
Voltei aos meus aluninhos. Não pareciam os mesmos. Calmos, concentrados, espevitados. Depois de horas e horas de rua, nas férias, voltaram revigorados, morenos, sossegados para a minha aula. "Eu andei de patins! ... Eu andei de bicicleta! ... Eu brinquei com a minha mãe!"
Sei que não vai durar muito tempo e é isso que me revolta. Quando eu tinha a idade deles, brincava até me cansar. Brincava muito com coisas pequenas, folhinhas, paus, com as minhas bonecas e desenhava tanto. Estas crianças, apanhadas pelo Enriquecimento Curricular, saem da escola ao fim do dia, não vêem o sol e não cheiram a terra, tanto quanto necessitam. E esse é um dos motivos por que me sinto menos mal em deixá-los, em Junho. Este sistema educativo não funciona. Transforma crianças em bichos encarcerados, com distúrbios do comportamento (que eu testemunhei e esta certeza ninguém ma tira), na tentativa de criar doutores e engenheiros para o nosso país.
Mais uma vez comparo esta educação com a que eu tive: Eu não tive inglês desde os 6 anos, eu não tive informática na escola, eu não tive aulas de teatro, música, pintura e educação física anexadas ao tão essencial e obrigatório Estudo do Meio, à Matemática, à Lingua Portuguesa e à História e Geografia de Portugal. E não é que até fui boa aluna? Talvez por o meu cérebro se ter alimentado também de brincadeiras, de imaginação, de desenhos-animados, de muita fantasia e imensa gargalhada.
Na Escola Primária dos meus sonhos, também há Civismo como disciplina, há Culinária, há noções básicas de Primeiros Socorros em brincadeiras e teatrinhos. Há (meus Deus) Educação Sexual, há muita Arte, há Jogos, há Jardinagem, há Código da Estrada mais na prática (
vrrum vrrum eu sou um camião!) do que na teoria e há tempo de sobra para se brincar. E ao sair da escola, há luz do dia e uma tarde livre pela frente. Da escola dos meus sonhos, os doutores e engenheiros sairiam a saber cozinhar, com perspectivas de deixar as saias da mãe antes dos 30 anos.
Obrigada querida
Lu, por me mostrares
esta escola :)