Na 6ª feira cheguei ao monte com um discurso debaixo da língua. Contei aos meninos da minha zanga com os 13. Disse-lhes tudo e eles ficaram chocados ("São mesmo malcriados!"). Tudo para chegar a um elogio à turma. Disse-lhes que foram a minha turma que mais evoluiu (por outras palavras), que aprenderam muito comigo e que estavam todos de parabéns. Foi com muita tristeza que os ouvi dizer que os senhores do agrupamento dizem que os meninos do "monte" são os piores. Escusado será dizer que eu vou encher a boca na próxima vez que falar com o professor do conselho executivo, dizendo-lhe para além do óbvio, como estou chocada com o que chega aos ouvidos (e à auto-estima) destas crianças.
Todos receberam no fim da aula dois daqueles doces prémios.
O Pólo Norte, por Pedro I. (do monte).
Hoje respirei fundo antes de pôr os pés na turma dos 13.
Uma das vantagens de trabalhar com crianças nesta idade é poder tirar partido do seu apuradíssimo sentido de justiça. Pergunto-lhes sempre se sabem por que estou chateada, por que estão a ser castigados e eles sabem sempre. Sempre.
Hoje comecei por lhes perguntar se tinham notado algo de diferente na última aula (eu saí de lá a espumar pela boca, quase bati com a porta ao deixá-los lá dentro e confesso que detestaria ver uma filmagem do estado em que fiquei quando atingi o meu limite).
Quando os confronto assim eles ficam tristes, calados (!) e pensativos. De seguida disse-lhes que eles tinham conseguido a proeza de me fazer ficar farta deles. Ameacei proibir que voltassem à minha aula se alguém se atrevesse a desrespeitar-me mais uma vez.
A aula correu bem. Mas o melhor estava para vir. Quando faltavam dois minutos para o fim da aula eu perguntei se sabiam com quantos meninos naquela turma eu nunca me tinha zangado a sério. Tudo mudo. Quando coloquei a questão de outra forma ouviu-se um coro: "PEDRO".
Elogiei os meninos que antes se portavam muito mal e que agora estão bem melhor, elogiei os que nunca me fizeram perder a cabeça e por último perguntei se eles sabiam quem era o meu melhor aluno ali dentro. "PEDRO".
Pedro, eu tenho uma prenda para ti. Porque quando um menino se esforça, deve ser recompensado. E para que todos vejam que vale a pena. Escrevi aqui um recado para os teus pais saberem.
Ouviu-se um burburinho assim que eu peguei no saco e tirei de lá uma caixa de 24 marcadores e outra de 24 lápis. O Pedro pôs-se a pé imediatamente e veio receber o prémio. Não sorriu porque ele não é muito expansivo. Também não é o mais brilhante nem o que desenha melhor. Mas é, sem sombra de dúvidas, o mais esforçado, o mais dedicado, o mais bem-educado. O melhor aluno.
Senti muita vontade de chorar. E no carro chorei. Parabéns Pedro.
21 de maio de 2007
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5 comentários:
Os prêmios funcionam. Os castigos não, efectivamente. Mas os prêmios assim, sem eles estarem à espera, de contrário é uma espécie de chantagem. Hoje a G. tb ganhou um prêmio pois conseguiu dormir a noite toda sozinha (apesar de chorar na almofada, mas resistir a vir pra minha cama) e foi escovar os dentes por livre vontade. Sem esperar, ganhou uma lembrança e expliquei por quê.
Acho que ainda vamos ouvir boas notícias da turma dos 13!
Beijos :)
O que sinto aqui à distância, quando leio o que escreves sobre os teus alunos, é que és uma excelente professora.
Sabes por os pontos nos ii, sabes disciplinar, sabes recompensar. E ainda - e acima disso tudo - és uma miúda muito sensível que te emocionas com os avanços e recuos dos teus alunos. Que te conserves sempre assim, apesar de acreditar que não deve ser nada fácil e que muitas vezes deve ser extenuante...
Beijoca grande e boa semana :o*
Eu deixo um beijinho, que é o prémio para a melhor professora! :)
...e a mim também me puseste a chorar...ai que coração molinho...
Reconheço perfeitamente os sentimentos que tens. As crianças por vezes conseguem tirar-nos do sério...mas depois têm aquelas atitudes tão doces (dão beijinhos e xicorações tão bons). Beijocas mt godas para a pssora.Nhocas
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