Mais um desta série. Parece que estou preparada para deixar partir alguns dos meus quadros mais queridos.
Este foi o último trabalho que fiz após cinco anos de Desenho na faculdade.
Eu reprovei no primeiro ano de Desenho. Tive um 9. É irónico... em dezassete anos de escola, reprovei a uma única disciplina. Físico-química? Matemática? Não. Àquela em que aprendi e explorei aquilo que é hoje o que mais gosto de fazer. Desenhar.
Trabalhei exaustivamente a cara da Nhocas. Desenhava e apagava, desenhava e apagava, até me cansar. Já me sentia capaz de a desenhar de memória, então a necessidade de apagar o que tinha levado minutos ou horas a fazer já não me assustava. Pelo contrário. O acto de apagar tornou-se uma forma de expressão tão importante como o de riscar. Pude assim concentrar-me muito mais na importância do suporte - a colagem - e do espaço vazio na composição. Há coisas que só se aprende fazendo e repetindo dezenas de vezes.
Lembro-me que neste quadro o retrato esteve "concluído". Todos os pormenores da cara definidos. A orelha e parte do cabelo também. Depois peguei na borracha e apaguei sem medo (fascina-me a ideia de olhar para um papel em branco sabendo que já lá esteve gravado um desenho demorado - pois), até ao momento em que me senti confortável. Dei-o por terminado. Mas quando me apercebi do que restara pensei: Apaguei quase tudo. O professor vai matar-me.
Na avaliação final destes meus trabalhos o professor (ironicamente, o mesmo que me reprovou quatro anos antes) parou de falar quando olhou para este. Eu congelei por dentro. E ele disse: "Este é o melhor."
Deu-me um 17. E eu suspirei de alívio e muito orgulho.
O "Autobiografia 2" está pronto a partir para outra casa que não a minha. Aqui.
:)
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7 comentários:
Tão interessante a forma como descreves o processo de criação deste quadro...
Beijinhos da Ana Cristina
mas que bem!!!
É bonito. Mas mais fenomenal é como eu sinto que ilustra bem o poema e os sentimentos que descreveste. O apagado é essencial nesse meu sentir.
Engraçado foi também o que disseste, que apagar foi uma forma de expressão tão importante quanto o traçar. Percebi e gostei de o aprender.
Muitos beijos, Rita
A depressão é coisa q só se entende quando se passou por ela.
Natacha tu és uma Artista e por esse e por outros motivos tenho muito orgulho em te conhecer :)
beijocas
está tão bonito.. impecável a forma como descreves todo este processo criativo... coragem de apagar... humm é preciso memso coragem! :)
Desculpa estar a "melgar-te", o teu blogue faz parte dos meus blogues vícios...
se puderes partilha no teu blog, ou faz menção a este blogue...
http://cerebro-liso-lisencefalia.blogspot.com/
(Sorri Ratinho)
encontrei este blogue há pouco tempo e não consigo deixar de ficar indiferente
e acho que está precisar de divulgação.
obrigado pela tua atenção.
;o)
Pudesse e ficáva-te com os 2... ainda por cima tâm as cores do meu novo atelier :o)
Gosto muito de qualquer um deles e é muito interessante o processo da execução deles.
E quanto ao te "veres livre deles", chega a um ponto em os sentimentos e feitos passados seguem o seu caminho e deixa de fazer tanto sentido tê-los por perto.
:o*
:)
O quadro está muito bonito!
Ainda bem quee estás de volta! Já tinha saudades!
E que saudades que tenho da menina que está pintada no quadro!
Beijinhos grandes!
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