A Rita levou-me por Lisboa fora. Que privilégio, ser guiada durante horas por uma alfacinha de Artes que gosta de se rir tanto quanto eu. Andámos quilómetros e só vimos coisas bonitas. Tudo tão lindo. Se os meus neurónios tivessem jeito para nomes eu agora dizia em que ruas e largos e edifícios estivemos, porque são mesmo conhecidos.
Entrámos em várias igrejas. Nunca devo ter estado tão espiritual como estou hoje em dia. O meu sentido crítico em relação às religiões em geral e à fé católica em particular dissipou-se. Não tenho tempo nem paciência para questionar as questões e a fé dos outros. Não tenho moral, aliás, porque eu acredito que os animais vão para o céu. Ponto.
A igreja de S. Domingos deixou-me sem ar. Precisei de me sentar. Acho que se tivesse ficado de pé chorava um bocadinho. A Rita entendeu que eu precisava daquilo. Inspirei e expirei consciente, muitas vezes. Deve ser o que muitas pessoas sentem quando rezam. Um reconforto. Um está tudo bem.
Obrigada, Rita.
À saída havia fila para a ginjinha e castanhas assadas a €2. Fizemos tchintchin com os copinhos de plástico e concordámos: A vida é muito boa e nós merecemos. O senhor da ginjinha perguntou se era com ou sem fruta. E eu "Hã?", a Rita "Não", eu "É bom?" e o senhor nem me deu tempo. Lá vai uma ginjinha para o fundo do meu copinho. E eu tudo bem, que é só um item na lista de milhões e milhões de coisas que eu ainda não fiz antes de morrer. A ginjinha é uma azeitona doce. Gostei. A meio das castanhas assadas já eu estava bêbeda. Rimo-nos muito muito muito. Já era de noite e eu ainda viria a riscar mais um item da lista.
Comer pastéis de Belém.
Um orgasmo digestivo. Como é que se vive vinte e sete anos sem pastéis de Belém?! Doutor, descobri, afinal não era depressão, doutor...
Depois o mosteiro dos Jerónimos.
Quem me dera ver o que há dentro do túmulo do Camões... Adorei o facto de na escultura, em que ele está tão bonito e sereno, o olho direito estar descoberto. Está fechado mas é diferente do esquerdo. A pálpebra tem menos volume.
Espero que o Luís de Camões se tenha sentido tão feliz como eu, em Lisboa. Ele merece.
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6 comentários:
Falaste em Pasteis de Belém e deixaste-me com água na boca.
bjs
Que texto bonito. E sentido sobretudo...
Realmente ... 27 anos sem Pasteis de Belém??
Deve ser uma tortura!
mas que bom! tantas novidades! já estava com saudades... deixa cá ver por ordem cronológica! volto já! ;)
pronto voltei!
já me actualizei!!
ai que saudades tenho dos pastéis de belém!
hummmm... ai o cheirinho bom!!!
PS: que bom ver-te [ler-te ;)] assim!
aiO texto é muito bom, Camões e tals, mas o que fica...
... são os Pastéis de Belém! (sim, doutor, era isso que faltava...!)
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