2 de maio de 2008

sempre na mesma direcção

Ontem, enquanto ajudava duas alunas a desenhar a lápis de cor e marcadores um par de canecas, elas contavam-me o que os professores lhes ensinaram na escola. Uma tem menos dez anos que eu, a outra tem mais trinta. "Riscar sempre na mesma direcção!"
Dão-me luta. Não elas, que são uns amores, mas os preconceitos que lhes enfia(ra)m nas mentes. Exorcizo-as e rimo-nos muito. De cada vez que a L se queixava de não conseguir, eu fingia chicotear o seu professor (que além de tudo, batia muito nos alunos) que imaginávamos nu, de castigo, virado para a parede da minha sala a riscar em todas as direcções. À F disse-lhe que na próxima vez que a sua professora de Educação Visual lhe dissesse que é sempre na mesma direcção, ela respondesse que sim, é sempre na mesma direcção: a que eu quiser. Embora isso possa dar mau resultado, ora pois...
Vem-me à cabeça a história do céu azul. Queria entender por que motivos somos reprimidos desde bebés com conceitos e regras tão castradores da criatividade e expressão. A monotonia sempre presente do certo e do errado e do vazio que se finge haver entre eles.
Estavam todos errados, os que ficaram famosos. O Degas, o Picasso e o Christo. Todos uns maus alunos. E a Paula Rego também. Todos.

Observem-se nuvens e céus de tempestade, de nevoeiro, de madrugada, de anoitecer e de noite profunda. E risque-se em todas as direcções! Libertem-se as mentes, por favor, que os meus alunos andam a desenhar como se estivessem algemados.

8 comentários:

di disse...

:) liberdade!

Li* disse...

estamos ctg =)

sapatinhos de verniz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sapatinhos de verniz disse...

Alunas?!
Isso quer dizer que também dás aulas a gente 'graúda'?!
Também quero!

Em relação ao que falas, é verdade!
Passamos uma vida inteira a ser convencidos duma série de situações, que nem quem nos as ensina, parece acreditar ou estar assim tão certo! Como se fossemos feitos de plasticina e alguém se julgasse no direito de nos moldar!
Mas agora, cabe-nos a nós despertar e encontar quem somos de verdade, conectando-nos com o que sentimos de forma a sermos cada vez mais GENUÍNOS!!!

Lulu disse...

Estava agora tentando explicar ao J que o saber do passado é importante para a nossa identidade, mas pode não ser tão fundamental assim, apenas no sentido de condicionamento e compromisso com o passado (e seus dogmas). Quis lhe contar que Leo da Vinci, como era filho bastardo, não teve direito a uma educação clássica e, por isso foi considerado o primeiro pensador moderno. Ora, como renascentista, como poderia não ter influência dos 'clássicos'? Seria um paradoxo... mas o que tem de interessante é que a sua genial mente de criança NÃO estava formatada com as velhas form(ul)as e teve liberdade suficiente para poder romper as "algemas". Mas o J nem me deixou concluir a história...
Beijo na Nat D'Arc

macati disse...

e eu digo-lhes que nas composiçoes podem inventar pois tenho mais que fazer do que ir ver se o que escrevem é realidade ou nao e eles riem-se... e escrevem a verdade e nao sabem como a escrever... suspiro!

Sofia Quintela disse...

Pois é estás tão certa, eu bem insisto com os meus meninos que podem escrever tudo o que realmente lhs apetecer, o mais incrivel dos incriveis e eles tão pequeninos já estão formatados e escrevem todos a mesma coisa, é igual como no desenho, só conhecem uma determinada realidade, mas este ano saem da sala totalmente libertos das castrações anteriores.lol

Tereclopes disse...

É verdade! sem dúvida.
Beijinhos