6 de dezembro de 2012

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Fui a uma entrevista ontem, numa casa de chás. Eu e mais três raparigas, entrevistadas em grupo. Não sei quantas perguntas matreiras depois, senti-me safa e exclui mentalmente duas das minhas "adversárias". Foi muito constrangedor ver outra portuguesa acabadinha de chegar a Londres a não conseguir expressar-se, não perceber o sotaque do rapaz que nos entrevistou, ficar confusa e desesperançada. Foi excluida e eu só queria poder ter-lhe dito uma palavrinha de apoio. A outra era húngara. Lá foi ela de vela. Lost in translation como eu há quase dois anos. Há um ano e dez meses. Felizmente em Londres há emprego para quem mal fala inglês, desde que queira trabalhar e nunca deixe de sorrir. E a estaleca que um emprego desses nos dá, meu deus que estaleca. A meio da entrevista o rapaz disse que se passássemos à fase seguinte teríamos que ir para a banquinha deles no mercado em Camden. E que só seríamos bem sucedidas se fizéssemos 150 libras até ao final do dia. Em chás? pensei eu - 150 libras em pacotes de chás?
Depois de uma breve introdução ao produto lá fui eu para a banquinha vender os 40 diferentes chás que eles vendem em embalagens de 100g por 5.20 libras. Parecia impossível mas fiz mais de 160 libras a fazer-me de entendida em chás e a meter conversa com toda a alma viva que me passou pela frente. Tudo é tão relativo quando nos apercebemos que nada é mais importante do que ser feliz e saudável. Nada me preocupa, nada me chateia, digo a mim mesma. Nada me abala enquanto me sentir tão bem. O frio que faz nesta cidade chegou-me aos joelhos e congelou-mos ao fim de seis horas em pé.
Passado o "stall trial", fui hoje para uma das 3 lojas que eles têm no norte de Londres. Isso sim foi um desafio. Como é que se desce do cargo de "trainer" para principiante? Despi-me de tudo o que sei, fingi que não sofri uma lavagem cerebral em higiene e segurança no trabalho nos últimos vinte meses, tentei não julgar, não discordar e segurei a vontade de corrigir as pessoas que me estavam a treinar, sobretudo uma menina pouco paciente e muito mandona que me orientou durante o dia. Saí de uma empresa com mais de 120 lojas e entrei numa com 3. Tentei concentrar-me em tudo o que era novo e tudo em que eu sou, de facto, uma principiante. Tentei não limpar e desinfectar tudo o que sei que lhes garantiria muito maus resultados numa auditoria.
Entretanto veio-me o período, vim para casa, consumi uma dose incalculável de chocolate, ouvi músicas lamechas e chorei de saudades da minha antiga equipa. Digo a mim mesma por que razão saí do eat, por que me candidatei a um part-time, por que motivos é que eu voo livre de medos. Eu já vivi consumida pelo medo. Parei de conjugar o meu futuro no futuro. Hoje digo a mim própria e aos outros que sou ilustradora e que estou a escrever e ilustrar um livro. Esse é o meu outro part-time. Por enquanto.

9 comentários:

Ana Rita disse...

Tu és uma vencendora, lembra-te sempre disso:)

Anónimo disse...

Olá, estou a torcer para que tudo dê certo.Para quando trabalhinhos seus?O Natal está ai....Beijinhos,
Paula, Mãe do Martim

Anónimo disse...

Adoro a sua coragem e modo de enfrentar a vida.

Carla Morais disse...

Ah, grande Natacha! Sacudir o pó das asas. Força!!

fados do lar disse...

Boa sorte nesta nova fase Natacha!
Pensar como tu pensas é meio caminho para a concretização e a vitória. O teu talento e forma de ser levar-te-ão longe.

Tudo de bom!

Sofia disse...

Nat, és a maior! És uma vencedora!
E embora aparentemente ainda não saibas, tu és capaz de recomeços infinitos.
As micro-depressões (pré)-menstruais são horrorosas mas só duram 2 dias ;)
um grande beijo

pontos disse...

Fico tão contente de saber que a ilustradora está de volta, os teus bonequinhos são maravilhosos! ^-^

Pedro M. disse...

Era um crime se deixasses as bonecadas adormecidas. Ainda bem que há tomatada (feminina) para conciliar as coisas ;)

sara aires disse...

Go girl! :D