Um ano e meio de Diogo cá fora. Há dias sentia o coraçãozinho dele a bater acelerado e dizia-lhe que aquele coração já bate sem parar há mais de dois anos.
Não sei para onde foram as horas e os dias. Sei que todas as certezas que tinha antes de ter um filho cairam por terra, e chego a ter vergonha das coisas que já pensei e disse sobre bebés. A única certeza que tenho hoje é que cada casal deve fazer aquilo que funciona para si e para o seu bebé, o que os faz feliz. Tudo o resto que dizem os profissionais de saúde, os livros, os sites, os palpites bem intencionados de quem não faz parte deste trio, se não nos soa a certo, é pura e simplesmente ignorado.
Se pudesse voltar atrás no tempo e dar um conselho a mim própria antes de sequer engravidar seria, sem dúvida, que ouvisse o meu instinto sem hesitar. Ter-me-ia poupado muita angústia.
Temos um filho à espera de projectar e moldar nele todos os nossos ideais, e quando nos damos conta ele está é a agir como nós, a gesticular como nós, a falar como nós. Só que tudo é exagerado com requinte de caricatura, incluindo os nossos defeitos e tudo o que achámos omitir.
Um ano e meio e percebe tudo o que dizemos, em português e holandês. Estamos constantemente sob escuta. Adora animais, sobretudo cães. Gosta de pessoas em geral e do pai em particular, com quem joga às escondidas e às perseguições e com quem dá longos passeios pela casa de mão dada. Aspira o chão e pára para dar beijos no aspirador. Dá beijos em tudo, diz olá a objectos e pessoas e se o quisermos fazer feliz é só levá-lo à estação, ver passar uns quantos comboios e depois entrar num.
Ainda mama e desde que começou o martírio dos dentes acorda vezes sem conta durante a noite. Adora ajudar a fazer a comida, gosta de comer o que cozinhou tépido (não há comida de que não goste) e de sopa fria. Anda há mais de um mês mas ainda não corre. Faz-se entender muito bem com a sua linguagem gestual acompanhada de bás, pás, cãs e umas quantas palavras com mais de uma sílaba.
Nunca pára quieto.
Quanto a mim, nunca cheguei a sentir aquele amor maior e arrebatador, talvez porque já me sentia capaz de o amar assim, já o amava quando saiu de dentro de mim naquela piscina. O que me surpreende é onde esse amor me leva. Transforma-me e revolve-me as entranhas, abala até o que eu achava ser inabalável em mim. Os limites da paciência, da frustração e do cansaço esticam-se, rompem-se e redefinem-se todos os dias. Tantas coisas perderam a importância e tantas ficaram em pausa, para que eu seja hoje uma mãe a tempo inteiro e ilustradora nos minutos vagos.
Há dias o sol brilhou e entrou quente pelas janelas da sala. Eu imaginei-me imediatamente a tomar um café e ler um livro sentada no sofá, mas o que aqueles raios de sol revelaram é que não há superfície desta casa que não tenha pó, ou dedadas de comida, ou ambos. Dei comigo a praguejar enquanto limpava freneticamente o que podia e a rezar a todos os santinhos para que já que sou uma incompetente duma dona de casa, ao menos que seja boa mãe.
Olá Natacha,
ResponderEliminarNão és uma dona de casa incompetente... as tuas prioridades é que são outras e muito mais importantes! Aproveita cada bocadinho, porque passa demasiado depressa! (E olha que eu tenho 3 criancinhas, por isso, sei como passa depressa) ;)
Beijinhos de Lisboa, cheios de sol e calor :)
Alexandra
Deixa lá, eu só tenho 2 gatos e também tenho a casa cheia de pó... e pelos! É normal :)
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