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7 de setembro de 2009

casa de loucos

Em 2006, na casa dos meus pais, era disto todos os dias. Que saudades.



Boa semana! :)

25 de setembro de 2007

para nunca me esquecer

Houve rotinas na minha vida que eu observei tão atentamente e com tanto prazer que nunca julguei ser possível esquecê-las. (Tenho recordações muito remotas. Uma das que mais gosto é de ter dois/três anos e ver os adultos de baixo. Isto porque o meu tempo de pessoa baixa passou com a infância e lembrar-me nitidamente dos meus pais com o tecto como fundo é sempre giro.)
Lembro-me de adorar ver a minha mãe a vestir-se e da sucessão creme-desodorizante-soutien-camisola interior. E da minha avó à noite a desmaquilhar-se e a pôr os rolos quentes no cabelo. Lembro-me da panela onde ela os fervia.

Há uns dias senti que se não fosse naquele preciso momento, nunca mais me lembraria dum dos rituais mais doces da Bonnie. Viver 13 anos com um animal que fala é torná-lo gente e família.
A Boni tinha um ritual do sono que repetia todos os dias da sua vida, desde que os outros dois chegaram. Adormeciam os três no mesmo ninho, onde ficavam encaixados. Um de nós (humanos) tinha de estender metade do cobertor no ninho e deixar a outra metade de fora para os cobrir. Primeiro entrava a Boni que dava uma marradinha no cobertor e se deitava com uma pata no ar para que a Gioconda entrasse e se encaixasse entre as suas pernas e barriga. Aí cobríamo-las com o cobertor e por fim vinha o Peter que só nos dias de muito frio queria entrar para o choco. Ele ficava em cima da Boni. E ela, cheia de paciência, adormecia assim com os seus bebés. Todos os dias. Todos. E eu quase varria isso da minha memória.

6 de agosto de 2007

histórias de gatos

O Garfield deixou saudades no meu coração.
Apesar de eu ser especialmente apaixonada por cães, reconheço que os gatos são muito especiais. Sentem e expressam-se dum modo único. O Garfield fazia uma careta feia quando eu ralhava com ele. Franzia o sobrolho e ficava mesmo muito sério. Amuado.

Houve outros três gatos que viveram provisoriamente comigo. Ficaram comigo no Porto, durante as intermináveis obras da casa do seu dono, meu amigo. Um preto, um branco e uma malhada. O branco, o Alonso, é o protagonista desta história.

Os gatinhos dormiam comigo. Foi um belo Inverno, visto que, apesar da casa ser gelada, eu tinha um scaldasono na cama. Um dia, do nada, a Fluffy e o Sheba começaram a desprezar o Alonso e a dar-lhe umas bofetadas. O Alonso, grande e gordo, fazia-me ainda mais pena por não se defender. Afastava-se, muito triste. Eu ralhava com os outros dois palermas que depois de chamarem gordo e feio ao Alonso, se lambiam abraçadinhos na cama. E o Alonso passou a dormir na prateleira, ignorando os meus chamamentos de voz fininha.
Um dia ele deixou de se lavar. O seu pêlo perdeu a luz. Dei com ele a observar os outros dois na marmelada e nunca me vou esquecer da expressão na cara dele. Tão, tão triste. Quase a chorar.
Decidi enchê-lo de mimo à força e tentar copiar as lambidelas que os outros dois trocavam, com os meus dedos. No focinho, nos olhos, nas orelhas, vezes e vezes seguidas. Depois atribuí-lhe o lugar privilegiado dentro dos cobertores, comigo.
O Alonso ia para o fundo da cama e ficava aos meus pés. O scaldasono no máximo. Os dois a cozinhar enquanto eu via televisão ou desenhava. Passados uns bons minutos, ele subia até perto da minha barriga. E quando já não aguentava mais o calor, arrastava-se cá para fora cozido, de nariz e orelhas muito vermelhas, a arfar. Eu ria-me tanto que ele acabava por se rir também.


Quando recuperou a auto-estima e voltou a brincar, os outros dois pediram-lhe desculpa. Juntaram-se os três num abraço de família e depois de muitos beijinhos, adormeceram. E eu rezei para que não voltassem a parecer-se tanto com pessoas.

12 de julho de 2007

gato amarelo

O Garfield tem um feitio especial. Não gosta de colo nem de estar encostado a nós. Talvez por se sentir trocado pelo bebé dos seus donos, às vezes fica revoltado com a vida e morde-me quando eu lhe faço festas. Às vezes, nas nossas brincadeiras, excede-se e magoa-me muito. Depois fecha os olhos e recolhe as orelhas, porque sabe que fez mal e que eu me posso vingar com uma palmada na sua patinha que continua no ar de unhas de fora.
No fundo sinto pena dele. Deve perguntar-se por que continua aqui.

O Garfield é o meu nadador salvador. Todos os dias, enquanto eu tomo banho, ele toma conta de mim. Deita-se no tapete da casa de banho e fica atento ao que se passa do outro lado da cortina, não vá eu afogar-me. No fim, quando me vê toda nua e encharcada diz: "Estás bem? Não sei por que continuas a fazer isso...". Depois deita-se relaxado e lambe cada uma das gotinhas que caem do meu corpo no dele. Espreita para dentro da banheira, encolhe os ombros e vai à sua vida.


À noite o Garfield dorme sozinho porque nas poucas vezes em que o deixámos dormir connosco ele aproveitou para observar de perto (com direito a lambidelas no nariz e unhadas nos pés) o ser estranho que também habita esta casa e que não gosta especialmente de gatos: o Bruno.
De manhã, mal abro a porta do quarto, o Garfield corre ao meu encontro e deita-se no chão a rebolar. Como não é de lamechices, pergunta-me logo pelo pequeno almoço. Mas um dia destes, quando passei a mão no peito dele, senti o seu coraçãozinho palpitar com tanta, tanta força que tive a certeza do quanto ele gosta de mim.

15 de maio de 2007

quando um gato chora

Na rua dos meus pais passam carros em excesso de velocidade. Gato atropelado tornou-se prato do ano e eu comecei a formar uma carapaça à prova da dor de ver mais um morto na estrada.
A vida de gato é essa liberdade de ir onde quiser, dormir fora, apanhar sol na varanda da casa da vizinha. E se um gato volta para casa, se deita na nossa cama e nos cobre de turras e ronrons, é porque quer mesmo estar connosco. Surpreendentemente para os que odeiam gatos ao ponto de nem os poder ver, os gatos amam. Amam profundamente. Amam os seus donos e no caso desta história, amam os seus irmãos.

A minha mãe comprou o Batman e o Robin na feira. Nem me vou pronunciar em relação à escolha dos nomes.
Os gatinhos cresceram juntos tentando sobreviver à fome da Gioconda e ao amor desmesurado da Boni por bebés. Ela queria lambê-los (e lambia!) e carregá-los pelo cachaço. A Gi ficava de olho, cúmplice do Peter nas ciladas.
Para ajudar os gatinhos a escapar aos cães, ensinei-os a saltar (fazendo-os voar com a mão do chão para cima da mesa) e a trepar ao seu poleiro e às árvores, em treinos intensivos.


Em pouco tempo os dois gatinhos ficaram enormes. Especialistas em trepar às árvores e em caçar qualquer coisa que mexesse. Os cães deixaram de ser uma ameaça e a vida de gato corria bem. Apenas pairava sobre eles a maldição da estrada.

Estava eu no hipermercado com o Bruno quando a Cilu telefonou. Voámos para a frente de casa. Ali estava o corpo. Para trás um rasto de sangue e nem sinal de o carro ter parado. A minha dúvida sobre se seria um dos nossos gatos (o corpo estava tão gordo...) desvaneceu-se quando a poucos metros vi o outro a olhar para nós. E dali não saiu até que nos fossemos embora e ele pudesse ficar a sós com as marcas na estrada e com a sua mágoa.

Dentro do Robinho nasceu uma dor que não se apaga. A memória do atropelamento, do rasto na estrada que ele farejou centímetro a centímetro quando nos fomos embora, do irmão nas minhas mãos e da noite que passou sozinho. Quando está mais triste e ninguém vê, chora muito. O seu focinho cobriu-se de pêlos escuros. Não aceita o meu colo e arranha-me se eu o forçar. Nunca mais lhe ouvi o ronrom. O seu mio mudou, a sua postura... Decidimos trazer-lhe o um gatinho.


O Matias era doente e muito fraco. Mas falou logo com o Robinho.
"Olá. Queres brincar? Eu vim de Perre, a minha mãe perdeu-se de mim... Queres brincar?"
O Robin detestou o Matias. Deu-lhe desprezo. Mas o Matias não desistiu. Muitas foram as vezes em que se aproximou já de orelhas recolhidas, pronto para levar uma unhada na cabeça. O Matias precisava desesperadamente de alguém. Precisava de continuar a acreditar que a mãe não o tinha abandonado. O Robin rosnava, batia e afastava-se com a sua dor. Chegou a persegui-lo até o Matias se esconder em recantos muito estreitos, a salvo das suas garras. Um dia vi-o a falar com ele. Estava sentado em cima do muro. O muro tinha apenas 1 metro de altura mas do outro lado tinha 3 metros. Sabendo que o Matias ainda era um bebé e que nunca tinha saltado, o Robin aproveitou.
"Matias: Que estás a fazer aí?
Robin: Estou a apanhar sol. Consegues subir para aqui?"
Era a oportunidade de o Matias conquistar a sua confiança.
"Matias: Sim!
Robin: Quero ver."
Felizmente eu cheguei a tempo de dar uma ajuda ao Matias e de o colocar em cima do muro. Mas o Robin continuou a mostrar-lhe como era a vida de gato, levando-o para a beira da estrada para verem os carros passar.
"Matias: São rápidos! E grandes. Fazem tanto barulho....
Robin: Sim.
Matias: Podemos ir embora?
Robin: Porquê? Tens medo?
Matias: Não!"


Um dia o Matias apanhou o Robin a dormir e começou a lambê-lo. O Robin acordou mas não abriu os olhos. Recordou-se imediatamente de quando dormia com o irmão, das suas lutas felinas incríveis e de como se lavavam juntos. O Robin começou a chorar mas o Matias fez de conta que não viu. E foi assim que ficaram amigos.

30 de março de 2007

os protagonistas


As minhas histórias são inspiradíssimas em factos verídicos. A foto é da minha mãe.

29 de março de 2007

vira do minho



A barriga do Dunga era cor-de-rosa. No últimos dias eu faltei uma semana à faculdade e vimos muita televisão. Dava-lhe muitos beijinhos na barriga e chamava-lhe cancruzi. A minha mãe achava horrível mas o Dunga ria-se.
O Dunga e eu adorávamos dançar o vira de lenço na cabeça.
Na verdade, eu punha-lhe o lenço, dançava e cantava e ele só ficava sentado a olhar para mim e a rir-se muito. Acho que tinha um bocadinho de vergonha...

28 de março de 2007

dunga e os morangos

O Dunga era aquilo a que se chama um cão traiçoeiro. Ele mordia.
Encontrámo-lo a morrer no meio do lixo, com sarna e febre, cheio de fome e sede. Depois de muito amor, fisioterapia e medicação, o Dunga ficou bem mas não ficou bom. Ele apaixonou-se perdidamente por mim e eu por ele. Isso não o impediu de me fazer uma tatuagem no braço e duas nas pernas.
Dentro do Dunga havia um cancro que crescia e o devorava. O Dunga não sabia, nem nós. Mas às vezes ele sentia ódio do mundo e da vida e eu acho que era por causa do cancro. Atacava as pessoas na rua, mesmo com o açaime. Eu não passeava um cão, passeava um corta-relva descontrolado.
Felizmente nunca arranjei solução (o que fazer com o Dunga, já que ninguém o queria, para além de mim) para o nosso problema, o cancro tratou do resto. Assim, foi a morte que nos uniu e que nos separou.


O Dunga adorava morangos. Chegava-se aos vasos, metia um morango na boca e começava a puxar, a puxar, até que tuc, o arrancava e mastigava. Também adorava meter-se dentro da minha mala de ir para o Porto. Não suportava ficar sem mim. Dormíamos de mão dada, para que ele não subisse para a cama. Acordava sempre com ele a olhar para mim, calado e concentradíssimo nos meus olhos. Assim que os abria ele dava início ao seu espectáculo de cambalhotas em cima da cama.

Depois faço mais desenhos. Tenho demasiados na minha cabeça. O Dunga a dormir, o Dunga vestido de minhota, o Dunga a fugir-me na hora de entrar no carro... todos disparatados. Também tenho outros muito tristes.

coelha e pato que foram cães

Quando o Patim chegou ele era tão pequeno que cabia num bolso do casaco. Era uma bolinha de pêlo amarelo e piava muito a dizer "Colinho! Colinho! Colinho!" - Ele só sabia dizer o essencial. Como era bebé, fazia cocó e chichi a toda a hora e em qualquer lado. Pensámos em pôr-lhe uma fralda mas não havia para o tamanho dele.
A Gioconda tinha fama de comer animais bebés. Ela soube que dois dos novos franguinhos se chamavam Romeu e Julieta e como a Gi lê Shakespeare, decidiu dar um rumo àqueles dois. No entanto, em relação ao pato bebé, ela foi avisada de que não podia comê-lo. "Mas eu posso ensiná-lo a voar?", perguntou. - "Talvez, Gi, se te portares bem."


O Patim aprendeu a corrigir testes com a minha mãe. Ela punha-o em cima da mesa, enrolado num cobertor e ele tornou-se um óptimo aluno a matemática.
Mais tarde chegou a Joana e o Patim descobriu que ela era muito melhor que qualquer cobertor ou bolso de casaco. Aliás, a Joana era melhor que um colinho. Ela era branca, fofa e muito quente. Tinha olhos vermelhos e nunca se calava. "Sabes, eu como uma couve num instante. Cenoura, não gosto, prefiro maçã. Sabes, esta ração tem farelo de trigo..." - Em pouco tempo o Patim aprendeu a falar e a Joana convenceu-o de que assim que saíssem os dois da gaiola teriam de fazer-se cães.
"Patim - Como assim, cães?
Joana - Olha, corres muito muito e mordes!
Patim - E ladro?
Joana - Não não, é melhor correres calado..."


A Joana e o Patim tinham de viver com os frangos, que entretanto se transformaram em galinhas e galos. Era humilhante.
"Joana - Temos de voltar para dentro de casa. Anda!
Patim -Mas... mas...
Joana - Anda e cala-te que eles ouvem!
Patim - Mas eu - dizia, a correr atrás dela e já a entrar em casa - o que é que eu faço!?"
E os cães expulsavam-nos numa correria desenfreada. Foi numa dessas vezes que o Patim aprendeu a voar. A Gioconda cumpriu com a sua promessa. Ficou com algumas penas na boca mas ensinou-o a voar, sim.


E ele voava tão bem! Só as aterragens corriam mal. Houve uma vez em que me pediu para o observar. Lá estava ele em cima do muro.
"Empurra-me, se faz favor. Não tenho coragem de saltar..."
Empurrei-o e ele voou. E caiu de peito no chão. Rapidamente se levantou e tossiu para disfarçar. Esticou-se todo, nas pontas dos pés e disse: "Até não correu mal! Correu?"

26 de março de 2007

canarito 3


Quando escrevi o "poema" do Canarito, era só uma piada. Mas assim que me pus a pensar nele, comecei a ver o protagonista na gaiola com a mãe e imaginei as mentiras piedosas de uma mãe que não quer que o seu bebé sofra.

"Canarito na gaiola, para a mãe:
Quando eu for grande vou saber voar!
E a mãe cantou para não chorar.

Canarito na gaiola
pôs a Mamã a chorar:
Sabes Mãe, quando eu for águia
vou voar voar voar!"

Quando o Canarito aprendeu a falar, a mãe ensinou-o a cantar. Disse-lhe que assim seria feliz e faria outros felizes. Disse que as plantas o ouviriam e cresceriam verdes e cheias de vida. Ela queria distraí-lo mas nem sempre conseguia. Afinal, eles estavam numa janela e ela não podia impedi-lo de ver o mundo lá fora e pior, ver o céu. Assim que o Canarito aprendeu a dizer porquê, começaram os problemas.
"Por que estamos aqui?
Olha a gaivota lá fora!
Que comida é esta?
A gaivota foi para onde?
E eu, vou saber voar?
Quero ser uma águia!
Quero voar! Quero voar!
Mamã, dois anos passam depressa?
Abre a porta por favor!
Olha como bato as asas!
Olha só como eu sou rápido!
Vou ser águia, não vou?
Não me apetece comer.
Não me apetece cantar."

22 de março de 2007

ainda


Esqueci-me de dizer que ela adorava beijinhos e gozava com os cães e os gatos como ninguém. E fazia túneis inacreditavelmente compridos debaixo da terra.
Fotos da minha mãe e do meu irmão.

joaninha voa voa


"JB - A Duana?
Bruno - A Joana ficou doente e morreu...
JB - Para onde foi?
Bruno - Foi... para o céu.
JB - E voou?"

É claro que eu fiz o filme todo. A Joana sofreu muito antes de morrer. Chorou muito como eu nunca imaginei que um coelho pudesse chorar. Morreu ao pé da Binhas e felizmente ela fez-lhe festinhas antes de a coelha-mais-bem-humorada-e-tarada -sexual-que-eu-conheci fazer o seu voo para as estrelas.
Já no céu, a Joana reparou que havia poucos coelhos iguais a ela. Da mesma cor havia muitos. Com olhos vermelhos também. Mas poucos coelhos tinham vivido em casa, com um pato muito meigo, alguns cães para perseguir e muita alface dada pela mão de um menino de 3 anos. A Joana viu que muitos coelhos, quando olhavam lá para baixo, viam os seus corpos já sem pêlo, embalados em celofane, outros cobertos de rímel para os olhos e protector solar, e muitos muitos muitos, em fábricas, esfolados e abandonados para dar lugar a casacos, luvas e botas muito chiques. A Joana nem era dada a lamechices, mas quando perguntou a um coelhinho como se chamava e ele começou a chorar, abraçou-o muito e disse: "Queres vir voar comigo? Eu dou-te a mão."

9 de março de 2007

pesadelo

Quem diz que os animais não pensam ou é estúpido ou nunca teve um. O Peter não só pensa e percebe tudo o que lhe dizemos, como prevê o futuro. Hoje, quando cheguei a casa dos meus pais, ele veio a correr ter comigo, com ar de aflição e alívio ao mesmo tempo. Ele sabia exactamente o que eu ia encontrar quando entrasse em casa. Correu para o sofá, juntando-se à Gioconda, constrangida. Sinto um cheirinho a presente de Mimi (que deixa os outros dois muito atrapalhados, antecipando o ralhete. Mas os animais não pensam, isto é só reflexo condicionado.) Nada da bebé. "Mimi?" - Ouço uma patada na porta. E a profecia do Peter concretiza-se.
Os três cães passam a manhã em casa e o meu papel é de chegar antes do meu pai para que ele não morra de ataque cardíaco com as surpresas da Mimi. Todos os dias ela escolhe uma parte da casa para remodelar. Tira as coisas do lugar e depois corre livremente sentindo-se a melhor decãoradora da Meadela. O que ela queria mesmo era brincar mais com o Patim mas como às vezes o traz consigo pelo pescoço ou pela asa, é melhor ficar com os outros cães.
Hoje a Mimi decidiu remodelar a casa-de-banho pequena (que tem no máximo 3 metros quadrados). Pegou no sabonete e levou-o lá para fora e depois alguma coisa correu mal. Fechou-se sem querer, lá dentro. Não sei quanto tempo terá lá ficado às escuras (o Peter não me quis dizer) mas foi tempo suficiente para entrar em stress e poder relaxar os esfíncteres. E já que não podia fazer mais nada, estreou-se na patinagem-artística-às-escuras. Ora, quando eu a chamei e ela deu a tal patada na porta, ainda tinha os patins calçados e foi com eles que começou a saltar como uma mola, pela casa toda. Muito grata e feliz, veio de patins abraçar-me, enquanto eu gritava, ria e tentava não vomitar.
De seguida, o pesadelo. Limpar tudo em 15 minutos. Chão, paredes, sanita, bidé, balde de plástico, conteúdo do balde de plástico e as patas da patinadora. 10 pontos, Mimi.

6 de fevereiro de 2007

bonnie



Ela era mais que um cão. Pelo olhar, pela compreensão, pelas palavras que sabia e dizia à maneira dela. Ela é eterna. O seu corpo cansado e doente não foi suficiente e então ela voou para o céu, no dia em que morreu. Voltou a ser um cachorrinho e foi levada por uma fada. Eu sei.

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2 de fevereiro de 2007

Pato-cão em acção




Encontrei as provas de que estas histórias do Patim são verídicas.
Ele entrava em silêncio. Tornou-se especialista em não se fazer ouvir. Passeava pela casa à procura do seu amor, a Bonnie. Se lhe aparecesse um dos outros cães pela frente, ele já sabia como os enfrentar (uma vez voou escada acima atrás do Peter, outra vez pôs as duas patas em cima da Gioconda, bicou-lhe o cachaço e abriu as asas para sentir o vento da corrida). Quando via a Bonnie não havia quem o parasse. Subia para o sofá ou para o ninho dela, o importante era procriar. Depois de a violar, corria para a sua piscininha e refrescava-se vigorosamente!
As histórias são tantas que eu deveria tê-las escrito na altura em que presenciei estes acontecimentos. O Patim aprendeu a controlar o voo de maneira a perseguir cães, gatos e a coelha. As galinhas, simplesmente desprezava. Ele era o cão da casa, o super-cão, porque voava.
Agora tem uma namorada que põe ovos e eu desconfio que ele caiu em si quando a Bonnie morreu. Já não tem motivos para voar mas ainda conversa muito comigo quando me vê. Fala das boas recordações e depois despacha os galos com arrogância.

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27 de janeiro de 2007

Pato-cão

O Patim foi oferecido à minha mãe e assim que chegou lá a casa sentimos que ele viria a ser especial. Estava dentro da caixa de transportar os gatos quando eu falei com ele pela primeira vez e quando virei costas, desatou aos berros. Voltei para trás. Ficou atento a ouvir-me e mal eu voltei a sair de perto, a choradeira recomeçou. Durante esse fim de semana, se não quiséssemos ouvir a gritaria do bebé, tinhamos de andar com ele na mão. Ou num bolso do casaco. E foi assim que me apaixonei pelo meu pato-cão.
Depois dele, veio a Joana, uma coelha albina cheia de sentido de humor. Ela foi quem o acarinhou e convenceu de que ambos eram cães. Assim que foram para o quintal viver com as galinhas, decidiram que teriam de voltar para dentro de casa. O plano da Joana era perseguir os gatos e o do Patim era procriar com a Bonnie ( a boxer de 12 anos que já foi para o céu).
No início o Patim anunciava-se ao entrar em casa e estragava tudo, porque assim que abria o bico os cães apareciam e corriam-no porta fora. Com a ajuda da Joana, aprendeu rapidamente a entrar calado e nas pontinhas dos pés e, aí sim, tornou-se o líder da matilha.

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23 de janeiro de 2007

Pedigree e não sei quê...


Na casa dos meus pais há dois bebés novos: a Mimi e o Matias.
O Matias chegou primeiro, doente e magro. Com feridas no focinho e a espirrar ranho amarelo.
A Mimi veio depois, com os seus documentos anexados e o resisto, como lhe chamou o criador.
A Mimi custou centenas de euros. O Matias não custou nada, coitado.
A Mimi dá puns insuportavelmente mal-cheirosos, vai ao sotão deixar-nos presentes com assinatura autenticada e volta para baixo, correndo livremente para o quintal. O Matias sabe ir ao caixotinho desde que entrou em casa.
Quando os vejo à batatada no sofá, vejo uma cadela boxer e um gatinho rafeiro. A Mimi não mata o Matias porque não quer. São muito amigos. Vê-se bem que não sabem que são de espécies diferentes (ingenuidade de bebé) nem de onde vieram, muito menos quanto custaram. Pegam-se e fazem coisas horríveis um ao outro e eu... torço sempre pelo Matias. Ele não tem pedigree nem raça definida. Não é filho de nenhum super-campeão-das-exposições-onde-pessoas-exibem-animais e foi abandonado pela mãe. No entanto, liga o ronrom mal falamos com ele.
Gosto dos dois, mas torço pelo Matias porque torcerei sempre pelos rafeiros, que nos amam tanto como os especiais de corrida, mas não custam um tostão.