14 de março de 2015

chamam-lhes buskers

Ali num dos túneis junto ao rio Tamisa, se não é no da oxo tower é outro ao pé de Blackfriars, há um violinista talentoso mas muito zangado com a vida, que assim que alguém pára para o ouvir, pára de tocar. A primeira vez que parei, tão feliz de expor meu rico filho a tão belo som, o homem parou e olhou para nós. Retomou. Eu, inocente e um pouco parva, nem sequer percebi do que se tratava. Fui ao porta moedas e deparo-me com uma nota de 20 libras e umas moedinhas pretas. Virei costas para ir ao café da esquina e trocar a nota, e eis que o senhor pára de tocar outra vez e começa a praguejar aos berros na língua dele. Fascinante como não é preciso ser poliglota para perceber quando nos estão a chamar puta. Se não tivesse um filho pequeno e não tivesse imaginado o homem enlouquecido a bater-nos com o violino, ter-lhe-ia não só dado aquela moeda de uma libra (que dei), e agradecido (que agradeci), mas também perguntado se aqueles gritos eram comigo (e desejado que dias melhores lhe acontecessem). Quanta amargura, quanta raiva.
Isto para dizer que aqui no nosso bairro há um rapaz a tocar guitarra e a cantar à porta do supermercado que é talento em estado puro. Sempre que o vejo estaciono o carrinho a dois metros dele e o Diogo fica ali na primeira fila, hipnotizado. Tão humilde quanto tímido. Desfaz-se em sorrisos e já nos reconhece. Canta versões mas tem a própria banda com quem toca e canta músicas originais. Só desejo que o sucesso lhe chegue depressa, porque inocente e um pouco parva que sou, acredito com muita força que a sorte se faz com as nossas próprias mãos, e quem carrega boas energias e põe amor naquilo que faz (por mais adversas que sejam as condições), merece viver disso e prosperar em todas as direcções.

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