18 de outubro de 2007

os outros

Ainda sobre o velhinho na passadeira. Escrevi sobre o sucedido não apenas para desabafar, mas também e acima de tudo, para partilhar com aqueles que vêm aqui, aquilo em que acredito. Acredito que a maioria das pessoas ajudaria um senhor caído. E por isso fiquei tão surpreendida com aqueles segundos em que ele se esforçava por se levantar sozinho sem que ninguém aparecesse. Fico satisfeita por ver tanta gente tão revoltada quanto eu. E fico também com a esperança de que quem tenha lido e ficado sensibilizado, numa situação semelhante reaja imediatamente, em vez de ficar a pensar, paralisado, que se calhar chega lá alguém primeiro, se calhar a pessoa vai reagir mal de eu ir lá mexer-lhe, não é preciso ir lá que ela levanta-se num instante, etc.. Acredito que simplesmente há uma enorme falta de estímulos ao nosso lado mais lamechas. Há um pudor, uma vergonha das emoções, de onde resulta essa enorme distância que mantemos entre nós e os desconhecidos. Não acho que toda a gente deva reagir como eu que tenho uma assistente social compulsiva aqui dentro. Que chego logo com sorrisos e afagos, com quase-beijinhos-e-abraços. Mas posso garantir que bem melhor que me imaginar a esbofetear aqueles dois idiotas que ficaram no carro a ver a cena, é saber que a seguir podiam cair eles, que iria ajudar também.
Semeemos amor por todo o lado. Como cantaria a minha Binhas, apaixonada pelo Rui Veloso e pelo Julio Iglesias ao mesmo tempo: Amor! Amor! Amor!*

7 comentários:

Tereclopes disse...

Quanto mais leio o que escreves mais parecida te acho com a minha filha Marta a "Benjamim " da família. Essa vivacidade que transmites nas palavras, esse montão de emoções sempre pronto a sair sem preocupação em fazer barulho... enfim acho-vos muito parecidas. Continua assim, não mudes, deves ser "uma casa cheia" tal e qual a minha Martinha.
Beijocas

framboesa disse...

sabes muitas vezes penso se essa gente não será o resultado de tanto noticia malvada que se ouve e se lê, é claro que o instinto e o impulso será sempre de louvar, mas quando vou ao Porto vulgarmente tranco as portas do meu carro e não gosto de ficar muito tempo parada num sinal vermelho!!!não é desculpa eu sei, mas também penso assim, dequalquer forma é sempre de ficar sem palavras...

Marta disse...

Percebo-te. Sai-me por instinto. Há uns tempos atirei-me para a linha de comboio para ir buscar uma cadela que andava perdida e sujeita a ficar debaixo do comboio. Até me esqueci das minhas coisas (carteira, pasta) e ainda fui criticada. Toda a gente a ver e nada se fazia. Faço isso pelos animais, porque não faria pelas pessoas?

sapatinhos de verniz disse...

Todos nós temos essa "assistente social" (como disseste) dentro de nós!
O que existem são pessoas cuja assistente social reformou-se antecipadamente, ou está de baixa...
Concerteza que nesse dia, deixaste as pessoas do carro a pensar! E a primeira sensação que lhes provocaste com o teu gesto tão natural e bonito, foi a sensação de vergonha e inutilidade!
Esperemos que essa sensação lhes traga uma abertura de consciência, que permita que eles passem mais a sentir e a reagir, do que a ignorar!
Para ti um bom fim-de-semana!
Abraço

Anónimo disse...

Nació de ti...
Nació de mí...
Y de la esperanza!!!

:)

Mónica disse...

Do lado de cá da montra da loja onde trabalho, tenho visto vários acidentes deste género,pessoas que caem porque tropeçam ou se sentem mal, e só não ajude se não for a tempo.
Mas aqui para o Alentejo, toda a gente se mostra pronta a ajudar nestas situações, nem que seja para ter motivo para conversar depois.
Da ultima vez, uma senhora caiu junto com o seu trolley, duas pessoas chagaram antes mesmo de eu ter tempo de ma levantar da cadeira e o senhor do carro que ia a passar saiu imediatamente para ir ajudar também.
Nestes casos as pessoas nem pensam no transito.
Mas já me aconteceu cair ao sair de um café para a esplanada e ninguém perguntar sequer se eu me tinha magoado...

Mónica disse...

Eh pá, dei um monte de erros!
Sorry...