3 de março de 2015

um ano e meio



Um ano e meio de Diogo cá fora. Há dias sentia o coraçãozinho dele a bater acelerado e dizia-lhe que aquele coração já bate sem parar há mais de dois anos.
Não sei para onde foram as horas e os dias. Sei que todas as certezas que tinha antes de ter um filho cairam por terra, e chego a ter vergonha das coisas que já pensei e disse sobre bebés. A única certeza que tenho hoje é que cada casal deve fazer aquilo que funciona para si e para o seu bebé, o que os faz feliz. Tudo o resto que dizem os profissionais de saúde, os livros, os sites, os palpites bem intencionados de quem não faz parte deste trio, se não nos soa a certo, é pura e simplesmente ignorado.

Se pudesse voltar atrás no tempo e dar um conselho a mim própria antes de sequer engravidar seria, sem dúvida, que ouvisse o meu instinto sem hesitar. Ter-me-ia poupado muita angústia.

Temos um filho à espera de projectar e moldar nele todos os nossos ideais, e quando nos damos conta ele está é a agir como nós, a gesticular como nós, a falar como nós. Só que tudo é exagerado com requinte de caricatura, incluindo os nossos defeitos e tudo o que achámos omitir.

Um ano e meio e percebe tudo o que dizemos, em português e holandês. Estamos constantemente sob escuta. Adora animais, sobretudo cães. Gosta de pessoas em geral e do pai em particular, com quem joga às escondidas e às perseguições e com quem dá longos passeios pela casa de mão dada. Aspira o chão e pára para dar beijos no aspirador. Dá beijos em tudo, diz olá a objectos e pessoas e se o quisermos fazer feliz é só levá-lo à estação, ver passar uns quantos comboios e depois entrar num.
Ainda mama e desde que começou o martírio dos dentes acorda vezes sem conta durante a noite. Adora ajudar a fazer a comida, gosta de comer o que cozinhou tépido (não há comida de que não goste) e de sopa fria. Anda há mais de um mês mas ainda não corre. Faz-se entender muito bem com a sua linguagem gestual acompanhada de bás, pás, cãs e umas quantas palavras com mais de uma sílaba.
Nunca pára quieto.

Quanto a mim, nunca cheguei a sentir aquele amor maior e arrebatador, talvez porque já me sentia capaz de o amar assim, já o amava quando saiu de dentro de mim naquela piscina. O que me surpreende é onde esse amor me leva. Transforma-me e revolve-me as entranhas, abala até o que eu achava ser inabalável em mim. Os limites da paciência, da frustração e do cansaço esticam-se, rompem-se e redefinem-se todos os dias. Tantas coisas perderam a importância e tantas ficaram em pausa, para que eu seja hoje uma mãe a tempo inteiro e ilustradora nos minutos vagos.

Há dias o sol brilhou e entrou quente pelas janelas da sala. Eu imaginei-me imediatamente a tomar um café e ler um livro sentada no sofá, mas o que aqueles raios de sol revelaram é que não há superfície desta casa que não tenha pó, ou dedadas de comida, ou ambos. Dei comigo a praguejar enquanto limpava freneticamente o que podia e a rezar a todos os santinhos para que já que sou uma incompetente duma dona de casa, ao menos que seja boa mãe.



2 comentários:

Menina Rabina disse...

Olá Natacha,

Não és uma dona de casa incompetente... as tuas prioridades é que são outras e muito mais importantes! Aproveita cada bocadinho, porque passa demasiado depressa! (E olha que eu tenho 3 criancinhas, por isso, sei como passa depressa) ;)

Beijinhos de Lisboa, cheios de sol e calor :)
Alexandra

Ana Oliveira disse...

Deixa lá, eu só tenho 2 gatos e também tenho a casa cheia de pó... e pelos! É normal :)