Nunca tinha ouvido (lido) o termo. A razão cínica.
O meu pai trouxe-me este artigo do JN, recortadinho com amor. Li-o e mais uma vez tenho vontade de abraçar o Manuel António Pina. Porque ele põe em palavras o que eu não consigo. E sinto-me agradecida por isso. A razão cínica, diz ele. E é mesmo isso. Até eu que não como animais (não nasci vegetariana) entendo o lado dos que comem.
"Adoro vê-los agonizar"
Os jornais divulgaram há tempos uns versos de um indivíduo condenado nos EUA pelo assassínio de um mendigo: "Vê-os morrer./ Adoro vê-los agonizar: vomitam, gritam, choram". Adorno explica a barbárie como persistência, no ser humano, das formas mais primitivas de agressividade, defendendo que "a questão mais urgente da educação contemporânea é a desbarbarização da humanidade". Neste sentido, o não licenciamento de touradas por (para já) quatro autarquias - Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra - é um acto fundamentalmente educativo. Contra ele, esgotado o argumentário da "tradição", a razão cínica - a razão cínica consegue justificar tudo, de Auschwitz ao terrorismo - fixa-se agora na circunstância de aqueles que condenam as touradas comerem carne. De facto, a Biologia e a História fizeram de nós animais comedores de cadáveres. Há, no entanto, uma diferença (uma diferença moral) entre comer carne e fazer - "pecado contra a natureza", diria Pound - da agonia e morte de um animal um espectáculo, tirando sórdido prazer de o ver espetar, martirizar, vomitar sangue. Nenhum outro animal o faz.
(Por Manuel António Pina. In “Jornal de Notícias”, 4 de Maio de 2009)
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4 comentários:
sim... os "animais" carnívoros matam a sua presa de forma mais rapida...
também me faz muita confusao como as pessoas gostam de ver esse tipo de espectáculo...
Hoje no Diário da Manhã, falaram das touradas e de cada vez terem mais procura, principalmente pelo crescente interesse da população jovem!
Quando interrogaram acerca das manifestações contra touradas que têm lugar frente às touradas nos dias de "espectáculo", o Sr. que estava a ser entrevistado (que não recordo o nome, porque apanhei a reportagem a meio),disse que isso apenas acontecia por parte de pessoas que gostavam de "aparecer"... Que se manifestavam não tanto pelos animais mas mais porque essa era uma forma de manifestação onde tinham a oportunidade de aparecer e serem notados como individuos!
Escusado será dizer que até tive pena do Sr., por tão evidente estupidez que demonstrava!
Além dos seres humanos e dos animais existe uma treceira especíe chamada MONSTROS.Bjs. Teresa- Almada
eu assino por baixo
=)
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