18 de fevereiro de 2007

amor à Arte

Quando vejo crianças a chorar, não sou como a minha avó: "Oooh!... coitadinho! Que foi? Que foi, minha riqueza?". A maioria das vezes em que percebemos que uma criança está a chorar é quando faz birra (aquele choro no super-mercado que, a mim suscita um ódio visceral pelos pais que não sabem reagir e que criam crianças mal-criadas). Fico tocada sim, quando eles choram por mágoa, por tristeza, porque o choro não é o mesmo. E é esse choro escondido que me corta o coração às fatias.
O David é um dos 20, muito esperto, pequenino e encasacado, com um sorriso de orelha a orelha. É bom aluno e sabe que o é. Muito exigente.
Quando deixam as coisas a secar (máscaras, pinturas, etc.), normalmente sabem reconhecer os seus trabalhos na aula seguinte. Mas às vezes confundem-nos.
Quando um dos 20 chora porque está mesmo triste, ficam em pânico e vem logo alguém a correr dizer-me, para que o socorro seja rápido. Eles distinguem melhor do que eu, a birra da mágoa.

"Professora! O David está a chorar."
Lá vou eu. E lá está ele, roxo.
"Ó professora, eu não sei da minha máscaraaaaa..."
Eu, igual à minha avó (mas sem lhe chamar riqueza), a fazer festas na cara e combatendo o pânico-de-perdi-o-meu-trabalho:
"Tem calma David, que a máscara está aí de certeza. Ninguém iria roubá-la. Alguém pegou por engano."
De repente alguém a encontra.
"Toma David, está aqui."
"É esta."

...

Momentos depois, já recuperados do choque e prontos para começar a trabalhar, vemos o David à cabeceira da mesa, já calmo e concentrado mas ainda a soluçar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oooooh! Eu era como o David!.... Fazia com cada choradeira!... ;)

Acho o máximo que tenhas chamado a este post "Amor à Arte". Podia ter como subtítulo: "o Amor de uma Professora pelos seus Alunos".

Beijinho,

Ana Montalvão