Ontem, enquanto ajudava duas alunas a desenhar a lápis de cor e marcadores um par de canecas, elas contavam-me o que os professores lhes ensinaram na escola. Uma tem menos dez anos que eu, a outra tem mais trinta. "Riscar sempre na mesma direcção!"
Dão-me luta. Não elas, que são uns amores, mas os preconceitos que lhes enfia(ra)m nas mentes. Exorcizo-as e rimo-nos muito. De cada vez que a L se queixava de não conseguir, eu fingia chicotear o seu professor (que além de tudo, batia muito nos alunos) que imaginávamos nu, de castigo, virado para a parede da minha sala a riscar em todas as direcções. À F disse-lhe que na próxima vez que a sua professora de Educação Visual lhe dissesse que é sempre na mesma direcção, ela respondesse que sim,
é sempre na mesma direcção: a que eu quiser. Embora isso possa dar mau resultado, ora pois...
Vem-me à cabeça
a história do céu azul. Queria entender por que motivos somos reprimidos desde bebés com conceitos e regras tão castradores da criatividade e expressão. A monotonia sempre presente do certo e do errado e do vazio que se finge haver entre eles.
Estavam todos errados, os que ficaram famosos. O
Degas,
o
Picasso e o
Christo. Todos uns maus alunos. E a
Paula Rego também. Todos.
Observem-se nuvens e céus de tempestade, de nevoeiro, de madrugada, de anoitecer e de noite profunda. E risque-se em todas as direcções! Libertem-se as mentes, por favor, que os meus alunos andam a desenhar como se estivessem algemados.