma multa de €150 de estacionamento proibido.
Pois foi aí que eu perdi a paciência (que estava a esgotar-se lentamente à medida que um dos senhores preenchia a passo de caracol a minha ficha). Vou descrever as circunstâncias em que estacionei:
  1. Fim de tarde;
  2. chove;
  3. a rua está repleta de carros estacionados;
  4. sei que a máquina de pagamento do estacionamento não existe, logo não há obrigação de pagar nada.
Ora o sinal que ontem eu deveria ter visto é uma chapita amarelita com cerca de 30x10cm e que diz "OBRAS", agarrada ao sinal que me proíbe de estacionar, caso não pague. Ora, esse sinal está desactualizadíssimo, uma vez que a máquina de pagamento simplesmente não existe.

Pergunta: "Alguém que já estacionou na Rua da Torrinha se põe a observar a presença de plaquinhas discretinhas afixadas nos postes que já lá estão há meses (se não anos)?

Outra pergunta:
"Alguém que conhece o trânsito e respectiva sinalização da cidade do Porto, leva a sério uma plaquinha amarelinha?"

Só mais uma:
"Não será um pouco perverso colocar chapinhas das obras em postes para os quais já ninguém olha (uma vez que a Câmara Municipal não substituiu a máquina dos tickets), tentando subitamente pô-los a funcionar?"

Ora eu acabo de descobrir por experiência própria que é muito mais lucrativo correr os carros todos a multas de €210 num dia, do que cobrar pelo estacionamento à hora durante meses. E melhor ainda é esconder chapinhas, em vez de colar avisos nas portas dos prédios. Realmente não há por que pôr uma máquina nova na rua da Di.

Pergunta:
Quem adivinha se eu vou ou não pagar os €150?

1 de maio de 2007

aprendi a coser

O nosso projecto de fazer coisas de pano começou hoje a andar mais rapidamente. Descobri que cosia muito mal um ponto do avesso mas felizmente tenho ao meu lado uma educadora de infância com paciência infinita.
Pegámos no Patim bebé e eu fi-lo em pano, a Cilu fê-lo em feltro. O meu nasceu menino perneta e o da Cilu nasceu menina vaidosa. Estes são protótipos. Eu apaixonei-me desesperadamente pelo meu e a Cilu aponta tantos defeitos na sua patinha que eu estou prestes a apoderar-me dela. Brevemente teremos porta-chaves à venda em leilão (não sabemos que preço fazer) e a minha cabeça está a 1000km/h.



Lamento que hoje outros trabalhadores trabalhem, não porque lhes apetece mas porque são obrigados a isso.