30 de abril de 2007
as escadas para o céu
Quem não conhece Biana, não conhece Portugale.
Ou, como diria o meu aluno Miguel (a começar uma anedota): "Era uma bez um home que butaba fedor por a boca."
Quem vem a Viana e não sobe ao zimbório de Santa Luzia (passando pela prova de fogo dos vendedores de Manéis e Marias), comete um grave erro. Eu não me canso de lá subir, desde pequena. A melhor parte de todas são as escadas tão estreitas que só cabe uma pessoa (e que não tenha um rabo muito maior do que o meu), de tal modo que existe um semáforo a controlar o trânsito.
Subimos, eu e a Di, na sua despedida de Viana e de Portugal. Tocámos o céu, tirámos fotos e enquanto ela mirava a paisagem melancolicamente, eu fiz o meu ritual da bronquite: tosse-tosse-cospe-cospe.
Voa minha irmã.
workaholic
- Sexta à noite: aula
- Sábado de manhã: aula
- Almoçar com a família
- 1 hora livre: corta-plastifica-corta-plastifica-corta
- Cilu chega: "Vamos?" - "Sim. Só mais um bocadinho." Corta-plastifica-corta-plastifica
- Lanche com a Di
- Casa: Corta-plastifica-corta-plastifica-ALTO! Esta imagem não tem qualidade!
- Pensar no que fazer com vinte folhas já impressas, cortadas, plastificadas e cortadas outra vez
- Tosse-tosse-cospe-cospe
- Novas ideias surgem da forretice/fobia de deitar papel fora
- Por toda a casa restos de papel autocolante que se colam aos sapatos. Bruno aborrecido
- Sapatilhas novas. Caixa linda da Nike. Futura capa de uns 8 livros
- Domingo à noite: Gato Fedorento. Zé Diogo de maçador de touros :)
- Na cama com os Gato: x-acto, agulha, tesoura, esponja
- Tosse-tosse-cospe-cospe
- Adormecer a pensar no que fazer
28 de abril de 2007
linha de montagem
Apesar da minha desarrumação, sou boa a trabalhar em série. Estou na impressão das páginas do livro ao mesmo tempo que plastifico e corto outras. Não me saem da cabeça as mães da maioria dos meus alunos que acordam às 4h da manhã para trabalhar em fábricas. Tanta diferença entre o meu "trabalho em série" e o delas... a começar pela ausência de um capataz aqui em casa.
27 de abril de 2007
devagarinho editora?
De volta da impressora na primeira edição do Histórias Pequeninas, imagino-me a realizar o meu sonho de trabalhar em casa: fazer coisas de que gosto para pessoas que valorizam o meu trabalho.
Cresci a ver o meu pai sofrer por não ter o emprego com que sonhou. Talvez essa marca tenha ficado gravada dentro de mim, com a promessa de que só faria na vida aquilo de que gostasse. Até quando fui secretária/recepcionista, tinha sempre o bloco e os marcadores comigo (o patrãozinho não levava a mal). Até mesmo aí os meninos se sentavam à minha volta, uns em cima dos outros, dois em cada banco, um em cada joelho meu, para desenharmos e pintarmos muito, deixando a contabilidade e a organização para segundo plano. Posso não ter sido grande secretária ("Estou? Boa tarde, daqui fala a Natacha. É que me enganei nas contas e roubei-lhe €5.50...") mas mesmo assim consegui contornar a arrogância dos alguns que me olharam de cima, provando que nunca se é só uma secretária.
Os meus alunos andam a ilustrar alguns dos artigos da D.U.D.A.. É impressionante vê-los retratar o sofrimento dos animais. Ainda tenho esperança na humanidade... Para a semana levo a D.U.D.H..
para os anti-côco
A Raquelita ensinou-me e eu adaptei.
Bolo de Chocolate Ai Ui!
Ingredientes:
- 200 g de chocolate em barra para culinária
- 200 g de margarina (a parte do "Ai!")
- 200 g de açúcar
- 150 g de farinha com fermento
- 4 ovos
- 1 colher (de café) de canela em pó (Ui! Só para quem gosta de canela!)
- 1 tampinha de essência de baunilha
- forma redonda untada com margarina e polvilhada com farinha
- forno quente (para lá de médio); este bolo coze em cerca de 20/30 minutos
- derreter a margarina com o chocolate
- acrescentar os restantes ingredientes um por um e bater sempre
- levar ao forno pré-aquecido
o lixo é relativo
Enquanto eu e o Bruno estivemos moribundos, houve dois montes que cresceram consideravelmente na nossa casa: o da louça suja na pia e o de cotão pelo chão. Aliás, o cotão teve direito a cordilheiras.
Entre as minhas tossidelas nocturnas e os golinhos de água de olhos fechados, ouvi gargalhadas de puro divertimento, não sei vindas de onde. Sei que o Anjinho tirou os sapatos e ajudou a Ovelha a ver-se livre do molho de chaves. Depois foi aproveitar antes que a manhã chegasse e eu ou o Bruno pegássemos no aspirador.
errata
O bolo leva 150g de côco ralado na massa e eu esqueci-me disso na receita!!!
Peço desculpinha :)*
26 de abril de 2007
bolo de chocolate e côco da binhas
Ingreditentes:
- 150 g de margarina
- 250 g de açúcar
- 3 colheres (de sopa) de cacau
- 4 ovos
- 8 colheres (de sopa) de leite
- raspa da casca de 1/2 limão
- 150 g de farinha com fermento
- 150 g de côco ralado
- tabuleiro untado com margarina e polvilhado com farinha
- forno bem quentinho
- côco ralado q.b.
- bater a margarina derretida com o açúcar
- acrescentar os restantes ingredientes e no fim bater muito bem com a batedeira eléctrica
- levar ao forno por cerca de 15 minutos, para que o bolo coza rapidamente e fique húmido
- virar para uma superfície coberta de côco ralado e polvilhar também o lado de cima
- cortar em quadradinhos
v.d. editora
25 de abril de 2007
liberdade
Obrigada a todos os que lutam de algum modo pela Liberdade.
Há 33 anos foi o dia mais feliz da vida dos meus pais. Saíram à rua com o resto das pessoas e sentiram uma coisa que acho que eu nunca virei a sentir.
Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
O artigo 18º fez-me chorar.
24 de abril de 2007
valores
Em relação aos livros, vou começá-los amanhã. Quero que sejam muito especiais e artesanais, já que os desenhos serão cópias.
Pensei muito no conteúdo dos textos. Nas minhas parvoíces e super-palavras-compostas-por-justaposição, no sofrimento e morte dos animais, no cancro da Boni e do Dunga e se se deve ler histórias dessas aos miúdos. Eu acho que sim. Não acho que as deva excluir dos livros, nem alterar os textos. Primeiro porque os livros também são para adultos. Segundo porque esses assuntos têm de ser abordados mais cedo ou mais tarde e terceiro porque uma criança pequenina não lê. Cabe aos adultos/narradores fazer a tradução. Explicar o que é o acessório picador da varinha mágica não é obrigação minha, por exemplo :)
Estive a pensar no que podem estas historinhas transmitir aos pequeninos. Que conceitos e valores. Acima de tudo gostava que transmitissem amor e tolerância.
Ao pensar no amor de um anjinho por um porta-chaves, os meus olhos enchem-se de lágrimas. A Ovelha é mesmo muito pesada mas mesmo assim, todas as noites o Anjinho carrega-a silenciosamente até à sua casa. Dormem juntos porque têm medo do escuro e porque ambos se sentem muito sós, às vezes. E todas as manhãs ela tem aparecido, com aquele monte de chaves agarrado a ela. E o Anjinho gosta dela assim: pesada e barulhenta.
serviço público
Em terra de criança, quem tem caramelo de morango é rei.
Jamais deixarás uma criança escolher o caramelo. As do fim da fila roer-se-ão de inveja porque não há de morango suficientes.
Jamais deixarás alguém trocar de sabor porque "num guósto de limom...". Eles gostam de todos, até se houver de cebola.
Jamais comerás caramelos de fruta diante de crianças sem lhes prometeres um a cada. Instalar-se-á o caos e elas soltarão gritos de guerra do género: "Aaaaaah gulosa! Não é justo!!!"
Jamais levarás os caramelos de fruta dentro de sacos de plástico. As crianças têm visão raio-x.
desculpa
O Anjinho disse à Ovelha: "Olha, queres ver o que encontrei? Vê-se tudo torto. Ora espreita."
Divertiram-se os dois, um em cada lente. Riram-se muito do facto de eu só ser pitosga de um olho. Às tantas o Anjinho decidiu voar com os óculos e ver a ovelha de lá de cima. "Espera, aposto que a vista daqui ainda é mais cómica! Ahahahahah!" E quando acenou à Ovelha, enquanto fazia caretas, os óculos caíram-lhe. Uma das hastes saltou e os dois ficaram em estado de choque.
"Ovelha - O que fazemos agora?
Anjinho - Eu... eu não sei!" - e começou a chorar.
Encontrei os óculos e a respectiva haste no carro, por baixo do porta-luvas. Logicamente já conduzi com eles mesmo assim, atravessados na cara. E trouxe-os para casa sem haste.
Hoje encontrei um bilhete junto a eles.
Não entendo como ele conseguiu escrever com um lápis que tem o dobro da sua altura. Fiz uma oração: Anjinho das coisas perdidas, não faz mal. Não chores mais.
23 de abril de 2007
2ª feira, o meu domingo
Para não faltar às aulas cheguei às escolas e disse que quem se portasse melhor seria o/a professor/a, com a promessa de que o que eles decidissem, eu faria (incluindo mandar para lá para fora quem estivesse a perturbar a aula). Adoraram a ideia e transformaram-se subitamente em anjos. E eu pude brincar com o Duarte e preencher sumários sem dar berros. No monte a professora foi a Marta e nos 13 o professor foi o Rafael. Os dois impuseram respeito e eu observei-os muito atentamente. A Marta pegou em colegas pelo braço para as sentar e o Rafael ameaçou um de o mandar para a rua. Disse várias vezes "pára calado" num tom muito sério e quando o Nuno pôs cola na borracha do Daniel, mandou-o mesmo embora. Eu cumpri com a palavra e 5 minutos depois fui falar com o criminoso e perguntei ao sôpessor se não queria chamá-lo de novo para a nossa beira.
Na rota das rodilhas, percorri 10 lojas regionais. No ranking, A Tenda ocupa o 1º lugar. Linda linda linda e as rodilhas são fora de série, de uma perfeição incrível. A dona da loja lembrava-se de mim (há 10 anos comprei lá um porco-mealheiro) e ficou muito desconfiada, com medo que alguma "das minhas amigas de Lisboa" as copiasse. Numa outra loja, outras rodilhas bem mais toscas mas não menos enternecedoras. A senhora não me deixou fotografar. Feitas com restos de um lençol de flanela (imagino) azul-bebé e branco, bordadas a roxo, vermelho e preto. Com as costuras bastante visíveis, mas tão lindas e macias.
Na maioria das lojas já não se vendem mas disseram-me para procurar a Dona Lurdes em Dem ou S. Lourenço e uma senhora amorosa e velhinha, de bigode enorme, muito tagarela, disse: "Lá pós lados de Paredes de Coura e de Caminha! A menina bá aonde a elas e beja nas feiras!"
O lenço do lado direito da foto custa €150. Como não tenho "tempo" para ele comprei uma toalha de mesa estampada tipo-imitação por €1.50.
Agora vou fazer gargarejos.
histórias pequeninas
Tenho um encomendado pela minha mãe que se agarrou aos da Lu como uma criança (quis chorar com o Patim a entrar em casa) e outro pelo Brunim. Quem sabe se não dá negócio? :)
22 de abril de 2007
sou de biana e bou ao pom
Ontem fui apanhada por tantos sintomas da gripe que pensei que ia ficar de cama. Felizmente hoje já estou melhor mas não me sinto muito bem. Fiz dois livros para a Lu oferecer a duas crianças e a ideia entusiasmou-me tanto que a cabecinha-de-cabeceira não pára.
Entretanto fui à procura das maravilhosas rodilhas/sogras daqui de Viana para mostrar à Rosa. A minha cidade enche-me o coração. A luz, o cheiro, as cores, o artesanato nas lojas regionais que são de se perder a cabeça. Quem não conhece, devia vir espreitar. Desde os lenços dos namorados até aos trajes de lavradeira, passando pela louça e os bordados bem-feitinhos em pegas, fosforeiras e toalhas de mãos. Tudo lindo. Tudo um orgulho tão grande para mim. Talvez por isso me desgoste tanto aquela outra tradição de que já me cansei de falar. Não quero ofender ninguém com a petição.
21 de abril de 2007
pelos animais
Pelos touros, pelos cavalos e pelos animais que exploramos e torturamos por puro divertimento.
Pelas pessoas que se sentem revoltadas e não sabem o que fazer.
Pela cidade de Viana, pelo nosso país e por um planeta pelo qual somos todos responsáveis.
Pela liberdade de expressão.
Pela democracia.
Pela cidadania.
Pela cultura e pela tradição.
Porque tínhamos de começar por algum lado.
Porque não interessa onde a tourada é feita.
Porque devemos manifestar-nos civilizada e pacificamente.
Porque é possível mudar para melhor.
Assine quem quiser.
Credo, pareço um político...
20 de abril de 2007
primavera
sopa de letras
A Tocas está a preparar-se para ir para a escola primária. O meu papel é de fazer com que ela passe o máximo de tempo possível com um lápis/caneta na mão sem se cansar ou ficar frustrada. O mais fácil é desenhar e pintar mas ela também tem de ler e escrever. Para além de a ensinar a reconhecer as letras, invento de tudo para a pôr a desenhar bolas que a ajudarão muito na caligrafia. Já cheguei ao ponto de ser o seu bebé, com fralda de papel que tinha de ser mudada. "Ora então desenha aí um cocó."
Anteontem fizemos sopa com legumes desenhados, pintados e muito bem escritos. Depois mexemos com uma pitada de sal e comemos um bocadinho.
19 de abril de 2007
ai a minha bida a andar para trás
As cortinas que vi ficam tão ou mais caras que as de esteira. Começo a pensar em como fugir às de pano sem gastar mais de 80 euros.
Enquanto a senhora da Somartis via os catálogos e procurava a solução mais barata para o meu problema de 220x190 cm, fui visitar a minha velha amiga. O prometido é devido.
cantos da casa
Apesar de eu ser uma das pessoas mais desarrumadas que conheço, às vezes consigo arrumar e decorar a casa. Ontem comprei ervas aromáticas e vasos com plantas-à-prova-de-Nat (mato tudo o que é de regar...). O nosso lar vai-se compondo e eu sonho com umas cortinas para o escritório/sala que é, afinal, o sítio onde passamos mais tempo (a lutar pelo computador). Ontem fui ver o preço das de esteira e descobri que me sairiam por 150 euros. Estou frustrada. Vou à Somartis.
18 de abril de 2007
1 desenho por dia
Já perdi a conta aos e-mails que enviei para editoras a pedir uma entrevista ou que espreitem o meu portfólio. E é por não ter recebido a tão desejada resposta que penso em fazer eu as coisas. Assim que sair das escolinhas vou ter tempo para fazer os meus próprios livros, até porque os sei fazer de capa dura :) E para chegar a Junho com muitas ilustrações, decidi lançar a mim mesma um desafio: um desenho por dia. Talvez assim, daqui a um ano, alguma editora me preste um pouco mais de atenção.
17 de abril de 2007
crida prebesa
Se a minha aluna Diana bordasse, aposto que faria lenços dos namorados. A foto é da Rosa Pomar.
Sei muito bem do que vou sentir mais falta quando deixar as escolas.
Quando eles dão uma corrida para se aproximarem de mim e dizerem olá, quando se agarram ao meu corpo como lapas, quando conversam comigo honestamente sabendo que me podem contar tudo e que eu nunca lhes bateria, quando me oferecem desenhos lindos e me fazem declarações de amor. E quando ficam a ver-me ir embora.
educar
Estou farta de ouvir a teoria que ponho em prática: as crianças precisam de regras, precisam de limites, precisam de firmeza, de rigor, precisam tanto de ouvir um não como de ouvir um sim. As crianças são manipuladoras e génios da chantagem emocional. Apesar disto, eu sofro nas mãos deles. Às vezes é mesmo muito muito difícil. Há dias em que eles só querem brincar porque precisam de brincar e há dias em que eu não quero brincar, quero dar aula sem ter de puxar pela cabeça para lhes dar a volta. Alguns vêm de casa muito mal-educados e o meu trabalho ainda fica mais dificultado. Apesar de às vezes eu falhar (e lamento tanto), há duas coisas que nunca esqueço: os elogios e os castigos.
Alguns dos meninos têm como máxima a ideia que eu também tive em relação aos professores: são uns idiotas. Há meninos que me fazem de burra, acham que eu não pesco as suas conspirações, que não percebo que só ficam calados enquanto eu estiver a olhar para eles e que assim que virar costas eles recomeçam a cochichar. Alguns gozam com a minha cara e pensam que não me vingo.
Ora, numa das aulas de pintura com giz no quadro, a Sabrina foi a última. Quando acabou, pedi-lhe que apagasse o quadro para irmos embora. Ela começou a apagar e assim que eu desviei os olhos, pôs-se a desenhar outra vez e a escrever, com toda a turma a ver. Quando vi, dei-lhe um par de berros e disse, para que todos tomassem como exemplo: "Tu nunca mais numa aula minha, voltas a ir ao quadro." - e ela riu-se. Eu continuei: "Não percebeste? Nunca mas nunca mais, até ao fim do ano, tu voltas a desenhar no quadro. Devias era estar a chorar." e então ela ficou pensativa e os outros gravaram aquilo nas suas memórias.
Depois disso, houve uma aula em que foram desenhar ao quadro e todos fizeram questão de me lembrar que a Sabrina não podia ir. Ela mesmo assim pediu-me muito para ir, até se humilhou mas eu não arredei pé. Remédio santo para todos. Há poucos dias voltámos ao quadro. E foi nesse dia que o meu coração se partiu em pedacinhos. Ela ficou tão caladinha, vermelha, com um nó na garganta. Rezou para que eu me esquecesse do eterno castigo e tentou redimir-se. Eu fingi que não vi. Mandei-os ao quadro um por um. Não houve tempo para irem todos mas a Sabrina soube, e eu também, porque é que ela não foi. Portou-se muito bem e tem melhorado imenso. E como recompensa, não vai voltar a ver os colegas irem ao quadro com aquele nó na garganta e aqueles olhos postos em mim, quando eu não estivesse a olhar para ela. Não há mais quadro para ninguém, por ela e por mim...
16 de abril de 2007
linkaram-me :)
eu e os bichos
Desengane-se quem pensa que eu gosto muito dos animais. Eu gosto é de cães e o resto é conversa. Não tenho culpa de ver num touro o meu Dunga ou a Boni. Eu não sou uma lamechinhas-dos-coitadinhos-dos-animais. Sou é uma tonta que não percebe que um touro é uma besta brava e um cão, é um cãozinho.
mais que mil palavras
15 de abril de 2007
anti-antibiótico
Tenho sempre faringites horríveis que curo com as coisas do costume: antibiótico, xarope, gargarejos de água e sal, rinomeres e sterimares nariz acima, chás com limão e mel, muita água e rebuçados. Normalmente tenho recaídas e a alergia à tinta não ajuda nada.
Ora o meu novo médico recomendou-me um "antibiótico natural" feito à base de própolis, que me deixou pasmada. É que as minhas faringites deixam-me com dores horríveis (desde a língua até à nuca, passando pelo céu-da-boca) e toneladas de expectoração. E eu não acreditei que um liquidozito azedo me fizesse o que nem um antibiótico faz. A verdade é que aquilo resulta, associado ao resto do tratamento e a um xarope expectorante natural. Se não tivesse curado de seguida já três das minhas tradicionais faringites, não estaria aqui a fazer publicidade gratuita. E um dia falarei da hidrocolonoscopia e de um outro tratamento inacreditável que fiz.
14 de abril de 2007
e pronto, tourada outra vez
Felizmente há associações incríveis que me fornecem toda a informação necessária, o que torna a minha abordagem à Câmara Municipal muito mais fácil, fundamentada e rigorosa. Longe de mim parecer lamechas a dizer que coitadinhos dos touros, gosto tanto deles e que queria mesmo era que os pró-tourada fossem todos para um super-mega-campo-de-concentração onde chovessem bandarilhas.
O que quero fazer, para além do abaixo-assinado lido, amarrotado e assinado a caneta Bic, é um email dirigido ao Presidente da Câmara, à semelhança dos que a PETA faz e que qualquer pessoa possa assinar e enviar apenas uma vez. Uma vez ouvi o Bill Gates dizer que quando se mostra às pessoas um determinado problema e a possível resolução para ele, elas se mobilizam. E se o Bill Gates disse, deve ser verdade. Não perco nada em fazer isto, até porque hoje é Sábado e estou a fingir que não tenho de ir ao supermercado.
Tentando comover um pouco quem se quiser juntar a mim, primeiro, a vergonha de ter Portugal na lista dos 9 (nove!) países com tradição de festa bárbara (e não brava); segundo, a vida secreta das vacas e factos fascinantes.
"The animals you eat are not those who devour others; you do not eat the carnivorous beasts, you take them as your pattern. You only hunger after sweet and gentle creatures who harm no one, which follow you, serve you, and are devoured by you as the reward of their service."
sem rodeios
Não me importa se há coisas mais graves a acontecer neste momento. Quando penso que algures na Terra acontece isto, só desejo que acabe. E sabendo que alguém me põe nas mãos a possibilidade de me manifestar, assinando e enviando uma petição já redigida e endereçada, a minha obrigação é fazer alguma coisa.
Não me importa se é noutro país, se não acontece no meu. Acontece no meu planeta e, num rodeio, a última coisa que eu queria ser era bovino.
Por favor assinem a petição.
E por falar no nosso país, vou fazer correr um abaixo-assinado para que, por altura das Festas da Agonia deixe de haver tourada em Viana do Castelo. Vou sim.
13 de abril de 2007
a minha descoberta
- Por ter a profissão por que lutei
- Por poder tocar as pessoas
- Por cortar madeira com o tico-tico e a colar cuidadosamente, fazendo grades para telas
- Por ter uma mão direita de que me orgulho tanto que esqueço o desgosto de ter celulite
- Por ter dinheiro suficiente para ir ao supermercado sem consultar o saldo antes
- Por comer muito chocolate e depois beber muita água
- Por viver rodeada de crianças
- Por viver rodeada de animais
- Por ter uma casa cheia de janelas
- Por ser tão amada que às vezes me sinto a maior do mundo
- Por ter tanto amor para dar
12 de abril de 2007
delim-delão-cabeça-de-cão
Os meus óculos de sol são fatela, da Mango, de plástico, enormes, tão enormes que um dia voaram com a nortada na praia, passeio fora e eu aos berros atrás deles e de uma das lentes que se soltou e foi às cambalhotas a ganhar a corrida. Mas gosto deles. Tapam-me os olhos, as bochechas e as sobrancelhas. São curvos e dão um cavalo de baloiço perfeito. Agora que penso nisso... Como é que eu não me lembrei antes?...
30 cm fazem toda a diferença
Uma mulher da aldeia, com 1.50 m de altura, uns 70 anos de idade, vestida de preto, lenço na cabeça, poucos dentes na boca e foice na mão, é só uma senhora viúva.
Uma mulher da aldeia, com 1.80 m de altura, uns 70 anos de idade, vestida de preto, lenço na cabeça, poucos dentes na boca e foice na mão, é a Morte.
o pato que assobia
Arroz de pato: um prato tão delicioso, suculento, quentinho vindo do forno. Nunca mais.
O Patim é arrogante, detesta que eu o agarre. Antigamente, quando se julgava cão, gostava de um colinho, catava-me o cabelo, dava-me beijos nas mãos, nas orelhas, nos olhos. Agora é o rei do quintal, defende os ovos da sua amada, dá ordens aos galos e faz frente aos três cães. Essa é a parte cómica do seu reinado. Baixa a cabeça, abre as penas do rabo em leque, corre rapidamente em direcção à Mimi e, quando ela olha para trás calmamente, ele endireita-se, desvia o olhar e dá uns passos noutro sentido, assobiando.
"Disseste alguma coisa Patim? - diz a Mimi
Não, eu... estava aqui a ver o milho no chão."
eu juguei futebole até à nuoite!
Voltei aos meus aluninhos. Não pareciam os mesmos. Calmos, concentrados, espevitados. Depois de horas e horas de rua, nas férias, voltaram revigorados, morenos, sossegados para a minha aula. "Eu andei de patins! ... Eu andei de bicicleta! ... Eu brinquei com a minha mãe!"
Sei que não vai durar muito tempo e é isso que me revolta. Quando eu tinha a idade deles, brincava até me cansar. Brincava muito com coisas pequenas, folhinhas, paus, com as minhas bonecas e desenhava tanto. Estas crianças, apanhadas pelo Enriquecimento Curricular, saem da escola ao fim do dia, não vêem o sol e não cheiram a terra, tanto quanto necessitam. E esse é um dos motivos por que me sinto menos mal em deixá-los, em Junho. Este sistema educativo não funciona. Transforma crianças em bichos encarcerados, com distúrbios do comportamento (que eu testemunhei e esta certeza ninguém ma tira), na tentativa de criar doutores e engenheiros para o nosso país.
Mais uma vez comparo esta educação com a que eu tive: Eu não tive inglês desde os 6 anos, eu não tive informática na escola, eu não tive aulas de teatro, música, pintura e educação física anexadas ao tão essencial e obrigatório Estudo do Meio, à Matemática, à Lingua Portuguesa e à História e Geografia de Portugal. E não é que até fui boa aluna? Talvez por o meu cérebro se ter alimentado também de brincadeiras, de imaginação, de desenhos-animados, de muita fantasia e imensa gargalhada.
Na Escola Primária dos meus sonhos, também há Civismo como disciplina, há Culinária, há noções básicas de Primeiros Socorros em brincadeiras e teatrinhos. Há (meus Deus) Educação Sexual, há muita Arte, há Jogos, há Jardinagem, há Código da Estrada mais na prática (vrrum vrrum eu sou um camião!) do que na teoria e há tempo de sobra para se brincar. E ao sair da escola, há luz do dia e uma tarde livre pela frente. Da escola dos meus sonhos, os doutores e engenheiros sairiam a saber cozinhar, com perspectivas de deixar as saias da mãe antes dos 30 anos.
Obrigada querida Lu, por me mostrares esta escola :)
11 de abril de 2007
cabecinha de cabeceira
Agradeço por todos os comentários tão queridos que me deixam, tenho-me animado bastante a fazer cada vez mais e mais desenhos e as ideias vêm em catadupa. É delicioso.
Hoje aconteceu uma coisa especial. Contei as história do anjinho das coisas perdidas à Tocas, dizendo-lhe que aconteceu tudo aqui mesmo, em casa. Os olhos dela encheram-se de luz, diante da narração e dos desenhos. Mostrou-me um sorriso tão sincero, tão feliz por entender tudo, quando lhe perguntei quem teria pegado na lâmina, apontando para o Anjinho. Adorou a parte de brincar às cozinhas com tampas de garrafas e fósforos, acariciou os desenhos com o dedinho e viajou comigo. Depois de ver aquela expressão e de saber que há também adultos que se comovem com estas coisas, penso como irão ser os meus livrinhos artesanais e se vão fazer brilhar os olhos de mais alguém. Eu queria muito...
helicóptero
Entretanto o Anjinho voava pela casa e ria-se muito. Ao longe, a Ovelha ria-se também e ele mostrava-lhe as acrobacias incríveis que aprendera. "Vê só! Vê agora, olha! Olha assim! Vvvvvrututututututu! Ahahaha! Super-rápido!"
Ao fim de 3 semanas e porque seria muito arriscado eu encontrar a lâmina num bolso, o Anjinho arrumou-a de novo na gaveta. E eu já nem fiquei admirada. Neste momento deve estar a vender um monte de brincos meus à ovelha, numa feira de artesanato imaginária.
10 de abril de 2007
anjinho das coisas perdidas
Uma vez perdi o meu porta-chaves que é uma ovelha e tem agarrado a ele todas as chaves de Viana do Castelo, o que o torna difícil de não ser visto. Procurei em todo o lado, todos os bolsos, todas as gavetas, todos os carros e casas, até que desisti. No meu desespero, decidi fazer uma simpatia que fazíamos na faculdade, de atar uma coisa ao pé de uma cadeira (sim, eu fiz isso e não, não é necessário comentar) e quando o objecto perdido aparecesse, cortar a coisa. Mas não resultou. Então fiz uma oração ao anjinho das coisas perdidas: "Anjinho das coisas perdidas, por favor faz com que as minhas chaves apareçam num sítio onde eu as possa ver..." Repeti-a até à exaustão, em voz baixa, em voz alta, em pensamento. E assim encontrei o porta-chaves, no bolso de um casaco que tinha revistado inúmeras vezes.
O anjinho andava pela casa sozinho, brincava com bolas de cotão e com tampas de garrafa até que encontrou a ovelha. "Queres brincar comigo?" - disse - e como quem cala, consente, levou a ovelha para um sítio secreto só dele, onde está também um casaco muito fofinho que eu perdi há 5 anos, no Porto. É nesse casaco que ele dorme.
Quando ouviu a minha oração, o anjinho disse à ovelha: "Acho que tens de ir embora. Onde achas que ela te encontra mais facilmente?"
Foi assim que se fez luz na minha cabeça e a lâmina do acessório picador da varinha-mágica não tardou a aparecer.
9 de abril de 2007
alucinando
Mas depois vinguei-me. Tive uma alucinação com balões ao som do André Sardet.
- Nataaaaacha...
- Epá morri e fui para o céu. Quem és tu?... Noddy?!
- Siiiiiiiiiiiiim Nataaaaaaaaaaaaaaacha...
- Então... quando um desenho-animado morre...?
- Sim, Nataaaaaacha...