Na 6ª fui para o Porto, rumo à parede dos anos 80. Contava escrever um post no Sábado a avisar que só voltaria hoje mas a Di "fugiu" com o computador e eu fiquei subitamente sem net, sem mail, sem blog, sem tudo.
Durante quatro dias pintei de manhã até à noite. Dez horas por dia. No primeiro dia - o mais difícil de todos - desenhei até já não me aguentar em pé. O desenho é um acto mental (a pintura também, já dizia o da Vinci) tão violento que eu gostava de ver o meu cérebro examinado enquanto desenho. Cheguei a casa da Di, deitei-me e dormi 12 horas. No dia seguinte a mesma coisa, de maneira que na terceira manhã de trabalho, quando me vi ao espelho, tinha a pele mais maravilhosa que a dum bebé, os olhos vivos, brilhantes e uns lábios de top model (nunca pensei que a treta do
sono=pele bonita fosse tão verdadeira).
Na 2ª fiquei sozinha também na casa da pintura. Horas e horas sozinha. Pincéis, tinta, lanchinho, água, parede parede parede. As únicas palavras que me saíam da boca eram das músicas dos desenhos animados que estava a pintar e um ou dois palavrões ditos à boa moda do Minho, de cada vez que me enganava ou ficava com as pernas adormecidas. Acho que nunca estive tanto tempo sozinha.
Brunim... Garfield... o meu blog... o meu blog... o meu mail...
Dormia na casa da Di e trabalhava na casa do João. Duas casas tão arrumadas, o silêncio das horas e horas em frente à parede, o fim do dia com a televisão. E salame de chocolate para me consolar. Quase tive uma crise existencial.
[Numa das manhãs, ao tentar cortar um pão duro, fiz pontaria ao pão, enfiei a faca no dedo (o pão a rir-se), o dedo começou a jorrar sangue como eu nunca vi, enfiei-o debaixo de água e ele não parava, corri para a casa de banho e pensei no CSI a analisar as gotas no chão, o dedo a esguichar, eu a falar sozinha e a descoberta de que na casa duma enfermeira não há pensos rápidos nem gaze nem adesivo. Valeram-me o papel higiénico e uns momentos de mão para o ar a ver bonecos na rtp2. Depois fiz um penso com fita crepe e pintei normalmente.]
Anteontem a Di voltou. Falei tudo o que acumulei durante dois dias, tanto e tão descontroladamente que até me cansei de mim própria.
Ontem terminei a pintura às 23h30. Completamente exausta. Já sem ver direito o que faltava, sem conseguir concentrar-me e a já só pensar na minha casinha desarrumada.
Mas tirei fotos e fico tão feliz de as poder partilhar com quem veio aqui estes últimos dias e deu de caras com o mesmo post de 5ª feira... peço desculpinha.












Melhor que desenhar, pintar, (re)criar, é ver a felicidade e surpresa das pessoas para quem pinto.