Lembro-me de estarmos naquela esplanada em frente à tua casa em São Brás de Alportel, Di. A dona do café chamava-se Rute e fazia umas sobremesas com natas e leite condensado e bolachas oreo e sei lá mais o quê. Já não me lembro do que é sentir um calor assim, como o do Algarve. Eu estava com a mente em farrapos mas sentia optimismo e esperança, como sinto sempre que estou ao teu lado. Lembro-me de lermos revistas de fofocas e lembro-me de sentir que um bom café era um dado adquirido, assim como era ter-te comigo, ir de carro para a praia, abraçar-te. Se nessa altura me dissessem que um dia eu pagaria duas libras e meia por um café intragável e que ficaria mais de um ano e meio sem estar contigo, eu rir-me-ia com desdém.
Eu que nem gosto do Natal, queria só mesmo era aproveitar que a família ia estar toda reunida para lhes mostrar o Diogo. Sobretudo mostrá-lo à minha avó, para ela viver o ser bisavó, que mesmo que ela não saiba, isso ninguém lhe tira. Queria vê-los frente a frente, dois bebés que esquecem o que se passou numa questão de minutos.
Se o mau funcionamento do consulado não nos parou, nem o serviços que contactei e a quem apelei (implorei?) para que me dessem o cartão do cidadão do Diogo (já pronto há mais de um mês) para podermos viajar com ele, parou-nos a tempestade que cortou a electricidade em toda a zona de Gatwick. Quando ouvi que os voos da tarde tinham sido todos cancelados só me deu para rir.
Ainda bem que não ligamos nenhuma ao Natal, porque assim ver o meu filho no colo do pai a ver o Nemo na televisão e a mamar nas mãos foi suficiente para me consolar, assim como as batatas fritas e crepes chineses que jantámos.
Hoje a minha mente está cismada em quem vive em Lisboa e não vai ao largo das Portas do Sol num dia de céu azul, quem tem um café a servir Delta ao lado de casa, quem tem como opção passar o Natal com a família, quem pode abraçar os melhores amigos frequentemente. E pensa que tudo isso são dados adquiridos.
26 de dezembro de 2013
14 de dezembro de 2013
6 de dezembro de 2013
ele
Há um ano exactamente começava (ainda sem sabermos) o dia 1 da nossa gravidez. Hoje temos cá em casa um menino que parece ter nascido com um relógio. Que de um momento para o outro começou a querer comer de 4 em 4 horas e que de vez em quando dorme a noite inteira, deixando-me a mim e às minhas amigas leiteiras muito confusas. Aprendeu a diferença entre noite e dia ainda muito pequenino e como de noite é um anjo não me queixo das (também pontualíssimas) birras de sono que faz durante o dia. A birra das 11 da manhã deixa-o irreconhecível por cerca de 20 minutos, com direito a cara lavada em lágrimas, esbracejar, espernear e arranhar. Cai para o lado exausto e aos soluços. 40 minutos depois acorda com as sobrancelhas ainda vermelhas mas muito feliz e cheio de charme, desfaz-se em sorrisos e gracinhas e os dois sofremos duma amnésia que dura até ao dia seguinte, à mesma hora.
27 de novembro de 2013
o meu livro
Foi há um ano que eu me demiti e decidi que seria escritora e ilustradora de livros para crianças. Um ano, novo emprego, muitas lágrimas, muitos muitos risos e um filho depois, aqui estou a pô-lo à venda. Caseirinho como eu o quis, e assim será até ao dia em que uma editora o queira também. Já vai na terceira edição, porque fui contida e mandei fazer pouquinhos de cada vez. Graças à família, amigos, amigos de amigos e ao facebook as duas primeiras edições venderam como pãezinhos quentes. Desta vez é uma série de 100, cada cópia numerada e assinada por mim. Estou tão feliz.
Para comprar ou obter mais informações, por favor enviar-me um email para natachapintas@gmail.com. O Diogo manda beijinhos e agradece a todos pelas mensagens e comentários amorosos.
Para comprar ou obter mais informações, por favor enviar-me um email para natachapintas@gmail.com. O Diogo manda beijinhos e agradece a todos pelas mensagens e comentários amorosos.
15 de novembro de 2013
cartão do cidadão
Ver a foto de passe do meu bebé com as minhas mãos a ampararem-lhe a cabeça, altura 60 cm, estado civil solteiro, ausência de impressões digitais por serem demasiado pequenas para o computador as ler e a frase "não sabe assinar" deu-me vontade de o engolir e voltar a guardá-lo na minha barriga.
12 de novembro de 2013
o parto
Talvez eu recupere da experiência que foi trazer o meu filho ao mundo lá para 2033. Todos os dias olho para ele e custa-me acreditar que haja momentos na vida tão perfeitos. Escrevo este post para nunca me esquecer dos pormenores (talvez isso aconteça lá para 2083), para as minhas pessoas queridas a quem ainda não contei como foi, e sobretudo para que fique relatado e público aquilo que nos aconteceu. Fartei-me de ler sobre partos, ver vídeos e documentários, e parece-me que nunca é demais saber de mais um, porque a experiência de cada mulher que opta por se expor contribui e contribuiu para o que eu decidi (no que estava ao meu alcance) que o meu parto seria. Então aqui fica o meu bocadinho de mãe natureza, que espero que inspire alguém como tantas histórias de partos felizes me inspiraram a mim.
No dia antes de o Diogo nascer a minha barriga ficou mais arrebitada que nunca. No dia do parto o umbigo estava a apontar para baixo. Lembro-me de comentar isso com a minha mãe e ela concordar. Tínhamos andado a ouvir meditações e hipnopartos no youtube e eu estava incrivelmente relaxada. Aprendi no workshop de preparação para o parto que quanto mais tempo estivermos no nosso ninho, mais oxitocina se liberta e mais depressa o trabalho de parto avança. Assim fiz. Comi uma tigelona de guacamole e pensei se deveria carregar no chili, para dar um empurrãozinho ao bebé... não foi preciso.
Às 39 semanas o meu filho lia-me os pensamentos. Se antes ele começava a pontapear esfomeado no momento em que eu preparava uma refeição, nessa altura bastava-me pensar em comer guacamole e o Diogo começava um festival de breakdance.
Costurei a fronha que me faltava para terminar de forrar o sofá, enfiei a almofada lá dentro à (tanta) força e transpirei tanto que tenho a certeza que foi isso que me fez entrar em trabalho de parto. Fui à casa de banho e senti um duplo-clique na minha barriga que me fez parar por um segundo, mas continuei com a minha vidinha. Mal eu sabia que as águas tinham rebentado. Eram 14h30 quando me sentei no chão e a minha mãe tirou as últimas fotografias à barriga. Nesse momento senti água a sair e disse-lhe "não vais acreditar..." e então começou a aventura. Começou uma maratona de pensos higiénicos mas pouco mais do que isso, porque eu achei que só daí a muitas horas é que mais alguma coisa aconteceria. Só telefonei ao Faneca para o informar e disse-lhe que não precisava de vir para casa. Também mandei uma mensagem a uma amiga que vinha a caminho para nos visitar a dizer que não se assustasse mas que o Diogo estava a caminho. Podiamos lanchar juntas na mesma e relaxar, que isso só ajudaria. Mas meia hora depois comecei a ter umas contracções ligeiramente dolorosas, que desciam até às virilhas. Às 15h15 elas pareciam-me tão frequentes que achei melhor começar a cronometrá-las. Às 16h00 apercebi-me de que na teoria estava em trabalho de parto, embora as contracções fossem suportáveis. Tinham-me dito que as contracções de trabalho de parto não nos permitem manter uma conversa, mas eu conversei com a senhora do Birth Centre ao telefone, que me disse que era melhor pôr-me a caminho. Liguei ao Faneca a dizer que viesse para casa depressinha faz favor. Depois seguiu-se um estado "intoxicação alimentar", em que se me deu tal volta à barriga que eu não sabia se corria para o lavatório ou para a sanita. Liguei à minha querida Andreia, que é parteira e me disse que tudo isso era normal. Relaxei e respirei. A minha mãe preparava tudo e tirava fotografias. O Faneca chegou às 16h30 e chamou um taxi. A minha amiga chegou para lancharmos mas qual lanchar qual quê, ao fim de 10 minutos estávamos todos metidos no taxi. Antes mesmo de sairmos eu tive uma contracção a sério. Uma contracção que me fez gemer e que sobretudo me tirou toda a força das pernas. A minha perna direita teve um espasmo e eu pensei "Ora aí está! Agora estou lixada que vai ser meia hora disto metida num carro."
Os longos 40 minutos que passámos no taxi não foram tão maus como eu imaginei. Ir sentada aliviou-me completamente as pernas, que eu insistia em relaxar e concentrei-me em não seguir o impulso constante de me contrair toda e fincar os pés no chão do carro. Relaxar as pernas e a cara. Respirar. Quando chegámos ao hospital estar em pé tornou-se impossível e a cada contracção que se seguiu eu tive de me apoiar em alguma coisa, sem nunca largar a almofada que levei comigo. Foi o taxi mal saímos, foi a parede do elevador, foram os balcões das recepções. Água pelas pernas abaixo, inglês e português e o meu filho, o meu filho que não sabia o que lhe estava a acontecer, não leu livros nem aprendeu a lidar com a dor. Estávamos juntos, estávamos juntos desde há nove meses e estaríamos mais unidos do que nunca naquela coisa primitiva que nos estava a acontecer.
Quando chegámos ao quarto e eu pedi à parteira para usar uma das piscinas ela disse que sim. Pediu-me que fosse fazer chichi, verificou o batimento cardíaco do bebé e depois quis examinar-me, mas eu simplesmente não conseguia estar deitada de costas, a não ser entre contracções. Toda eu era um bicho. Não permiti que ninguém me tocasse. Todos à minha volta tendiam a afagar-me, mas aquelas festinhas pareciam lixa e desconcentravam-me completamente. Pus-me de joelhos em cima da cama sem que ninguém mo sugerisse. Pedi que levantassem o encosto da cama e abracei-me a ele. Também foi sem aviso que saiu de mim um som que eu não reconheci, como se um animal de grande porte tivesse entrado naquele quarto e estivesse também em trabalho de parto. Lembro-me de pensar que aquilo só podia ser eu e lembro-me de sentir que o meu corpo estava a fazer tudo sozinho. Lá ao longe tudo me pareceu tão irónico, especialmente porque a janela do quarto tinha uma vista panorâmica sobre o Tamisa e o Parlamento. O Big Ben marcava 18h15. Eu tinha numa mão o tubo de gas and air e na outra a mão do Faneca. Estava tão feliz quanto incapaz de o verbalizar.
Continuei aquele exercício de relaxamento. Quando a parteira me examinou disse "Estás pronta! De certeza que queres usar a piscina?", ao que eu me lembro de dizer que sim. Ela pôs-se a correr e disse-me que me apressasse também. "Corremos" (porque me recusei a sentar na cadeira de rodas) dentro do possível, a minha mãe de máquina fotográfica na mão, o meu amor a amparar-me a queda quando tive uma contracção no corredor. Meti-me na piscina ainda com menos de um palmo de água. Ajoelhei-me. Duas parteiras à procura do batimento cardíaco do meu bebé sem sucesso. Alguma coisa dentro de mim me impedia de sentir medo. Tinha comigo as duas pessoas com quem mais queria partilhar o parto do Diogo, e sei que foi por isso, por ali estarmos os quatro tão unidos, que eu me mantive tão calma e tão feliz. Tinha a certeza de que o Diogo estava bem. Larguei o gás porque me estava a desconcentrar e numa das tentativas de encontrar o batimento do coração do Diogo pus-me a flutuar de lado, sem nunca largar a mão do Fanequinha. Foi aí que descobri o paraíso. Não me lembro de as contracções se terem tornado menos frequentes mas pelos vistos foi o que aconteceu. Lembro-me de a dor diminuir de tal forma que entre contracções toda eu flutuava naquela água quente. Quando sentia a contracção a chegar voltava a pôr-me de joelhos. As parteiras deixaram-me fazer o que quisesse e senti um bem-estar profundo quando uma delas me disse "ouve o teu corpo". Ouvi. O meu bebé estava a ser espremido e era nele que eu falava entre contracções (urros). Bebi garrafas e garrafas de água. Respirei. De repente voltei a sentir o Diogo e dessa vez era obviamente a cabeça dele a descer.
Eram 19h14 quando apareceu o bebé faneca, todo braços e pernas e mãos e pés. Nadou pouco porque eu trouxe-o logo à superfície, olhei para ele e ele para mim e assim ficámos até ele soltar um chorinho e só aí eu ser capaz de dizer "Olá meu amor! Tu nasceste, querido?"
No dia antes de o Diogo nascer a minha barriga ficou mais arrebitada que nunca. No dia do parto o umbigo estava a apontar para baixo. Lembro-me de comentar isso com a minha mãe e ela concordar. Tínhamos andado a ouvir meditações e hipnopartos no youtube e eu estava incrivelmente relaxada. Aprendi no workshop de preparação para o parto que quanto mais tempo estivermos no nosso ninho, mais oxitocina se liberta e mais depressa o trabalho de parto avança. Assim fiz. Comi uma tigelona de guacamole e pensei se deveria carregar no chili, para dar um empurrãozinho ao bebé... não foi preciso.
Às 39 semanas o meu filho lia-me os pensamentos. Se antes ele começava a pontapear esfomeado no momento em que eu preparava uma refeição, nessa altura bastava-me pensar em comer guacamole e o Diogo começava um festival de breakdance.
Costurei a fronha que me faltava para terminar de forrar o sofá, enfiei a almofada lá dentro à (tanta) força e transpirei tanto que tenho a certeza que foi isso que me fez entrar em trabalho de parto. Fui à casa de banho e senti um duplo-clique na minha barriga que me fez parar por um segundo, mas continuei com a minha vidinha. Mal eu sabia que as águas tinham rebentado. Eram 14h30 quando me sentei no chão e a minha mãe tirou as últimas fotografias à barriga. Nesse momento senti água a sair e disse-lhe "não vais acreditar..." e então começou a aventura. Começou uma maratona de pensos higiénicos mas pouco mais do que isso, porque eu achei que só daí a muitas horas é que mais alguma coisa aconteceria. Só telefonei ao Faneca para o informar e disse-lhe que não precisava de vir para casa. Também mandei uma mensagem a uma amiga que vinha a caminho para nos visitar a dizer que não se assustasse mas que o Diogo estava a caminho. Podiamos lanchar juntas na mesma e relaxar, que isso só ajudaria. Mas meia hora depois comecei a ter umas contracções ligeiramente dolorosas, que desciam até às virilhas. Às 15h15 elas pareciam-me tão frequentes que achei melhor começar a cronometrá-las. Às 16h00 apercebi-me de que na teoria estava em trabalho de parto, embora as contracções fossem suportáveis. Tinham-me dito que as contracções de trabalho de parto não nos permitem manter uma conversa, mas eu conversei com a senhora do Birth Centre ao telefone, que me disse que era melhor pôr-me a caminho. Liguei ao Faneca a dizer que viesse para casa depressinha faz favor. Depois seguiu-se um estado "intoxicação alimentar", em que se me deu tal volta à barriga que eu não sabia se corria para o lavatório ou para a sanita. Liguei à minha querida Andreia, que é parteira e me disse que tudo isso era normal. Relaxei e respirei. A minha mãe preparava tudo e tirava fotografias. O Faneca chegou às 16h30 e chamou um taxi. A minha amiga chegou para lancharmos mas qual lanchar qual quê, ao fim de 10 minutos estávamos todos metidos no taxi. Antes mesmo de sairmos eu tive uma contracção a sério. Uma contracção que me fez gemer e que sobretudo me tirou toda a força das pernas. A minha perna direita teve um espasmo e eu pensei "Ora aí está! Agora estou lixada que vai ser meia hora disto metida num carro."
Os longos 40 minutos que passámos no taxi não foram tão maus como eu imaginei. Ir sentada aliviou-me completamente as pernas, que eu insistia em relaxar e concentrei-me em não seguir o impulso constante de me contrair toda e fincar os pés no chão do carro. Relaxar as pernas e a cara. Respirar. Quando chegámos ao hospital estar em pé tornou-se impossível e a cada contracção que se seguiu eu tive de me apoiar em alguma coisa, sem nunca largar a almofada que levei comigo. Foi o taxi mal saímos, foi a parede do elevador, foram os balcões das recepções. Água pelas pernas abaixo, inglês e português e o meu filho, o meu filho que não sabia o que lhe estava a acontecer, não leu livros nem aprendeu a lidar com a dor. Estávamos juntos, estávamos juntos desde há nove meses e estaríamos mais unidos do que nunca naquela coisa primitiva que nos estava a acontecer.
Quando chegámos ao quarto e eu pedi à parteira para usar uma das piscinas ela disse que sim. Pediu-me que fosse fazer chichi, verificou o batimento cardíaco do bebé e depois quis examinar-me, mas eu simplesmente não conseguia estar deitada de costas, a não ser entre contracções. Toda eu era um bicho. Não permiti que ninguém me tocasse. Todos à minha volta tendiam a afagar-me, mas aquelas festinhas pareciam lixa e desconcentravam-me completamente. Pus-me de joelhos em cima da cama sem que ninguém mo sugerisse. Pedi que levantassem o encosto da cama e abracei-me a ele. Também foi sem aviso que saiu de mim um som que eu não reconheci, como se um animal de grande porte tivesse entrado naquele quarto e estivesse também em trabalho de parto. Lembro-me de pensar que aquilo só podia ser eu e lembro-me de sentir que o meu corpo estava a fazer tudo sozinho. Lá ao longe tudo me pareceu tão irónico, especialmente porque a janela do quarto tinha uma vista panorâmica sobre o Tamisa e o Parlamento. O Big Ben marcava 18h15. Eu tinha numa mão o tubo de gas and air e na outra a mão do Faneca. Estava tão feliz quanto incapaz de o verbalizar.
Continuei aquele exercício de relaxamento. Quando a parteira me examinou disse "Estás pronta! De certeza que queres usar a piscina?", ao que eu me lembro de dizer que sim. Ela pôs-se a correr e disse-me que me apressasse também. "Corremos" (porque me recusei a sentar na cadeira de rodas) dentro do possível, a minha mãe de máquina fotográfica na mão, o meu amor a amparar-me a queda quando tive uma contracção no corredor. Meti-me na piscina ainda com menos de um palmo de água. Ajoelhei-me. Duas parteiras à procura do batimento cardíaco do meu bebé sem sucesso. Alguma coisa dentro de mim me impedia de sentir medo. Tinha comigo as duas pessoas com quem mais queria partilhar o parto do Diogo, e sei que foi por isso, por ali estarmos os quatro tão unidos, que eu me mantive tão calma e tão feliz. Tinha a certeza de que o Diogo estava bem. Larguei o gás porque me estava a desconcentrar e numa das tentativas de encontrar o batimento do coração do Diogo pus-me a flutuar de lado, sem nunca largar a mão do Fanequinha. Foi aí que descobri o paraíso. Não me lembro de as contracções se terem tornado menos frequentes mas pelos vistos foi o que aconteceu. Lembro-me de a dor diminuir de tal forma que entre contracções toda eu flutuava naquela água quente. Quando sentia a contracção a chegar voltava a pôr-me de joelhos. As parteiras deixaram-me fazer o que quisesse e senti um bem-estar profundo quando uma delas me disse "ouve o teu corpo". Ouvi. O meu bebé estava a ser espremido e era nele que eu falava entre contracções (urros). Bebi garrafas e garrafas de água. Respirei. De repente voltei a sentir o Diogo e dessa vez era obviamente a cabeça dele a descer.
Eram 19h14 quando apareceu o bebé faneca, todo braços e pernas e mãos e pés. Nadou pouco porque eu trouxe-o logo à superfície, olhei para ele e ele para mim e assim ficámos até ele soltar um chorinho e só aí eu ser capaz de dizer "Olá meu amor! Tu nasceste, querido?"
27 de setembro de 2013
mãe natureza
Foi num programa chamado what not to wear que ouvi isto, esta frase que me ficou gravada e que ecoa até hoje na minha mente. A mulher que não gostava do próprio corpo e que por isso não se "vestia bem", e o apresentador que lhe dizia qualquer coisa como "o teu corpo é uma máquina de vida que trabalha para se manter bem e saudável, devias amá-lo pelo que ele é." Desde daí que vejo o meu corpo com outros olhos. Este corpo que eu já tanto maltratei, que odiei na minha adolescência, este corpo a que família, amigos e estranhos chamaram gordo quando eu não sabia como reagir, este corpo que dá abrigo à minha mente, às vezes mais, às vezes menos perturbada. Nunca me falhou, este corpo. Foi há poucos anos que tive esta espécie de epifania. Que este é o único corpo que terei na vida, saudável e tão forte apesar de tudo, sempre a regenerar-se, sempre. Foi mais do que uma reconciliação, foi como apaixonar-me pela máquina de vida que sou.
Quando engravidei já estava em estado de graça. E no dia (grávida de poucas semanas) em que vi as minhas mamas mudarem de forma e de cor soube que de nada valeria resistir ao poder da mãe natureza. Rendi-me. Encarreguei-me apenas de me manter feliz e fazer uma dieta o mais saudável possível. Sempre tive a certeza de que o mais importante era manter-me cheia de amor e gratidão e desejar que a natureza fosse generosa comigo. Sou um animal, dizia a mim mesma. Sou um animal como qualquer outro e há uma força superior a mim a governar o meu corpo neste momento. Durante os nove meses este foi o meu mantra. Além disso houve vários momentos chave que me prepararam para o parto. Coisas que ouvi ou li e que fui arquivando na minha mente, para que nunca fosse ela a apoderar-se do meu corpo, e sim o contrário. A namorada dum amigo contar-me que a mãe se preparou sozinha com uma cassete de hipnoparto e não usou drogas. O Stephen Fry no QI a dizer que a percepção da dor depende da ansiedade que se sente e a tensão que pomos no nosso corpo. A minha avó, a minha mãe e a minha tia terem tido os seus filhos de parto normal focadas na ideia de que a dor terminaria com um bebé nos seus braços. A aula de yoga que fazia no youtube em que a dor era referida como um sinal de que tudo estará a funcionar bem e que as contracções são o meu corpo a abraçar e empurrar o meu filho até que ele se encontre comigo cá fora. Li muito. Li tudo o que me apareceu e vi muitos, muitos videos. Mentalizei-me de que o parto é algo imprevisível e que tanta coisa pode correr mal, mas só imaginaria o meu a correr na perfeição, o mais natural e livre de químicos possível. Decidi que passaria pouco tempo na cama, que usaria a Gravidade para acelerar as coisas, que manteria as pernas fortes e ágeis para passar horas a pé. Trabalhei até ao final do oitavo mês, rodeada de pessoas a dizerem-me que descansasse, que me sentasse. Só o Faneca é que sempre me deixou fazer o que quisesse. E eu só parava quando o inchaço dos pés já chegava às coxas. No fim já tinha mais de 13 quilos em cima e o meu corpo continuava a pedir acção. Costurei como uma louca, arrastei móveis, montei a nossa cama nova sozinha. Enquanto o meu corpo me pediu para me mexer, eu mexi-me. Há qualquer coisa de primário, de tão animal e tão instintivo na gravidez. Dar ouvidos ao meu corpo foi o melhor que eu podia ter feito.
Quando engravidei já estava em estado de graça. E no dia (grávida de poucas semanas) em que vi as minhas mamas mudarem de forma e de cor soube que de nada valeria resistir ao poder da mãe natureza. Rendi-me. Encarreguei-me apenas de me manter feliz e fazer uma dieta o mais saudável possível. Sempre tive a certeza de que o mais importante era manter-me cheia de amor e gratidão e desejar que a natureza fosse generosa comigo. Sou um animal, dizia a mim mesma. Sou um animal como qualquer outro e há uma força superior a mim a governar o meu corpo neste momento. Durante os nove meses este foi o meu mantra. Além disso houve vários momentos chave que me prepararam para o parto. Coisas que ouvi ou li e que fui arquivando na minha mente, para que nunca fosse ela a apoderar-se do meu corpo, e sim o contrário. A namorada dum amigo contar-me que a mãe se preparou sozinha com uma cassete de hipnoparto e não usou drogas. O Stephen Fry no QI a dizer que a percepção da dor depende da ansiedade que se sente e a tensão que pomos no nosso corpo. A minha avó, a minha mãe e a minha tia terem tido os seus filhos de parto normal focadas na ideia de que a dor terminaria com um bebé nos seus braços. A aula de yoga que fazia no youtube em que a dor era referida como um sinal de que tudo estará a funcionar bem e que as contracções são o meu corpo a abraçar e empurrar o meu filho até que ele se encontre comigo cá fora. Li muito. Li tudo o que me apareceu e vi muitos, muitos videos. Mentalizei-me de que o parto é algo imprevisível e que tanta coisa pode correr mal, mas só imaginaria o meu a correr na perfeição, o mais natural e livre de químicos possível. Decidi que passaria pouco tempo na cama, que usaria a Gravidade para acelerar as coisas, que manteria as pernas fortes e ágeis para passar horas a pé. Trabalhei até ao final do oitavo mês, rodeada de pessoas a dizerem-me que descansasse, que me sentasse. Só o Faneca é que sempre me deixou fazer o que quisesse. E eu só parava quando o inchaço dos pés já chegava às coxas. No fim já tinha mais de 13 quilos em cima e o meu corpo continuava a pedir acção. Costurei como uma louca, arrastei móveis, montei a nossa cama nova sozinha. Enquanto o meu corpo me pediu para me mexer, eu mexi-me. Há qualquer coisa de primário, de tão animal e tão instintivo na gravidez. Dar ouvidos ao meu corpo foi o melhor que eu podia ter feito.
16 de setembro de 2013
diogo
O Diogo já vivia em mim há mais de oito meses, já o sentia a mexer há cinco, já me conhecia as rotinas, os gestos, e eu os dele. Já éramos cúmplices antes de ele nascer, já gostava dele, muito. Mas quando ele veio para os nossos braços foi como se uma onda do mar me engolisse e me levasse num turbilhão para o que de mais profundo e animal existe em mim. E estar num quarto, numa casa, num planeta onde o Diogo existe é como se uma orquestra tocasse permanentemente uma sinfonia tão bonita quanto ensurdecedora, que não me deixa pensar, que faz de mim um bicho todo irracional, todo instinto. O méu cérebro fundiu-se com o meu útero, o meu coração, as minhas entranhas, e eu deixo-me embalar nas profundezas deste estado em que nem respirar parece ser preciso.
1 de agosto de 2013
gratidão
Quando eu penso que não é possível estar rodeada de pessoas mais generosas e meigas, quando trabalhar parece uma gincana porque os dois colegas com quem estou fazem tudo para me poupar e me obrigam a sentar de hora em hora, me abraçam constantemente, cortam bocadinhos de bolo e escrevem recadinhos para o meu bebé; quando entrar numa carruagem tão quente e tão cheia de gente que a minha barriga e leque não parecem lá caber e de repente se abrem alas até a um lugar sentado e até mãos estranhas me dão apoio e olhares me dão consolo, chego a casa para encontrar o canalizador e a senhoria. E a senhoria traz com ela um carro carregado até ao tecto com tudo o que eu possa precisar para mim e para o bebé. Toneladas de roupa linda linda linda para vestir um menino dos 0 aos 6 meses, alcofa, tapete de actividades, banheira, biberões, bomba de amamentação, esterilizador, compressas, fraldas de pano, uma boia para eu me sentar, um espelho para ver o bebé no carro, mobile para o berço e brinquedos para o carrinho.
Houve uma altura na minha vida em que diria que não mereço tanto. Hoje digo a mim própria que mereço sim, que tento dar não mais do que amor a tudo e todos com que me cruzo, mas a forma como este amor volta multiplicado esmaga-me e parece que a minha gratidão nunca é tão grande como a generosidade daqueles que me rodeiam.
Houve uma altura na minha vida em que diria que não mereço tanto. Hoje digo a mim própria que mereço sim, que tento dar não mais do que amor a tudo e todos com que me cruzo, mas a forma como este amor volta multiplicado esmaga-me e parece que a minha gratidão nunca é tão grande como a generosidade daqueles que me rodeiam.
29 de junho de 2013
minha avó
Durante a última semana desejei poder transferir o Dioguinho para a barriga do pai, trocar o meu corpo de 31 anos pelo teu de 87 e passar por tantas camas de hospital, anestesias gerais e cirurgias quanto fosse preciso, só para te poupar à confusão, ao medo e aos riscos que as doenças e os tratamentos implicam. Felizmente já passou.
3 de maio de 2013
mais um bocadinho e ponho o blog azul bebé
Ontem não senti os pontapés do costume, e sou tão previsível quanto os livros descrevem. Será que o bebé está bem? Porque se mexe tão pouco? Será que se mexe? Poderei esmagar a barriga até ele me dar um coice ou é pior? Deverei tomar um café? E chocolate? Ou os dois? Repito para mim o que também li no livro: "Fetuses are only human" e por isso têm dias calmos e dias agitados.
Hoje de manhã acordei e esperei senti-lo, e nada. Tomei o pequeno almoço sentada e quieta e nada. Fui para o trabalho e nada, até que lá senti um sinal de vida mas muito ligeiro. Foi só depois das onze da manhã que me sentei refastelada a comer figos secos com amêndoas e liguei ao Faneca. E basta ouvi-lo para o bebé começar aos pontapés, aliás foi assim que o senti pela primeira vez: refastelada num banco de jardim ao telefone com o pai dos meus filhos.
O bailarico uterino parece ter durado o dia todo, assim como que para me consolar. É indescritível. E como cereja no topo do bolo, duas pessoas cederam-me o lugar no metro. Cheguei a casa e pus música a bombar contra a barriga. Comecei com o Elvis e acabei com os Queen. O babyfaneca ficou louco ao som disto.
Hoje de manhã acordei e esperei senti-lo, e nada. Tomei o pequeno almoço sentada e quieta e nada. Fui para o trabalho e nada, até que lá senti um sinal de vida mas muito ligeiro. Foi só depois das onze da manhã que me sentei refastelada a comer figos secos com amêndoas e liguei ao Faneca. E basta ouvi-lo para o bebé começar aos pontapés, aliás foi assim que o senti pela primeira vez: refastelada num banco de jardim ao telefone com o pai dos meus filhos.
O bailarico uterino parece ter durado o dia todo, assim como que para me consolar. É indescritível. E como cereja no topo do bolo, duas pessoas cederam-me o lugar no metro. Cheguei a casa e pus música a bombar contra a barriga. Comecei com o Elvis e acabei com os Queen. O babyfaneca ficou louco ao som disto.
29 de abril de 2013
da espera
Este blog está em modo babyblog porque o meu livro ainda não me chegou às mãos. Isto sim, é um parto difícil, e como ainda não chegou a parte boa em que me encontrarei com os primeiros 50 exemplares, não me vou queixar deste longo processo e da espera, e da minha tão curta paciência. Portanto em breve (?), quando todo o suor, lágrimas e espera mostrarem ter valido muito muito muito a pena, escrevo.
Entretanto o bebé na barriga mostrou-se menino (porque é que parece não ter importância absolutamente nenhuma? mesmo quando se confirmou o que eu sempre imaginei, um filho menino) e perfeito, na última ecografia. É verdade o que se diz, não há como explicar o que se sente quando se vê e se sente um ser humano desenvolver-se e viver dentro de nós. Há qualquer coisa de tão superior, e como eu não acredito no deus dos homens, não faz sentido dizer isto, mas sim. É um milagre. A natureza apodera-se e encarrega-se do meu corpo, a mim resta-me encarregar desta minha mente, mantê-la saudável, lúcida, que é daí que eu sigo feliz. De nada me vale, de absolutamente nada me vale ficar ansiosa ou impaciente, de nada me vale preocupar-me ou ter medo. O medo e a preocupação, como em tudo na vida, não fazem diferença nenhuma. Dão-nos uma falsa sensação de controlo.
De maneira que aqui espero, pelo bebé, pelo livro, e enquanto espero respiro e olho para o que já está concretizado e presente na minha vida e que é tão bom e tão precisoso.
Há dias muito raros de sol em Londres. Dias de céu limpo, essa coisa tão frequente em Lisboa que chega a ser aborrecida. Um dia de céu limpo aqui é motivo de celebração. Agora apeteceu-me dizer isto...
Entretanto o bebé na barriga mostrou-se menino (porque é que parece não ter importância absolutamente nenhuma? mesmo quando se confirmou o que eu sempre imaginei, um filho menino) e perfeito, na última ecografia. É verdade o que se diz, não há como explicar o que se sente quando se vê e se sente um ser humano desenvolver-se e viver dentro de nós. Há qualquer coisa de tão superior, e como eu não acredito no deus dos homens, não faz sentido dizer isto, mas sim. É um milagre. A natureza apodera-se e encarrega-se do meu corpo, a mim resta-me encarregar desta minha mente, mantê-la saudável, lúcida, que é daí que eu sigo feliz. De nada me vale, de absolutamente nada me vale ficar ansiosa ou impaciente, de nada me vale preocupar-me ou ter medo. O medo e a preocupação, como em tudo na vida, não fazem diferença nenhuma. Dão-nos uma falsa sensação de controlo.
De maneira que aqui espero, pelo bebé, pelo livro, e enquanto espero respiro e olho para o que já está concretizado e presente na minha vida e que é tão bom e tão precisoso.
Há dias muito raros de sol em Londres. Dias de céu limpo, essa coisa tão frequente em Lisboa que chega a ser aborrecida. Um dia de céu limpo aqui é motivo de celebração. Agora apeteceu-me dizer isto...
24 de abril de 2013
20 semanas
Estar grávida longe da minha família e dos meus melhores amigos é dar muito, mas muito mais valor ao meu companheiro de vida, que já era minha família antes de sermos três, que é o meu melhor amigo e que me dá a mão nos momentos bons, nos momentos maus, e quando menos se esperaria que me desse a mão também.
Este bebé que ainda pouco se faz notar no que respeita a pontapés, faz-me crescer a barriga todos os dias um pouco mais, faz-me pensar duas, três, quatro vezes antes de pôr alguma coisa na boca, estica e muda a cor da minha pele. Atrai para mim muitas atenções e muito carinho por parte dos colegas de trabalho, que exageram ao ponto de me fazerem chorar de tanto rir. Este bebé ainda não ouviu música clássica mas todos os dias é embalado pelas minhas gargalhadas. Não sei como um dia vou agradecer a estas pessoas pelo que fazem por mim. Sem se darem conta, consolam o meu coração de emigrante, o meu corpo grávido e a minha cria de quatro meses e meio.
Este bebé que ainda pouco se faz notar no que respeita a pontapés, faz-me crescer a barriga todos os dias um pouco mais, faz-me pensar duas, três, quatro vezes antes de pôr alguma coisa na boca, estica e muda a cor da minha pele. Atrai para mim muitas atenções e muito carinho por parte dos colegas de trabalho, que exageram ao ponto de me fazerem chorar de tanto rir. Este bebé ainda não ouviu música clássica mas todos os dias é embalado pelas minhas gargalhadas. Não sei como um dia vou agradecer a estas pessoas pelo que fazem por mim. Sem se darem conta, consolam o meu coração de emigrante, o meu corpo grávido e a minha cria de quatro meses e meio.
31 de março de 2013
toda eu mamas (rascunho de 2/2/2013)
De um dia para o outro deixei de caber nos soutiens. Tanto eu como o fanequinha olhamos para elas com um misto de choque e admiração... embora algo me diga que a admiração que ele sente é diferente da minha. Eu vejo-as como máquinas de vida, a funcionar a todo o gás, sintonizadas com o meu útero, com o que por lá vai mas que ainda não é óbvio. Nunca tive tanta consciência de que sou um mamífero, e nunca pensei tanto (e com tanta culpa) nas minhas amigas vacas a quem arrancamos os seus bebés (que comemos e cujos estômagos usamos para fazer queijo) e a quem roubamos o leite, que devoramos sofregamente... enfim. Ontem fui comprar soutiens à H&M e tive um ataque de frustração ao ver que não cabia no 36D, e o 38D não aparecia em nenhum modelo. Eu odeio experimentar roupas, transpiro, canso-me, perco a paciência ao fim de duas provas. Fiquei tão zangada, sobretudo porque as mamas me doem e pesam, e eu só queria encontrar a porra do soutien certo, agarrar em dois e vir para casa. Mas não, tive de ir pedir ajuda e felizmente uma menina muito despachada encontrou-mos logo. Apeteceu-me beijar-lhe os pés e dizer-lhe que me tirou um peso do peito.
25 de março de 2013
milionária
Perguntei ao faneca o que faria se ganhasse milhares de milhões de libras. Disse que me dava metade (é tão fofo), que dava aos pais tudo o que precisassem, que depois ia só viajar, ver o mundo comigo, passar a vida de férias. Eu disse-lhe que bastava dar-me um milhão, pois isso chegar-me-ia para o resto da vida. Que também queria passear, mas não o tempo todo. Então o que fazias, perguntou-me. E a minha resposta saiu sem sequer hesitar. Abria o meu café/loja. Que eu preciso de trabalhar e de ver gente. Ilustrações, cafés, bolos caseiros e pratos vegetarianos. Isto sou eu milionária.
24 de março de 2013
neve
Para haver drama basta pegar num coração emigrante e deitar-lhe uma pitada de hormonas.
O frio que se sente na rua e o vento que vem como lâminas tira-me o prazer de brincar com a neve. Talvez porque sobrevivi a um Inverno no mercado (não é possível explicar sem palavrões o que se sente ao fim de oito horas exposta ao grau zero), a uma gripe fortíssima que me pôs aos tremeliques na cama, dores de garganta e tosse, cieiro. Se a neve tivesse vindo em Dezembro talvez eu a visse (a sentisse) de outra maneira, mas sendo Março, e sendo que nesta ilha raramente se vê o sol, nesta altura só me lembro de Lisboa, a Lisboa amena que me acolheu. Que saudades de não ter frio. Que saudades da Primavera.
O frio que se sente na rua e o vento que vem como lâminas tira-me o prazer de brincar com a neve. Talvez porque sobrevivi a um Inverno no mercado (não é possível explicar sem palavrões o que se sente ao fim de oito horas exposta ao grau zero), a uma gripe fortíssima que me pôs aos tremeliques na cama, dores de garganta e tosse, cieiro. Se a neve tivesse vindo em Dezembro talvez eu a visse (a sentisse) de outra maneira, mas sendo Março, e sendo que nesta ilha raramente se vê o sol, nesta altura só me lembro de Lisboa, a Lisboa amena que me acolheu. Que saudades de não ter frio. Que saudades da Primavera.
20 de março de 2013
desabafos de fim de tarde
Chegam-nos da Holanda emails, pacotes e postais amorosos, de primos que ainda nem conheço, a agradecer pela partilha, a desejar-nos as maiores felicidades.
De Portugal, de algumas das pessoas que me são mais próximas, nem uma resposta ao email emocionado que lhes enviei no dia em que fomos à ecografia. É para eu aprender. Se não for para aprender que nem toda a gente se emociona com bebés como eu, que seja para aprender a não ficar magoada, pois o mundo não gira em torno de mim, muito embora eu tenha o rei na barriga.
De Portugal, de algumas das pessoas que me são mais próximas, nem uma resposta ao email emocionado que lhes enviei no dia em que fomos à ecografia. É para eu aprender. Se não for para aprender que nem toda a gente se emociona com bebés como eu, que seja para aprender a não ficar magoada, pois o mundo não gira em torno de mim, muito embora eu tenha o rei na barriga.
avó
Tu, que te esqueces que vais ser bisavó em menos de dois minutos. Não faz mal. Tu estás em mim mais do que nunca, no meu coração e no meu útero.
"Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é."
19 de março de 2013
british humour
Comecei a contar que estou grávida aos colegas no trabalho. Muitos deles são mesmo de cá, alguns nascidos em Londres. Ontem perguntei a um "queres ver a minha mais recente obra de arte?" ao que ele disse logo que sim, à espera de ver uma ilustração. Mostrei-lhe a imagem da ecografia, olhou para ela com admiração durante dois segundos e as primeiras palavras que lhe sairam da boca foram:
"But we only did it once!"
"But we only did it once!"
16 de março de 2013
estatisticamente (rascunho de 27/01/2013)
Estatisticamente, o risco de perder o bebé bastante alto, no início da gravidez. Eu estou mentalizada, preparada para o pior, como em tudo na minha vida. Preparo-me para o pior, mas sobretudo preparo-me para o melhor, depois vivo e gozo os minutos como se o pior não pudesse acontecer. Normalmente resulta. Vivo feliz e contente e, no caso de dar para o torto, choro um bocadinho (ou baba e ranho se preciso for) e sigo para bingo.
Quando a Babá engravidou pela primeira vez eu fiquei apaixonada pelo feijãozinho, quis comprar-lhe uns sapatinhos, fui a uma loja no shopping em Viana e quando, feliz e babada disse ao que ia, a funcionária e um senhor amigo que lá estava com ela perguntaram-me "Mas de quantos meses está ela grávida?", ao que eu respondi dois ou três, já não me lembro (e o que é que me interessava? era um bebé dentro da Babá!) e eles, só lhes faltou correrem comigo da loja. Que era muito cedo, que tudo pode acontecer, que depois é um desgosto, que lhes desse antes uma garrafa de champanhe e a senhora ainda me disse que teve um aborto aos sete meses. Saí da loja e desatei a chorar. A minha mãe consolou-me e disse que comprasse os sapatinhos sim. A Babá recebeu-os e agradeceu e riu e eu dei mais beijos na barriga dela nessa gravidez do que em qualquer uma das outras. Tudo correu bem e os meus sapatinhos não mataram o feijãozinho.
Agora que eu tenho um feijãozinho e que a minha mãe já compra roupas e malha para tricotar, pergunto-me qual é o mal. Claro que há um risco acrescido, mas é a natureza, e claro que é triste tricotar e imaginar um bebé filho do amor da minha vida, e depois o bebé não nascer. Mais triste será comunicar a todas as pessoas que já celebram comigo e connosco e me tocam na barriga, que afinal a festa terá de ser adiada. Mas estatisticamente falando, as probabilidades de tragédia não aumentam proporcionalmente ao número de pessoas com quem se partilha a notícia, assim como não aumentam se as pessoas desatarem a comprar roupinhas e sapatinhos. Portanto cá estamos.
O faneca acha que devemos é aproveitar, imaginar que vai correr tudo bem e gozar o momento. Eu concordo. Mas não deixo de pensar. Vinte por cento. Se eu pensar num grupo de amigas que engravidaram, posso ser eu a uma em cinco. Mas até lá, vou continuar a festejar. Ontem fomos para os copos com os meus colegas do eat e contei-lhes, um por um, metade deles estava bêbeda, o que torna tudo ainda mais engraçado, porque os estrangeiros bêbedos perdem o inglês e as emoções vêm ao de cima então o que fazem é rir muito, rir com lágrimas nos olhos, muitos abraços e muitos beijos e tanto amor, tanto carinho que eles têm por mim. Para quê adiar estes momentos? Para quê adiar a celebração do facto de eu e o meu amor termos decidido dar um grito de optimismo e esperança a este mundo que às vezes é tão cruel. E todos os dias as tragédias acontecem, mas eu sempre preferi pensar que todos os dias os milagres acontecem também.
Quando a Babá engravidou pela primeira vez eu fiquei apaixonada pelo feijãozinho, quis comprar-lhe uns sapatinhos, fui a uma loja no shopping em Viana e quando, feliz e babada disse ao que ia, a funcionária e um senhor amigo que lá estava com ela perguntaram-me "Mas de quantos meses está ela grávida?", ao que eu respondi dois ou três, já não me lembro (e o que é que me interessava? era um bebé dentro da Babá!) e eles, só lhes faltou correrem comigo da loja. Que era muito cedo, que tudo pode acontecer, que depois é um desgosto, que lhes desse antes uma garrafa de champanhe e a senhora ainda me disse que teve um aborto aos sete meses. Saí da loja e desatei a chorar. A minha mãe consolou-me e disse que comprasse os sapatinhos sim. A Babá recebeu-os e agradeceu e riu e eu dei mais beijos na barriga dela nessa gravidez do que em qualquer uma das outras. Tudo correu bem e os meus sapatinhos não mataram o feijãozinho.
Agora que eu tenho um feijãozinho e que a minha mãe já compra roupas e malha para tricotar, pergunto-me qual é o mal. Claro que há um risco acrescido, mas é a natureza, e claro que é triste tricotar e imaginar um bebé filho do amor da minha vida, e depois o bebé não nascer. Mais triste será comunicar a todas as pessoas que já celebram comigo e connosco e me tocam na barriga, que afinal a festa terá de ser adiada. Mas estatisticamente falando, as probabilidades de tragédia não aumentam proporcionalmente ao número de pessoas com quem se partilha a notícia, assim como não aumentam se as pessoas desatarem a comprar roupinhas e sapatinhos. Portanto cá estamos.
O faneca acha que devemos é aproveitar, imaginar que vai correr tudo bem e gozar o momento. Eu concordo. Mas não deixo de pensar. Vinte por cento. Se eu pensar num grupo de amigas que engravidaram, posso ser eu a uma em cinco. Mas até lá, vou continuar a festejar. Ontem fomos para os copos com os meus colegas do eat e contei-lhes, um por um, metade deles estava bêbeda, o que torna tudo ainda mais engraçado, porque os estrangeiros bêbedos perdem o inglês e as emoções vêm ao de cima então o que fazem é rir muito, rir com lágrimas nos olhos, muitos abraços e muitos beijos e tanto amor, tanto carinho que eles têm por mim. Para quê adiar estes momentos? Para quê adiar a celebração do facto de eu e o meu amor termos decidido dar um grito de optimismo e esperança a este mundo que às vezes é tão cruel. E todos os dias as tragédias acontecem, mas eu sempre preferi pensar que todos os dias os milagres acontecem também.
15 de março de 2013
um bebé
(guardado nos rascunhos: 26/01/2013)
Vinda de Portugal, o fanequinha foi buscar-me ao aeroporto, cheguei a casa e fui directa para a casa de banho com o teste de gravidez que me restava. Descontraidíssma, até ao momento em que apareceu uma linha muito ténue. Chamei-o e começámos a rir-nos muito, incrédulos. Ele dizia que aquilo não era nada, eu dizia que aquilo era tudo, que eu já tinha perdido a conta aos testes negativos que vi e que ali não havia engano. Àquela hora estava tudo fechado aqui por perto, então tive mesmo de inventar coisas para fazer quando o outro progenitor já não conseguia aturar-me mais e foi dormir. Fiz uma sopa de cogumelos, comi-a, fiquei acordada até muito tarde e por fim adormeci. De manhã fui de pijama à farmácia e ao super mercado. Chovia horrores. E eu a segurar o primeiro chichi da manhã. Cheguei a casa e fiz três dos cinco testes que trouxe da rua. Continuámos incrédulos, mesmo depois de eu segurar os quatro resultados positivos todos juntos perto da janela, para ver melhor. Não sinto nada, não sinto nenhum sintoma. Ele dizia para esperarmos pelo dia do período, e esperámos e não veio. Começámos a acreditar, eu a imaginar um bebé dodot, porque bebé dodot foi o que eu e a Di chamámos ao faneca quando o conhecemos. Imaginar um bebé dentro de mim, um bebé que ainda era do tamanho de uma semente de papoila, não soa a bebé, muito menos parece ter força suficiente para me causar sintomas. Queixei-me da ausência de sintomas durante dias até ser atacada por umas cólicas intestinais das quais nunca tinha ouvido falar até a preocupação me levar aos livros, artigos na internet e por fim a uma querida amiga parteira. Se neste momento tenho barriga, é simplesmente ar. Mas já nada é o mesmo. Olho para o homem dos meus sonhos e pergunto-lhe "Um bebé?!" e ele ri-se e diz que sim, todas as vezes.
Vinda de Portugal, o fanequinha foi buscar-me ao aeroporto, cheguei a casa e fui directa para a casa de banho com o teste de gravidez que me restava. Descontraidíssma, até ao momento em que apareceu uma linha muito ténue. Chamei-o e começámos a rir-nos muito, incrédulos. Ele dizia que aquilo não era nada, eu dizia que aquilo era tudo, que eu já tinha perdido a conta aos testes negativos que vi e que ali não havia engano. Àquela hora estava tudo fechado aqui por perto, então tive mesmo de inventar coisas para fazer quando o outro progenitor já não conseguia aturar-me mais e foi dormir. Fiz uma sopa de cogumelos, comi-a, fiquei acordada até muito tarde e por fim adormeci. De manhã fui de pijama à farmácia e ao super mercado. Chovia horrores. E eu a segurar o primeiro chichi da manhã. Cheguei a casa e fiz três dos cinco testes que trouxe da rua. Continuámos incrédulos, mesmo depois de eu segurar os quatro resultados positivos todos juntos perto da janela, para ver melhor. Não sinto nada, não sinto nenhum sintoma. Ele dizia para esperarmos pelo dia do período, e esperámos e não veio. Começámos a acreditar, eu a imaginar um bebé dodot, porque bebé dodot foi o que eu e a Di chamámos ao faneca quando o conhecemos. Imaginar um bebé dentro de mim, um bebé que ainda era do tamanho de uma semente de papoila, não soa a bebé, muito menos parece ter força suficiente para me causar sintomas. Queixei-me da ausência de sintomas durante dias até ser atacada por umas cólicas intestinais das quais nunca tinha ouvido falar até a preocupação me levar aos livros, artigos na internet e por fim a uma querida amiga parteira. Se neste momento tenho barriga, é simplesmente ar. Mas já nada é o mesmo. Olho para o homem dos meus sonhos e pergunto-lhe "Um bebé?!" e ele ri-se e diz que sim, todas as vezes.
26 de fevereiro de 2013
londres estranha-se... depois entranha-se
Coisas que estranhei quando cheguei a esta terra:
Egg mayo. Egg mayo ao pequeno almoço.
O preço dos vegetais frescos.
A quantidade de frascos de molhos no supermercado.
O não se reciclar.
A ausência de caixotes de lixo na rua.
O preço de um expresso.
O café de merda.
Que se beba café com leite a acompanhar a comida.
As sopas.
O desperdício.
A quantidade de gente.
Não haver cães vadios.
Os cafés, supermercados e mercados que vendem bolos, bolachinhas e pães sem os cobrir com nada. Ficam ali ao ar e à tosse e ao perdigoto. Canojo.
A falta de higiene nos cafés e bares. O funcionário pegar na sanduiche com a mesma mãozinha que recebe o dinheiro e que coça a cabecinha. Ca. Nojo.
O não haver uma ASAE como a portuguesa, portanto os mercados de comida (e tudo o que eles implicam) prosperam e são adorados.
O tamanho e a população desta cidade.
A hora de ponta no metro na central line.
As casas minúsculas com rendas absurdas.
Egg mayo. Egg mayo ao pequeno almoço.
O preço dos vegetais frescos.
A quantidade de frascos de molhos no supermercado.
O não se reciclar.
A ausência de caixotes de lixo na rua.
O preço de um expresso.
O café de merda.
Que se beba café com leite a acompanhar a comida.
As sopas.
O desperdício.
A quantidade de gente.
Não haver cães vadios.
Os cafés, supermercados e mercados que vendem bolos, bolachinhas e pães sem os cobrir com nada. Ficam ali ao ar e à tosse e ao perdigoto. Canojo.
A falta de higiene nos cafés e bares. O funcionário pegar na sanduiche com a mesma mãozinha que recebe o dinheiro e que coça a cabecinha. Ca. Nojo.
O não haver uma ASAE como a portuguesa, portanto os mercados de comida (e tudo o que eles implicam) prosperam e são adorados.
O tamanho e a população desta cidade.
A hora de ponta no metro na central line.
As casas minúsculas com rendas absurdas.
6 de fevereiro de 2013
freedom
No dia em que o Marcelo casou com o Tim e eu fui menina das alianças, fomos celebrar a um bar no Soho chamado Freedom. Acho que foi a primeira vez que fui a um bar gay, e lá estive a dançar com o meu amor, rodeados de pessoas apaixonadas, apaixonantes, tudo a dançar e a divertir-se, muitos beijos na boca e muitos abraços, incluindo nós dois, que ficámos inspirados por tanta alegria, e por existir um lugar neste planeta onde é seguro expressar-se o que se sente, o que se é. Em que ninguém discrimina ninguém e onde cinco homens podem competir à vontade por um varão na pista de dança para simularem as suas pole dances ao som da Rihanna.
4 de fevereiro de 2013
quase
Não sei quantas horas depois, tanto e tanto palavrão meu deus (quando um holandês pragueja que se farta e cem por cento das vezes é em português do norte, há que desconfiar que exite nesta casa uma gaja malcriadona), o ficheiro do livro seguiu mais uma vez para imprimir. Aquela gente da gráfica já deve estar pelos cabelos comigo. Enfim, seguiu, pagarei adiantado metade do que lhes devo e resta-me esperar. Esperar pela prova que há-de chegar por correio. Esperar que esteja tudo bem, que fique como imaginei, que depois venham os primeiros cinquenta, que os venda depressa, que eu adoro trabalhar no café mas às vezes só sonho ter o meu próprio negócio. Estou muito feliz. Está quase...
30 de janeiro de 2013
ele
Eu acho que tenho bom feitio, mas nos dias (como hoje) em que estou com o toco, apercebo-me que bom feitio tem o holandês com quem eu vivo. Uma vez embebedei-me com chardonnay, sozinha aqui em casa, pus-me a ouvir fadinhos que me lembram de Alfama e quando ele chegou agarrei-me a ele a chorar. "Gosto tanto de ti. Gosto tanto de ti."
*suspiro*
*suspiro*
ser posta à prova
A terminar a paginação do meu livro, a enviar e receber emails da empresa que mo vai imprimir. Podia ser bonito mas não é.
A única coisa que me é fácil (e não é sempre) é o papel, o lápis, a tinta. No momento em que as coisas passam ao suporte digital, o processo de trabalho torna-se um teste de resistência. Desenrasco-me no photoshop e, de resto, tudo me estica a tolerância à frustração, os meus limites, a minha paciência. A minha dificuldade em manipular documentos e utilizar as ferramentas mais básicas de qualquer programa de computador é, no mínimo, uma vergonha. E quando me zango, como não sou pessoa de atirar coisas pelos ares ou bater no computador (também não é meu), farto-me de foda-ses e chego a dizer a mim própria que tenho uma deficiência mental qualquer, que não é possível. Depois há a minha incapacidade de me concentrar numa coisa só. Isso dava um livro.
Estou a ser posta à prova. Quanto queres este livro? Quanto queres vê-lo e vendê-lo? Quanto queres ser ilustradora quando fores grande? Quantos anos tens de viver até seres grande?
Está quase. Com muitos tropeções e muito palavrão. Mas está quase. Bear with me...
A única coisa que me é fácil (e não é sempre) é o papel, o lápis, a tinta. No momento em que as coisas passam ao suporte digital, o processo de trabalho torna-se um teste de resistência. Desenrasco-me no photoshop e, de resto, tudo me estica a tolerância à frustração, os meus limites, a minha paciência. A minha dificuldade em manipular documentos e utilizar as ferramentas mais básicas de qualquer programa de computador é, no mínimo, uma vergonha. E quando me zango, como não sou pessoa de atirar coisas pelos ares ou bater no computador (também não é meu), farto-me de foda-ses e chego a dizer a mim própria que tenho uma deficiência mental qualquer, que não é possível. Depois há a minha incapacidade de me concentrar numa coisa só. Isso dava um livro.
Estou a ser posta à prova. Quanto queres este livro? Quanto queres vê-lo e vendê-lo? Quanto queres ser ilustradora quando fores grande? Quantos anos tens de viver até seres grande?
Está quase. Com muitos tropeções e muito palavrão. Mas está quase. Bear with me...
26 de janeiro de 2013
que bonitas são as metáforas
Comprei uma vez um kit na poundland, um saquinho de terra com sementes de salsa. Semeei a salsa, vi-a crescer, mostrei ao faneca que lindos os rebentinhos, olha que linda é a natureza e ele, claro, revirou os olhos. Escusado será dizer que fui incapaz de a comer, portanto ficou ali na janela, no lado de fora, a ver se crescia mais um bocadinho. Há uma semana nevou e nevou bem, quando dei por ela já a salsa estava debaixo dum bloco de neve, já a desfalecer-se-me e então resgatei-a, falei com ela e cortei-a quase rente. Ao menos que não morresse em vão. Fiz molho verde e a minha boca teve um orgasmo quando o devorei aos montes com batatas cozidas. Pus a salsa no lado de dentro da janela, a ver a neve que quase a matou. E não é que em uma semana ela me duplicou de tamanho?
Quer-me parecer que de vez em quando todos nós, humanos e vegetais, precisamos é de apanhar um valente susto e um corte radical, para nos apercebermos do quão vivinhos estávamos.
Quer-me parecer que de vez em quando todos nós, humanos e vegetais, precisamos é de apanhar um valente susto e um corte radical, para nos apercebermos do quão vivinhos estávamos.
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