11 de maio de 2007

bater


Hoje o Miguel aproximou-se de mim com os olhos no chão e disse: "Quero dizer uma coisa... o meu pai disse para eu dizer que peço desculpa... eu nunca mais volto a fazer... eu nunca mais me porto mal...".
O meu coração doeu e a minha voz tremeu ao dizer-lhe "está bem". Ontem o Miguel foi muito malcriado e faltou-me ao respeito. Não é necessário estar aqui a relatar o seu comportamento. Basta dizer que senti pela primeira vez que se ele não estivesse a 5 metros de mim talvez a minha mão tivesse ganho vida própria e tivesse abanado o seu corpinho violentamente. Associado ao mau comportamento dos outros, isto foi razão suficiente para hoje eu não ter tido vontade de lá voltar.
A notícia correu a escola, deu em castigos e acabou com uma aula sossegada, hoje.

Sinto uma revolta muito grande. Esta minha turma tem 13 alunos, todos "normais". É a turma de crianças mais malcriadas que alguma vez vi. Contra mim tenho vários factores:
  1. Eu não obrigo ninguém a participar nas aulas, acredito que a arte e a expressão plástica nesta idade se devem fazer por gosto;
  2. Eu não imponho respeito, conquisto-o;
  3. Eu não meto medo aos meus alunos, isso faria de mim uma má professora;
  4. Eu promovo a confiança e a amizade, não vejo nisso falta de respeito;
  5. Eu não bato, sou totalmente contra o uso de violência física ou psicológica.
  6. Os pais destas crianças batem por tudo e por nada, acho que nunca leram nada sobre psicologia.
Não é no Miguel que eu devo bater, nem é contra ele que me devo insurgir. Culpo inteiramente os encarregados de educação. Não tenho filhos, sou "só" madrasta. Mas sei por experiência própria que bater não é solução e que é possível educar bem sem fazer do medo uma ferramenta indispensável.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vida de professor não é fácil, sobretudo quando o modelo de psicologia educacional que adoptamos é diametralmente oposto ao seguido pelos pais. Ser pai também não é fácil, sobretudo quando se espera que a escola resolva os problemas de comportamento que em casa não são resolvidos. Logo, são os professores que têm de lidar com esta terra-de-ninguém. Se, pelo menos, pais e professores - todos os professores - , falassem a mesma linguagem...

Mudando de assunto, para animar: o #10 já chegou ao destino. Comentário da M.(5 anos), depois de percorrer com os olhos as páginas do livro e antes mesmo de ouvir contar as histórias: Diz à Natacha que gostei muito. É sobre a amizade, não é?

Sandra Silva, Viana do Castelo

Anónimo disse...

O único ponto que está contra ti, querida Natacha, é o 6º.
Os outros cinco só podem estar a favor :)