25 de fevereiro de 2009
se há coisa que me derrete
(suspiro)
post de ontem
Leio livros onde encontro frases poderosas. Leio-as uma e outra vez, na esperança de encontrar nelas a chave para todos os meus problemas. Hoje deitei-me no chão da sala, de manhã. O meu corpo devia pesar uma tonelada. Tentei não fazer listas mentais. Tentei respirar devagar, tentei sentir-me melhor. Tentei adormecer. Bebi um litro e meio de água para lavar a alma. Nada. Só chichi.
Levámos a cadela a correr à aldeia. Levei um livro também. A minha mãe escavava na terra e eu escavava nos parágrafos, em busca de mais frases poderosas, da frase derradeira, a que me arrancasse do fosso em que me sentia. Há dias miseráveis. Li uma e outra frase. Li em voz alta e a minha mãe ouviu-me, abraçada ao castanheiro, e suspirava. Que duas. E a cadela já farta de correr. Quando já íamos embora lembrei-me de trazer terra para os meus cactos. Isto de passar os cactos dos vasos pequeninos onde estão há três anos para uns maiores é terapêutico. Desenformar-lhes as raízes já aflitas e contorcidas, dar-lhes espaço e terra nova. Água e ar. Era o que eu queria para mim, que me transladassem com jeitinho e falinhas mansas como eu faço aos meus cactos, para um sítio melhor e seguro. Então peguei num vaso grande, fui à horta e enchi-o de terra.
De repente, quando menos esperava, o cheiro da terra húmida subiu-me pelas narinas directo ao cérebro. Não sei como acontece, isto da memória olfactiva. Acho que bastou uma fracção de segundo para eu me ver na escola primária, num dia de calor. Foi como se o cheiro da terra tivesse passado por uma fila de interruptores dentro da minha cabeça e os tivesse ligado um por um.
Olhei à volta e subitamente tudo me pareceu mais fácil. Afinal quem precisava de terra era mesmo eu, sem metáforas.
15 de fevereiro de 2009
algures no meu sangue
- Olá, és um glóbulo branco não és?
- Não, meu caro. Sou um grão de açúcar.
dia dos namorados
Esta explosão de corações em cartolina vermelha e a matança de milhões de flores parece-me demasiado pateta. Imagino que haja quem se sinta atropelado pelo dia de S. Valentim como eu me sinto pelo Natal. Aqui fica uma música que é um consolo.
Não faz mal não sentir nada no dia 14 de Fevereiro. Não faz mal. Porque os dias de amor são quando um coração quiser. Digo eu.
12 de fevereiro de 2009
di
o meu umbigo
Não tarda nada começo a queixar-me da celulite que tenho nas pernas.
E é agora que eu acordo. E me lembro do valor das coisas. Tiro os olhos do meu umbigo, penso em quem gostaria de ter um par de pernas como estas minhas, saudáveis, ágeis, flexíveis. Quem gostaria de simplesmente poder andar. E sinto vergonha.
11 de fevereiro de 2009
amor incondicional
Preto
branco
sucedâneo
de leite
na páscoa é ovinho
no natal é enfeite
No leite
no pão
assim ou assado
na fruta fondue
na roupa pingado
Quente
morno
frio
gelado
derretido ao sol
no tacho queimado
Em qualquer receita
seja boa ou má
muito doce
amargo
com café
com chá
Bombom maciço
bombom com recheio
não havendo bombom
haverá brigadeiro
Chocolate eu amo-te
comi bolo encruado
dá-me a volta a barriga
e pago assim o pecado
pensamentos na sanita
tchhhhhhhhhhhhhh
é o som do chichi a sair ou do chichi a aterrar?
9 de fevereiro de 2009
um dia abriram-se-me os olhos
Eu dizia que tinha mau feitio. Que sou teimosa - sou; que sou obstinada - sou; que de mau humor ninguém me queira por perto - sim; que levo muito a mal a indelicadeza em geral - ui; que detesto receber ordens - de tes to; que sou muito exigente - também. Mas isso, ao contrário do que eu pensava, não é garantia de mau feitio.
Um dia abriram-se-me os olhos. Eu não tenho mau feitio. Salva pelo meu optimismo, pela capacidade de engolir uns sapinhos para que não haja barulho, pela pouca expectativa em relação a quase tudo. Um dia observei feitios tão mas tão piores que o meu.
Um dia abriram-se-me os olhos. Não é que eu tenha bom feitio. Mas mau também não é.
8 de fevereiro de 2009
domingo de chuva
Di, danças comigo?
5 de fevereiro de 2009
bonecos de pano
Pendurados, apoiados ou escondidos atrás dos objectos. Imaginei a girafa com dois metros de altura, a aparecer vinda detrás duma porta. Esta é uma maneira mais barata de fazer um boneco grande: esconde-se-lhe mais de metade do corpo. O mesmo para o urso.
As minhas pinturas favoritas são estas em que os bonecos habitam recantos improváveis. Embora dê um trabalhão e algumas cãibras aceder a rodapés, interruptores e radiadores com tinta no pincel e mão firme.
O meu trabalho faz-me muito feliz.
4 de fevereiro de 2009
pensamentos na cozinha
Claro que sim.
3 de fevereiro de 2009
querido continente
A partir de agora, Fibra Flakes é no Lidl.
2 de fevereiro de 2009
16 coisas sobre mim
Fui desafiada pelos meninos:
Sandra
Obrigada, amiguinhos virtuais. Aqui está o meu trabalho de casa:
1 - Quando me apresentam alguém nunca consigo decorar o nome da pessoa. No segundo beijinho já não sei como se chama. Mas tenho uma memória espectacular para decorar letras de músicas.
2 -Sofro de humor negro compulsivo. Ninguém devia subestimar a minha capacidade de fazer observações estúpidas e comentários inapropriados, pois tenho sempre um debaixo da língua, mesmo para as situações mais dramáticas. Felizmente ainda tenho autocensura. Muitas vezes não digo o que penso, portanto.
3 - Costumo ser muito bem disposta e faladora mas quando me dá o sono - o que acontece de forma abrupta, a partir das 22h30 - transformo-me em abóbora.
4 - A minha capacidade de comer chocolate ultrapassa o limite do razoável. Faço um número de ilusionismo impressionante que envolve somente a minha boca e uma tablete de 300 g de Milka.
5 - Gosto de camisolas com borbotos e tenho roupa podre de velha. Uso todas as semanas umas sapatilhas com mais de 10 anos e uma saia com 13.
6 - Tenho horror a desperdício. Acumulo muito lixo graças à possibilidade-de-um-dia-reutilizar-isto-quem-sabe-daqui-a-três-anos.
7 - Tenho memória fotográfica. Desenvolvi a capacidade de memorizar as folhas dos apontamentos por onde estudava para "copiar" as respostas nos exames. Só isso explica que tenha passado a disciplinas que nunca dominei, desde a escolinha até à universidade.
8 - Sou alérgica a pêssego.
9 - Tenho muito apreço pela minha mão direita. Por isso, sempre que faço alguma coisa em que arrisque magoar uma mão, uso a esquerda.
10 - Tenho pé chato e faço tendinites graças a isso (disse o ortopedista). Só uso calçado muito muito muito confortável.
11 - Faço a espargata com a perna direita à frente.
12 - Toco com a língua no nariz.
13 - Ninguém me peça para dar recados importantes.
14 - Vejo mal mas ouço muitíssimo bem.
15 - Aprendi com a vida a desdramatizar tudo. Não levo nada nem ninguém (incluindo eu própria) demasiado a sério.
16 - Tenho horror a formigas quando em grupos de mais de dez elementos.