18 de maio de 2007
o que eu não escrevo aqui
Depois deste comentário (e isto não é uma provocação) fiquei a pensar se haverá mais gente que pensa como a Petra. Pensei nisso e noutras coisas:
Será que quem vem aqui, por não ler determinadas coisas, julga que elas não existem na minha vida? Será que pensam que eu não tenho vida sexual? Será que pensam que eu não vejo televisão e chamo nomes a um personagem da novela quando ele trai a mulher? Será que pensam que eu não saio de casa se não para dar aulas ou ir às compras, só porque não escrevo sobre o resto? Ora bem. Será que pensam que os meus alunos não fazem mais nada para além do que eu aqui escrevo?
Isto é um blog. Eu só escrevo aqui sobre coisas que me marcam e que considero interessantes para partilhar com quem quiser lê-las.
Eu não escrevo, no que toca aos meus alunos, coisas óbvias como os meus alunos são crianças. Eu parto do princípio que se sabe que qualquer criança desobedece, se distrai, se cansa. Que qualquer criança precisa de estímulos e que eu me esmero em motivá-los e participar positivamente na sua educação... Não sinto a menor vontade de dizer aqui que ralhei com o Zé Pedro porque ele não pára quieto e desestabiliza a turma inteira, que o João me parece ter um problema grave de comportamento, que a Tânia tem pé chato, que a Cláudia é carente. Disto, quem lida com crianças (ou faz a mínima ideia do que é a Infância) sabe que é o pão nosso de cada dia. Todos os dias eu dou uma ralhete a alguém. Todos os dias me lembro que qualquer acto de rebeldia por parte de um aluno é atentamente observado por dezenas de pares de olhos. Todos os dias sou firme. E todos os dias elogio e abro um enorme sorriso às turmas. Será que eu tenho de escrever isso aqui? Será que não se deduz?
Não todos os dias mas também muitas vezes, eu zango-me com os meninos mais malcriados. Fico exausta, fico triste com determinadas atitudes que não sinto a menor vontade de relatar aqui. Mas não é isso a vida de professor? Não está subentendido? Não é óbvio que no dia seguinte eu volto a encher-me de alegria por ir dar aulas? Não é claro como água que eu tenho vontade e gosto em ir ter com aquelas crianças, apesar dos €12/hora e dos 4€ de gasolina/dia?
Eu ainda acho que quem lê o Vermelho Devagarinho sabe que para eu ter perdido a vontade de ir dar aula à turma dos 13, é porque algo de muito grave se passa ali. Não preciso de escrever. Ou preciso?
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14 comentários:
Se me permites: acho o comentário da Petra bastante despropositado... parece que ela anda zangada com as questões do ensino (com o devido respeito) e que desabafou em cima do teu post...
Eu não te conheço pessoalmente, mas tenho lido o que aqui escreves e sobre os teus alunos e acho o comentário, consequentemente, inoportuno... Deve existir quem seja como a Petra escreveu, mas não parece ser o teu caso - não fiques triste!
Ui! Se isto dava pano para mangas!
Eu já fui professora e graças a Deus já não sou. Sim, Petra, eu dei o meu lugar a quem pudesse marcar a diferença.
Enquanto professora sofri muito. Muitas vezes me apeteceu não voltar à escola. Mas não podia. Uma criança eu era e ainda sou. Mas agora sou uma criança mais feliz.
Um dos problemas do ensino em Portugal é que são sempre os professores os culpados de tudo. De quantas mais profissões se exige espírito de sacrifício e essas tretas todas? Profissionalismo, isso sim, deve exigir-se.
Os professores, em meu entender, devem fazer bem o seu trabalho, e o seu trabalho é ensinar. Ok, aprender também. Mas por acaso acho que EDUCAR é tarefa dos pais.
Gostaria de saber como se sentiria, caríssima Petra, se alguém a julgasse a si assim levianamente, como aqui julgou os professores...
Não estou a defender a Nat. Estou a defender-me a mim.
Não há nada pior do que pessoas que descarregam as suas frustrações nos outros. Já pertenci a um fórum de animais onde as pessoas eram todas assim, agressivas e histéricas.
Eu não sou educadora, mas sou mãe e compreendo perfeitamente a tua frustração em relação a alguns dos teus alunos. Quantas e quantas vezes me apetece virar as costas e voltar horas depois ou não voltar de todo... Quantas e quantas vezes me apetece dar um tareão na minha filha mais velha quando ela revela comportamentos q não lhe foram ensinados cá em casa, mas fico-me pela conversa ou um "enxota moscas" no rabo.
O essencial é que não te deixes abater por comentários de pessoas que precisam de ajuda do Freud... Só tenho 30 anos, mas já aprendi que quem se exalta tanto com a vida dos outros é pq não tem vida própria ou a vida com que sempre sonhou, vá-se lá perceber!?!
beijocas
Eu não estou triste, queridas amigas minhas :)
Fiquei foi chocada com a convicção com que me acusaram de não ter jeito para dar aulas. Às vezes sinto-me incompreendida mas sei que na maioria das vezes tenho muita gente pronta a defender o mesmo ponto de vista que eu.
Pena que também não escreva e me gabe aqui dos magníficos progressos da minha querida aluna com Trissomia 21. Tenho a certeza de que sou boa no que faço. Posso não ser genial mas sou boa e faço-o com muito amor.
O que me fez reflectir foi a possibilidade de mais alguém pensar assim e não se manifestar e devo agradecer à Petra pelo comentário, apesar da agressividade e do tom azedo.
Muitos beijinhos e obrigada a todas!
Não, não precisas.
Pois não, linda, não precisas de escrever.
Concordo plenamente e faço minhas as palavras da Alecrim (excepto que nunca fui professora - talvez ainda venha a ser...).
Só me preocupa q te faça sentir mal este tipo de comentários - não deixes! Eles não merecem - mesmo! Tu e eu sabemos que eles andam aí (e tu e eu já ouvimos tantas vezes esta toada... tá lá tudo: "é por isto que (...) Portugal está cada vez pior", "já ninguém faz nada", só falta o meu preferido "são todos iguais!"). Mas tu e eu sabemos que não temos nada a ver com eles, pq intervimos, tomamos posições, fazemos o que sabemos com alma e... somos boas no que fazemos! ;)
Grande Natacha, muito amor p ti.
As vezes perde se tanto por tar calado...
por nao tar calado ;)
Querida Nat:
apesar de o comentário da Petra poder ser ou não desnecessário (eu acho que foi desnecessário) o mundo dos blogs é mesmo assim. Mostramo-nos ao mundo mas mostramos o que queremos. Umas/uns mais, outras/outros menos. O nosso lado bom ou às vezes nem por isso. O mal está em certas pessoas não perceberem que o que nós somos não é apenas o "pequeno mundo" que aqui postamos - e logo nos rotulam de bons ou maus.
E isto acontece seja qual for o tema da conversa - seja sobre educação, seja sobre sexo, seja sobre religião.
Mas no mundinho dos blogs acontece o mesmo que lá fora no "mundo real". Para sempre todos nós haveremos de estar sujeitos aos olhares dos outros e principalmente sujeitos às leis daqueles que acham que o que pensam e aquilo que acreditam e que proferem é o correcto e é a VERDADE. Às vezes sem sequer tentarem perceber se o que dizemos num dado momento é TUDO aquilo que somos.
Mas é assim a vida e penso que o segredo é tentar aprender a viver não só sem interferir na vida dos outros mas também aprender a não deixar que os outros interfiram na nossa. Eu ando a tentar aprender :o)
Beijocas grandes.
Bem, eu só acho que não faz sentido nenhum. Quem lê realmente o que tu escreves percebe um pouco da tua essência. Parabéns pelo teu esforço e trabalho.
Há sempre pessoas que nos julgam mal. Quando sinto que me julgam injustamente penso smpre para mim: "se esta pessoa ficar o tempo suficiente na minha vida mudará de opinião, se não ficar nem vale o esforço ou a tristeza"
O mundo funciona mal, entre outras coisas, porque: os tontos andam sempre cheios de certezas e os inteligentes cheios de dúvidas...
Nat, minha ultra querida Nat,
Concordando com tudo o que foi dito por quem te acompanha e te quer muito bem nesse mundinho digital, micro cosmos também, só quero te dizer que vc, como sempre, usou sabiamente o comentário da Petra:
-Você respondeu e agradeceu!
-Você refletiu sobre o assunto;
-Pensou como isso funciona, de forma madura e nada ingênua;
-Concluiu e voltou a se afirmar em sua convicções que, por serem genuínas, são ultra-válidas.
-Não generalizou (como ela e a maioria), relativizou e colocou tudo no lugar.
-Encerrou o assunto, mais sábia e firme.
Que charme.
É por isso e muito mais que sou muito sua FÃ!
Beijos gordos,
Lu-The One ';)
Bem, eu so gostava que m dia quando tiver filhos e esses filhos forem para a escola, encontrassem pelo menos uma professora como tu! :)
Pelo Carinho e Pela dedicaçõa, não apenas por seres a Nat que eu conheço...
É verdade.. Já vi o Livrinho! :) está Lindo, lindo lindo!!!
Beijinhos
Antes de mais queria felicitar-te pelo excelente trabalho como professora :) relatado, e bem, por ti!
Passei assim, como que derrepende e fiquei fascinada, mesmo porque eu como tu, professora, do 2º e 3º ciclo de Educação Visual e Tecnológica e Educação Visual...vivenciei algumas dessas fantásticas experiências, e do gosto que mais ninguém compreende que é de fazer uma criança soltar-se, indo ao encontro da sua expressão artística indivudual.
É um arduo esforço, o ser professor e aluno, mas muito compensador.
“Para ser eficaz, a educação e, sobretudo, a aprendizagem ao longo da vida devem ter em conta a evolução dos sistemas conceptuais envolventes. Através da educação é a aptidão para a cidadania que deve ser desenvolvida no sentido de uma cultura que valoriza, ao mesmo tempo, o conhecimento e a capacidade de acção racional, na perspectiva de aliar a razão e a criatividade. Se a formação da razão existe actualmente nos nossos sistemas educativos, o desenvolvimento da criatividade e da aptidão para as mediações culturais está por levar à prática.”
(Parecer nº1/2001 do Conselho Nacional de Educação)
Queria referir que admiro a tua vontade de querer ser diferente como professora e de demonstrares ao mundo a tua forma de estar, independentemente de criticas ou de conversas menos agradáveis.
Parabéns mais uma vez, foi um prazer conhecer o teu espaço :)
bjos
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