O ser humano é aquele animalzinho que tem pêlo onde não é preciso e se apega aos objectos. Pega neles e acumula-os no seu ninho. Não para se alimentar nem se aquecer. Guarda-os, simplesmente. Dizem que os objectos fazem bem ao coração deste pequeno mamífero.
Eu sou muito humana, pobre de mim. Apego-me à vida dos objectos, à memória que eles transportam. Acumulo lixo, na prática é só isso.
Estes sacos trazem pedacinhos de vida. Vida dum cão que viveu 13 anos, que se tornou parte da família e que usava a sua inteligência para alcançar e comer às escondidas todos os alimentos proibidos.
O tecido velho e roçado, tão anos 80 e já com metade da cor original, foi onde a Boxi passou muitas horas deitada, nas férias em Afife, com os seus tumores gigantescos pendurados por todo o corpo. A Boxi morreu e foi para o céu comer todo o chocolate que não pôde comer em vida. O tecido ficou e não é justo dar-lhe outro uso. Tirar-lhe a memória da Boxi, tão cheia de sentido de humor e meiguice, mesmo quando já estava a ser consumida por um cancro.
Pedi o tecido à minha Teia para fazer um saco para mim. Mas estes dois são para ela e para a mi primi. Nem me interessa se é macabro ou fashion. Aquece-me o coração.
Quando desfiz a bainha ao tecido encontrei pêlos intactos que sobreviveram às lavagens. Pedacinhos da Boxi. Até o cheiro dela voltou quando o passei a ferro.
Ilustração: eu na máquina de costura, o tecido, os sacos e a minha lamechice toda. E por cima de mim a Boxi-cachorrinho, com asas de anjinho e a rir-se deste meu ateísmo-espírita-pateta, a coser pedacinhos de quotidiano, quando o que realmente importa é comer porcarias.
Feliz aniversário mi primi. Parabéns Teia quereida. Os sacos chegam aí amanhã. Muitos beijos repenicadinhos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
16 comentários:
Tinha achado os sacos lindos, mas depois de ler a historia que está por trás deles passei a gostar ainda mais. Não não é nada macabro, antes pelo contrario, é um gesto bonito...
Concordo com a Sofia.
Memórias palpáveis, pelos intactos e cheirinho de alguém que se ama para a vida toda e que, em anjo, ri de tudo (lambuzada de chocolate).
É a morte. É assim: é que o fica na nossa memória. E é palpável, sim! Aquece o coração.
:)
teeeiiia quereida:):)
tou com no na garganta e lagrima a querer sair...
bobo:(:(
teve um fim tao trabalhoso e doloroso para mim que so agora passado um ano da sua morte eu sinto uma saudade infinda da inteligencia e personalidade quase humana da minha boxy
obrigada pelos sacos, opelos pelos e pelo cheiro que ainda hoje eu sinto em recantos da minha casa.
so quem tem um cao-pessoa por treze ou mais anos pode entender as minhas e tuas palavras sem as achar minimamente macabras.
sao amor e saudade por alguem que preencheu tanto a nossa vida. bigada:):)
tão bonito :)*
Não é parvo nem macabro, eu tb sou assim, guardo td, porque td tem memória e sinto-me aconchegada por saber que tenho tudo guardadinho.
beijocas grandes
lindo, lindos.
Parabéns Ritinha.
e fizeste festinhas na barriguinha da anjinha?
história linda com mais uma lagrimazinha no canto do meu olho!
:)
:`) Obrigada mi primi!!!!!!
mas que ideia maravilhosa!
=)
... só mesmo tu!!
Só mesmo tu miúda :o)
Que ternura :o*
Adorei a forma como reaproveitaste o sentimento. Tenho uma colcha igual, com o mesmo padrão, que era da minha mãe, em tons de rosa e laranja. Usei-a enquanto estive na faculdade.
Estou arrepiada.
Adorei o post e todo o amor que puseste nestes sacos.
És tããããããããããããooooo fantástica!
E ainda por cima os sacos estão lindíssimos :)
Beijinhos
Querida Nat, confesso que fiquei comovida ao ler este post. O teu amor pelos animais é LINDO!!!!
Lindo, lindo o teu post!
Bateu-me forte... a sério!!!
O tecido, coçado,com uso extra, com pêlos do "cão-pessoa", não podia ter melhor fim!
Beijo linda... beijo do *heart*:)
Anita
Olá!
Como compreendo... :(
vem cá a este lado, sim?
http://avidadestelado.blogspot.com/2008/02/descana-em-paz.html
Enviar um comentário