17 de abril de 2007

educar

Educar bem deve ser a coisa mais difícil do mundo. Cruzes!
Estou farta de ouvir a teoria que ponho em prática: as crianças precisam de regras, precisam de limites, precisam de firmeza, de rigor, precisam tanto de ouvir um não como de ouvir um sim. As crianças são manipuladoras e génios da chantagem emocional. Apesar disto, eu sofro nas mãos deles. Às vezes é mesmo muito muito difícil. Há dias em que eles só querem brincar porque precisam de brincar e há dias em que eu não quero brincar, quero dar aula sem ter de puxar pela cabeça para lhes dar a volta. Alguns vêm de casa muito mal-educados e o meu trabalho ainda fica mais dificultado. Apesar de às vezes eu falhar (e lamento tanto), há duas coisas que nunca esqueço: os elogios e os castigos.


Alguns dos meninos têm como máxima a ideia que eu também tive em relação aos professores: são uns idiotas. Há meninos que me fazem de burra, acham que eu não pesco as suas conspirações, que não percebo que só ficam calados enquanto eu estiver a olhar para eles e que assim que virar costas eles recomeçam a cochichar. Alguns gozam com a minha cara e pensam que não me vingo.
Ora, numa das aulas de pintura com giz no quadro, a Sabrina foi a última. Quando acabou, pedi-lhe que apagasse o quadro para irmos embora. Ela começou a apagar e assim que eu desviei os olhos, pôs-se a desenhar outra vez e a escrever, com toda a turma a ver. Quando vi, dei-lhe um par de berros e disse, para que todos tomassem como exemplo: "Tu nunca mais numa aula minha, voltas a ir ao quadro." - e ela riu-se. Eu continuei: "Não percebeste? Nunca mas nunca mais, até ao fim do ano, tu voltas a desenhar no quadro. Devias era estar a chorar." e então ela ficou pensativa e os outros gravaram aquilo nas suas memórias.

Depois disso, houve uma aula em que foram desenhar ao quadro e todos fizeram questão de me lembrar que a Sabrina não podia ir. Ela mesmo assim pediu-me muito para ir, até se humilhou mas eu não arredei pé. Remédio santo para todos. Há poucos dias voltámos ao quadro. E foi nesse dia que o meu coração se partiu em pedacinhos. Ela ficou tão caladinha, vermelha, com um nó na garganta. Rezou para que eu me esquecesse do eterno castigo e tentou redimir-se. Eu fingi que não vi. Mandei-os ao quadro um por um. Não houve tempo para irem todos mas a Sabrina soube, e eu também, porque é que ela não foi. Portou-se muito bem e tem melhorado imenso. E como recompensa, não vai voltar a ver os colegas irem ao quadro com aquele nó na garganta e aqueles olhos postos em mim, quando eu não estivesse a olhar para ela. Não há mais quadro para ninguém, por ela e por mim...

2 comentários:

nat. disse...

as vezes custa tanto aplicar um castigo... mas se não se aplicar, em pouco tempo mandam em tudo, e sem noção de nada...

:)
Beijinhos

Anónimo disse...

eu tenho pena da sabrina e estou dolidaria com ela!
;)