8 de setembro de 2007

cabeça de vento

Ontem fomos à feira. Eu, inspirada pelo Ikea, fui decidida a comprar umas almofadas para o sofá e umas rodinhas para a mesa de cabeceira (na loja de ferragens ao pé da feira).
Somente depois de chegar a casa, pôr as almofadas no sofá, sentar no sofá, aparafusar as rodinhas à mesa de cabeceira, virar o quarto de cangalhas a ver se ficava mais "Ikea", arrumar tudo tudo tudo, tirar roupa do estendal, varrer e ver televisão... somente depois disto tudo, apercebo-me de que não tenho a minha carteira comigo. E conhecendo o meu magnífico cérebro, soube que era bem provável que durante a arrumação a carteira tivesse ficado na caixa de ferramentas, numa gaveta, no frigorífico, no lixo... Revirei tudo. Tudo! E nada. Comecei a pensar no B.I., no cartão multibanco, na carta de condução, nas notas de 20 euros que me lembrava de ver lá dentro e comecei a ficar com um nó na garganta, pois não me cabia na cabeça poder ter deixado a carteira largada num balcão ou numa das tendas da feira.

Liguei para a loja de ferragens, após uns minutos dramáticos de páginas amarelas. Nada da carteira. Só me restava ir até à feira. E depois passar na polícia. Merda pá, agora vou ao sol da uma, vou ter de procurar lugar para estacionar, vou ter de isto e de aquilo e no fim não há carteira para ninguém! Bem feita por seres desarrumada. Bem feita por andares com a mochila aberta. Bem feita! E de repente lembrei-me da ladra mijona e do Sr. Avelino que afinal não era Avelino. E ainda com o nó na garganta, comecei a pensar que não. Que eu sou é boa pessoa. Que jamais ficaria com uma carteira encontrada, que jamais roubaria uma notinha, mesmo que encontrasse 500 euros. Jamais. E depois pensei no senhor da loja de ferragens e em como ele embrulhou as rodinhas, e na simpatia do senhor das almofadas. E senti que eu mereço estar rodeada de boas pessoas, honestas como eu e que a minha carteira apareceria.

Cheguei à feira.
"- Escolha, menina.
- Boa tarde, eu vim aqui de manhã, levei duas almofadas quadradas, lembra-se?
- Ah sim.
- Eu perdi a minha carteira!...
- Ah então é sua! "

O meu alívio.
A carteira intacta, o cuidado do senhor ao pedir-me que primeiro descrevesse a carteira, o quase-pedido-de-desculpas por ter mexido nos documentos à procura dum número de telefone, o Veja se está tudo direitinho e os meus duzentos muito obrigadas. O nó na garganta que não se desfez porque eu queria mesmo era abraçar o homem e dar-lhe uns beijinhos ou comprar-lhe mais almofadas, mas vim para o carro, e outros três feirantes viram tudo e eu pensei Vêem que bem? Isto é a lei da atraçom!

A verdade é que eu acredito que tudo o que faço, volta multiplicado. Acredito em coisas a que muitos chamarão Deus. Mas não falo nisso porque quem fala muito nisso com alguém que não está receptivo, passa por muito tolinho e eu já tenho a minha reputação em risco.


11 comentários:

Pedro M. disse...

Acordei há bocado, cheio de mau feitio e muito susceptível a estímulos negativos, depois de ter dormido pouquíssimo. Por isso, ao ler o que se passou, não consegui evitar um nó na garganta de solidariedade (porque foi através do teu blog que descobri os bonequinhos do mondopanno, ainda que ninguém se digne a responder ao meu mail).

Portanto, ainda bem para ti (e milimetricamente, para o meu feitio), que a "justiça kármica" acabou por ser feita ;)

Anónimo disse...

Que sorte a tua!
Eu também acredito que aquilo que fazemos nos é dado em dobro e sobretudo o mal que se pratica se paga nesta e não em outras vidas.
Bom fim de semana ;o)

Anónimo disse...

"Acredito em coisas a que muitos chamarão Deus. Mas não falo nisso porque quem fala muito nisso com alguém que não está receptivo ..."
Não sei se acreditamos nas mesmas coisas, mas percebo-te perfeitamente :) Bom fim-de-semana*

Anónimo disse...

Boa, linda!

Ao q descreves (tão bem) eu chamo A Ordem Natural das Coisas. E chamo Eu, também.

Feliz por ti, hoje e sempre.

Bj.

Unknown disse...

Todas as acções que fazemos são retribuidas em dobro, as boas e as más.
Ainda bem que encontras-te a tua carteira.
:))

Eunice Rosado disse...

Que bom!!! Eu também acredito e concordo contigo ;)

Anónimo disse...

Que bom que esta aventura acabou bem. Posso não concordar totalmente contigo em ralação ao 'get what you give'? Porque eu, quando estaciono, tenho sempre cuidado para não danificar os carros ao lado, abro sempre a porta à minha filha para me certificar que a porta dela não bate, vou estacionar mais longe se o lugar que quero não me permite abrir a porta com facilidade para tirar o pequenito na cadeira, se se encostam demasiado a mim, vou por outra porta para não ter de encostar a minha... Enfim, tenho imensos cuidados não só com o meu carro, mas tb com o dos vizinhos. Acontece que o meu antigo carro foi riscado quatro vezes e o actual, apenas com dois meses, já teve direito, de uma só vez, a três riscos, uma amolgadela e restos de tinta do 'assassino'. Se eu tivesse um laboratório à CSI, juro que o apanhava... assim, limito-me a esperar que da próxima vez, pelo menos, me deixem um bilhete a dizer 'dificilmente me apanharás'.
Sandra Silva, V.C.

Anónimo disse...

Concordo que tudo o que fazemos volta para nós em dobro...por isso é que para ti tudo volta em dobro de bom...Muitas beijocas minha manoca curida. Nhocas

Anónimo disse...

És a minha cunhadinha linda
mereces tudo de bom :)

rosinha_dos_limoes disse...

Ri-me com a da tua reputação em risco ... e a tua carteira é MUITO GIRA!

Lulu disse...

Realmente somos da mesma tribo.
Te adoro!